Novos projetos de carro: popular ou superesportivo? Qual é mais fácil?

Quando as grandes mostras automotivas mundiais apresentam novos carros, os maiores destaques, a grande festa e o que a imprensa mundial mais fala é sobre os superesportivos de alta tecnologia. Carros que são mundialmente respeitados com a máxima tecnologia automotiva que se pode colocar nos automóveis. Se nessa grande mostra mundial uma marca popular apresentar o seu novo pequeno e econômico carro, o glamour será muito menor e a imprensa mundial pouco falará desse “patinho feio”.

Bom exemplo: a recente apresentação do superesportivo elétrico DeLorean Alpha5, que não chegará ao Brasil mas foi amplamente divulgado por aqui (Foto: De Lorean/divulgação)

Mas, quando mostramos atrás dos bastidores dos projetos desses novos carros, o superesportivo e o popular, qual deles você acha que foi mais fácil de ser concebido e executado? É quase que instintivo respondermos que o projeto de um sofisticado superesportivo, requer um trabalho muito mais árduo de projetistas e engenheiros, por causa da alta tecnologia empregada, e que o popular mais simples pode ser executado sem grandes dificuldades. Posso adiantar que se você pensa dessa forma, está redondamente enganado.

Vamos pegar, por exemplo, um superesportivo projetado e fabricado pela Pagani Automoboli SPA. O projetista Argentino Pagani já desenhou projetou e construiu vários superesportivos reconhecidos mundialmente pela performance, alta tecnologia construtiva, caríssimos materiais neles empregados e um design de deixar boquiaberto o mundo. O chassi em fibra de carbono é projetado por Pagani e executado por uma empresa terceirizada especializada nesse trabalho.

O Huayra, Pagani atual que em breve já será substituido por outro modelo ainda melhor (Foto: Pagani/divulgação)

As suspensões, em duralumínio e fibra de carbono é um projeto do engenheiro argentino, auxiliado tecnicamente por empresas mundialmente renomadas no projeto de suspensões de alta performance. O design da carroceria é fruto das ideias de Pagani e de um estúdio de design.

O super motor biturbo de 12 cilindros e a caixa de câmbio foram encomendados para a AMG, empresa do grupo Mercedes-Benz especializada na concepção de carros da marca ou componentes de características esportivas. Pagani tem ainda o capricho de utilizar parafusos de titânio, com a particularidade de todos terem gravados a marca “Pagani” nas suas cabeças, trata-se de um parafuso do caríssimo carro da marca. Por que então é mais fácil fazer um superesportivo do que um popular? Essa resposta é fácil: em um carro da marca Pagani, não há limite de custo!

Pagani: parafusos de titânio com a gravura da marca em um capricho possível só em carros caríssimos (Foto: Pagani/divulgação)

Como não existe esse limite, basta o projeto considerar tudo o que de melhor existe no mundo e aplicar ao superesportivo. O proprietário desse carro especial está interessado unicamente em comprar um dos melhores automóveis do mundo, não se importando com o quanto isso vai lhe custar. Esse fato permite ao fabricante dessas peças de arte, utilizar o melhor chassi em fibra de carbono, as melhores suspensões, o melhor e mais potente motor, o câmbio mais adequado, os pneus de melhor performance e por aí vai. Isso facilita muito a vida de quem concebe e executa o projeto, que se preocupa apenas em fazer o melhor, custe o que custar.

Agora vamos nos voltar a indústria que produz carros populares e lança um econômico, barato e confortável carro popular. Imaginem conceber um carro que seja bom, durável, econômico, que atenda as necessidades de uma família média, que tenha um design que agrade a grande maioria e que, além disso, mostre a imagem de um carro que tenha um bom valor de revenda e, finalmente, que dê uma boa margem de lucro à fabricante. Vocês percebem que fazer um carro com todos esses atributos, concentrados, requer um projeto e uma execução de engenharia muito mais elaborada?

O desafio de se fazer um carro barato, bom, econômico, espaçoso, confortável, de manutenção simples, robusto, fácil de revender e que ainda dê lucro para a fabricante…ufa! (Foto: Lucca Mendonça)

Vocês percebem também que um pequeno deslize em qualquer fase desse projeto do popular pode custar um grande prejuízo para a empresa? Por esse motivo que o processo de concepção, projeto, execução e fabricação de um carro popular, com produção de centenas de unidades por dia, é muito mais complexo do que um superesportivo construído na razão de um a cada mês?

Por esse motivo, meus amigos, quando uma indústria automobilística se empenha no lançamento de um carro que será vendido à centenas de milhares de pessoas por ano, não se permitem erros, e a elaboração do projeto é muito mais complexa. Por isso que Pagani pode se dar ao luxo de produzir seu carro superesportivo de cabo a rabo, acompanhando cada etapa do processo de produção e todas as tecnologias nele empregadas.

No caso dos populares, o lucro é fundamental e, para isso, precisam ser vendidas milhares de unidades, bem diferente do mundo dos superesportivos (Foto: Chevrolet/divulgação)

Em uma grande indústria fabricando um carro popular, o Pagani seria apenas mais um engenheiro dentre centenas que pensam juntos, buscando a perfeição de um carro barato, econômico, simpático à quem compra e que, além de tudo, deve render um bom lucro à quem o fabrica. Por isso é mais fácil e menos complexo fazer um superesportivo de alta tecnologia do que um pequeno carro popular.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.