O flagra do Corcel II: Tocaia, chiqueiro e esconderijo no pé de limão
Uma outra boa história do fotógrafo Cláudio Larangeira, o Laranja, dentre as dezenas da qual participou, está no primeiro flagra do que seria Corcel II em meados de 1976. O saudoso repórter investigativo Nehemias Vassão tinha informações de que um comboio dos tais novos carros da Ford rodavam pela cercanias de Campo Grande, no Mato Grosso. Depois de muito procurarem, a dupla Vassão e Laranja descobriu o roteiro de testes da Ford pelo Mato Grosso. Sabiam que os carros só rodavam de madrugada para que não fossem vistos e flagrados.
Os dois, então, armaram uma tocaia na pequena cidade de Rochedinho. Sabiam a hora e o roteiro que os carros de testes fariam. Como a noite todo o gato é pardo, Vassão foi para a entrada do vilarejo com um pequeno rádio de comunicação, para avisar o Laranja quando os carros passassem por ele. Nosso intrépido fotógrafo então se prepararia para mais um grande flagra automotivo. Tudo funcionou com havia sido planejado: os carros passaram, Vassão avisou o Laranja pelo rádio, mas, como já era noite, o uso de um potente flash para as fotos foi inevitável.
Laranja ficou em um pequeno bar, à espreita: quando o primeiro carro passou, ele fez uma foto de frente. Até o flash carregar para a segunda foto, Laranja conseguiu fazer a traseira do segundo carro. Até nisso o danado deu sorte: o primeiro carro era o Corcel II e o segundo era a nova Belina.
Quando a equipe de testes da Ford viu os flashes da câmera, imediatamente parou os carros e pelo menos umas seis pessoas vieram em busca do Laranja. Ele correu para dentro do bar, atravessou a cozinha e, quando chegou no quintal, descobriu que estava em um chiqueiro. Continuou correndo e se abrigou em cima de um limoeiro nos fundos do comércio. Claro que usou a velha técnica de tirar o filme da máquina e guardar dentro da meia, para que ninguém roubasse o seu precioso trabalho. O pessoal da Ford, furioso para capturar o fotógrafo misterioso, entrou no bar gritando que era da Polícia Federal. Um blefe!
Depois de procurarem pelo Laranja em toda região, eles desistiram e foi embora a bordo dos protótipos do Corcel. Laranja viu o dia amanhecer em cima desse pequeno limoeiro no fundo do chiqueiro de porcos. Vassão passou, depois do dia já claro, para pegar nosso fotógrafo, que foi imediatamente levado para Campo Grande e colocado no primeiro avião rumo a São Paulo. Na bagagem, claro, vinham as grandes novidades do Corcel II e da nova Belina, que foram capa da Revista Quatro Rodas de setembro de 1976.
Um fato interessante: o voo que trouxe Laranja e o grande segredo para São Paulo trouxe também três funcionários da área de testes da Ford, que, por sorte do nosso fotógrafo, não o conheciam. Mas Laranja sabia muito bem quem eram aqueles homens e o que eles faziam. Talvez, se conhecessem nosso esperto fotógrafo, saberiam que ele portava o segredo que eles tanto tentaram esconder.
Foi a competência destes destemidos profissionais do jornalismo que deram à Revista Quatro Rodas a credibilidade que ela desfruta. Profissionais que arriscaram até mesmo a vida para trazerem aos leitores da conceituada Revista a preciosidade da informação correta.