O melhor carro em cada uma das décadas – 50, 60 e 70

Nesse texto vou opinar sobre o melhor carro de cada uma das décadas de 50, 60 e 70. Gostaria de deixar claro novamente que essa é uma opinião muito pessoal, baseada na minha paixão pelos carros e sei que você leitor poderá ter uma opinião diferente da minha. Por isso, deixe nos comentários quais foram os melhores carros vendidos aqui nessas décadas. Até poderíamos falar dos melhores mundiais, mas nesse caso a polêmica seria infinita, então vou me restringir aos carros vendidos no mercado nacional que, de alguma forma, todos vivemos, seja na infância ou adolescência. Assim, fica mais fácil pra todos fazermos nossas eleições.

Anos 50

Para mim, o mais difícil, motivado pela pouca idade que tinha na época. Na realidade, comecei a ter contato e critério de julgamento dos carros dos anos 50 em meados dos anos 60, quando comecei a entender do assunto. Nessa época, via muito pelas ruas e ouvia comentários positivos do Citroën Traction Avant 11 L (foto de abertura). Um carro fantástico! Em que pese o fato dele ter sido originariamente lançado na França em 1934, sua concepção mecânica inovava tudo o que existia na época em termos de automóvel: a tração era dianteira; o motor de quatro cilindros estava colocado atrás do eixo dianteiro, tornando sua distribuição de peso um avanço técnico para a época; as suspensões empregavam barras de torção ao invés do tradicional feixe de molas da época, sendo que a dianteira era independente por braços superpostos e a traseira, por eixo de torção; a alavanca de mudança de marchas era posicionada no centro do painel e o câmbio era localizado à frente do motor; a carroceria inaugurava a construção monobloco, que se usa até hoje, ao invés do chassi com longarina dos carros da época; direção do tipo pinhão e cremalheira, destoando da maioria, que usava setor e sem-fim; e freios com comando hidráulico a tambor nas quatro rodas.

O Citroën Traction Avant era um carro tão inusitado que foi fabricado até 1957 e, ainda nessa época, suas inovações tecnológicas não haviam sido alcançadas pelos concorrentes. Vale lembrar que, nos últimos anos de sua produção, ele recebeu a suspensão traseira hidropneumática, sistema que viria a revolucionar a construção de suspensões com o Citroën DS19, lançado em 1955.

Aliás, o DS19 foi uma evolução do Traction Avant. Lembro-me que quando era garoto, ouvia os mais velhos falarem admirados que quem conseguisse capotar um Citroën Traction Avant, receberia um prêmio. Sem entender muito bem, pensava comigo: “Que prêmio será esse? Por que é que esse carro não capota?”. Na realidade, hoje compreendo que o tal prêmio era apenas um jeito de se falar e o carro era difícil de capotar por possuir um centro de gravidade baixo, uma bitola farta e uma estrutura monobloco que lhe dava rigidez.

Anos 60

Nesse caso, o meu eleito como melhor carro da década era produzido aqui mesmo no Brasil: O FNM 2000 JK, que depois de 1964 passou a se chamar FNM 2000. A minha escolha pelo JK, assim como o Citroën Traction Avant, deu-se, única e exclusivamente, por questões técnicas. E, olha que os anos 60 foram ricos em lançamentos de automóveis para o mercado nacional: Tivemos, entre outros, o DKW-Vemag Fissore, Ford Galaxie e Corcel, Aero-Willys, Itamaraty, Chevrolet Opala, Simca Chambord, VW 1600 4 portas (“Zé do Caixão”) e por aí vai.

Mas o JK tinha atributos técnicos que superava de longe seus concorrentes. Na realidade, o JK era o Alfa Romeo 2000 Berlina de 1958 (berlina é sedã em italiano), que era produzido sob licença pela FNM (Fábrica Nacional de Motores). Assim, possuía todos os atributos técnicos de um Alfa Romeo: suspensão por molas helicoidais nas quatro rodas (independente na frente, eixo rígido atrás), grandes freios a tambor de alumínio aletado, câmbio de cinco marchas, motor 2.0 de quatro cilindros com duplo comando de válvulas no cabeçote e câmaras de combustão hemisféricas que rendia, na época, 95 cv de potência, um resultado muito bom, principalmente se considerarmos a baixa octanagem de nossa gasolina naquela época. Um carro à frente do seu tempo. A superioridade técnica do JK permitiu que ele vencesse muitas corridas de velocidade e resistência daquele período.

Anos 70

Uma época em que as novidades de nossa indústria automobilística continuavam a florescer e nosso mercado se satisfazia com tantas, e tecnologicamente avançadas, novidades dos anos 70. Podemos destacar como grandes lançamentos dessa época: Os Dodge V8 (principalmente o Charger R/T), os Chevrolet Opala SS, VW SP2 e Brasília, Chevrolet Chevette, Fiat 147, Ford Maverick e Corcel II, Alfa Romeo 2300, entre outros.

Mas o modelo que agradou em cheio a quem gostava de carro e tecnologia, foi o VW Passat. O carro não tinha a força bruta de um Dojão ou Maverick V8, tampouco a ligeireza de um Opala SS6, mas em contrapartida possuía a vivacidade que a sua receita construtiva permitia. O motor 1.5 de 65 cv (potência líquida), casava muito bem com o câmbio bem escalonado de 4 marchas.

A suspensão dianteira, McPherson, tinha em sua geometria de direção o tal de raio de rolagem negativo, fato que proporcionava ao Passat uma espécie de autocorreção se, por exemplo, um pneu dianteiro estourasse e, principalmente, tornou possível o duplo-circuito hidráulico de freio em diagonal, de modo que, em caso de falha num dos circuitos, contava-se com freio dianteiro. Como sempre, a superioridade técnica do Passat era praticamente visível nas pistas de corrida: em sua categoria, até 1.600 cm³, era o mais rápido entre os carros nacionais.

Mas, em especial, o Passat possuía uma versão batizada de TS (Touring Sport) que, em vez do motor 1.5 de 65 cv, utilizava uma versão 1.6 desse mesmo motor, só que com 80 cv, que fazia do TS um dos carros mais rápidos do Brasil, só perdendo para os grandões V8 e 6 cilindros. Mas existiu um carro que, confesso, me deixou em dúvida nessa escolha: O Alfa Romeo 2300 ti4. Seus números de performance eram bem semelhantes ao do Passat TS: em uma arrancada na rua, até os 100 km/h, os dois iam praticamente lado a lado. Além do motor 2.3 de duplo comando de válvulas no cabeçote e câmaras de combustão hemisféricas, o ti4 era alimentado por dois carburadores horizontais duplos, que na prática funcionava como se fossem quatro carburadores individuais e, claro, freios a disco nas quatro rodas e um refino de acabamento digno de um Alfa Romeo. Na prática, o Passat era mais robusto e o Alfa ti4 mais refinado. Mas, como minha vida foi sempre mais próxima ao Passat, inclusive nas competições, escolhi o VW como carro da década de 70, até mesmo porque ele iniciou a mudança da história da Volkswagen no Brasil.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.