Motor Fire Fiat: passado e presente do “futuro aposentado”
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Após mais de 24 anos de serviços prestados aos brasileiros em vários milhões de carros, o motor Fire, queridinho da Fiat, vai se aposentar. Não que a marca italiana queira “sumir” com seu tão confiável e robusto propulsor, mas quem dita as regras são as leis de emissões de poluentes, ditadas pelo Proconve. E, da futura fase PL8, que entra em vigor a partir do ano que vem, o Fire não passa. Um dos motivos está na idade do seu projeto básico, concebido pela marca italiana na Europa lá em meados dos anos 80, e também porque ele já tem substituto direto em produção: o Firefly.
Antes de chegar aqui no Brasil, o Fire já era tradicional na Europa. Na realidade, seu nome não é uma referência à palavra “fogo” em inglês, mas sim remete a “Fully Integrated Robotised Engine”, ou “Motor Inteiramente Montado por Robôs” no bom português. Basicamente, explicava com poucas palavras seu então moderno processo de produção, feito apenas por robôs e máquinas inteligentes, com pouca ação humana. Também se destacava, na época, por ter sido um dos primeiros projetos de motores totalmente computadorizados, com simulações digitais e concepção por telas. Para 1985, ano que nasceu, muito moderno!
Apesar de ter debutado como um pequeno 1.0, bastante leve, no tão-compacto-quanto Autobianchi/Lancia Y10 (duas marcas pertencentes à Fiat na época), o motor Fire iniciou sua história no Brasil só em maio de 2000. Era época de aposentadoria dos Fiasa, originários da primeira leva de motores da marca italiana para o mercado nacional, ou seja, o Fire já nasceu substituindo alguém.
A primeira configuração que tivemos por aqui foi 1.3 16v, sempre a gasolina, com injeção eletrônica multiponto, 80 cv de potência e cerca de 12 mkgf de torque. Com a novidade do acelerador eletrônico, bielas em aço, coletor de admissão plástico, central eletrônica moderna, maior taxa de compressão e cabeçote em alumínio, o novo Fire tomava lugar dos antigos 1.5 Fiasa nos Palio e criando uma configuração inédita no sedan Siena. Na época, o Palio 1.3 16v Fire conseguia acelerar quase junto de um 1.6 16v, enquanto era econômico como um 1.0 8v na estrada. Bingo!
Curiosamente, ainda eram os Palio e Siena com design antigo, já que a reestilização veio em setembro de 2000. Junto desse tapa no visual, inclusive, estreou a versão 1.0 do Fire, em versão de oito (55 cv) ou dezesseis válvulas (70 cv). Além do Siena, a perua Weekend também ganhava o novo motor, ambos apenas na versão 16v (sem contar o Fire 1.3 e o 1.6 de outra família). Era uma tremenda evolução frente aos antigos 1.0 8v Fiasa, quer seja em desempenho ou consumo. Cerca de um ano depois, na linha 2002, foi a vez do Palio Young também aderir ao Fire 1.0 8v: essa era a versão de entrada do hatch, que mantinha o visual antigo.
Em junho de 2001, algum tempinho antes, foi o veterano Mille quem trocou o Fiasa pelo Fire, também na configuração 1.0 8v. O novo motor, mais ágil, econômico e moderno, deu nova vida ao Uninho. Algo parecido aconteceu com a picape Strada em novembro de 2002, para a linha 2003: ela era a única da família Palio que ainda usava os 1.5 Fiasa, trocado pelo Fire 1.3 em uma versão mais simples, com oito válvulas (67 cv). A Fiorino, furgão derivado do Uno, fez o mesmo no começo de 2003.
O primeiro modelo que já chegou usando o Fire foi a minivan/MPV Doblò: em novembro de 2001, suas versões de entrada traziam o 1.3 16v na mesma configuração dos Palio, com 80 cv a gasolina. É, também, o maior carro que chegou a usar essa importante família de motores aqui no Brasil.
No final de 2003 vieram os Fire Flex, ainda na versão 1.3 8v, que foram lançados nos novos Palio 2004. Graças a melhorias, tinha sua potência aumentada para 70 cv com gasolina ou 71 cv com etanol. Além disso, o 1.0 Fire, mesmo bebendo só gasolina, tirou o atraso com novo comando de válvulas, taxa de compressão, catalisador, coletores de admissão e escape, além de receber acelerador eletrônico. Ganhou, assim, 10 cv extras, chegando a 65 no total, para não comer poeira frente aos concorrentes.
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O passo seguinte, oferecer tecnologia Flex ao tal motor 1.0 Fire, foi dado em março de 2005. Mantendo as evoluções obtidas um ano antes, o 1.0 Fire Flex nasceu com oito válvulas e 65/66 cv de potência (gasolina/etanol), aumento discreto quando com o combustível de cana. O novo motor estava disponível para Mille, Palio Fire e Siena Fire, que ainda mantinham a carroceria antiga. Pouco tempo depois, ainda em 2005, ele chegou também para a linha Novo Palio.
Não demorou muito para o 1.3 8v dar lugar ao inédito 1.4 8v, que está em linha até hoje. Ele foi, aos poucos, mas em curto espaço de tempo, substituindo seu antecessor nos Palio, Siena, Weekend, Strada, Doblò e Fiorino. Na versão inicial, apresentada em maio de 2005 na linha Palio, o 1.4 8v Fire já era flex (80/81 cv de potência com gasolina/etanol), e ostentava outro bloco, cabeçote, válvulas, coletores de admissão e escape, catalisador, sistema de partida a frio e central eletrônica, agradando pela pouca diferença de preço para os carros 1.3 8v (R$190 na tabela daquele ano).
O novo 1.4 8v permitiu o uso dos motores Fire também ao monovolume familiar Idea, que iniciou suas vendas no final de 2005 mantendo os 80/81 cv de potência (gas/eta). Pouco menos de dois anos depois, outro que estreou no mercado brasileiro movido pelo 1.4 8v Fire Flex foi o hatch compacto premium Punto, um dos primeiros nessa categoria de tanto sucesso hoje em dia. Porém, ele tinha melhores números de ficha técnica: seu Fire era o mais potente já visto, com 85/86 cv de potência (g/e), números obtidos através de coletores de admissão e escape maiores e mais modernos.
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Através do Mille Economy, da linha 2009, o 1.0 8v Fire Flex ganhou uma de suas versões mais eficientes. Focado na economia de combustível e na menor emissão de poluentes, o motor trocou seus coletores por outros com menores perdas de carga, recebeu um catalisador mais poderoso, comando de válvulas bem mais leve (27% a menos de peso), menor carga das molas de válvulas (25% a menos), bielas forjadas 30% mais leves e uma recalibração de toda sua parte eletrônica de ignição, injeção e gerenciamento. Potência e torque não mudavam, e o carro seguia com 65/66 cv, porém a Fiat prometia 10% a mais na economia de combustível.
Um pouco antes da chegada do ano de 2010, o 1.0 8v Fire Flex que equipava os Palio e seus derivados seguiu os passos do 1.4 Fire Flex do Punto, aumentando sua potência para 73/75 cv, com crescimento proporcional do torque (agora, já beirando os 10 mkgf com etanol). O motivo da melhora eram bielas 26% mais longas, pistões mais leves, anéis de baixo atrito e um novo coletor de admissão plástico.
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O nome EVO Fire foi se popularizar com a chegada do Novo Uno 2011, em maio de 2010: a segunda geração do hatch usava o 1.0 8v e também o 1.4 8v, dependendo da versão. O Fire “milzinho” continuava com seus 73/75 cv, enquanto o 1.4 estava novamente mais potente: 85/88 cv, com gasolina/etanol, na ordem. Para ele, foram reservadas mudanças no sistema de admissão e na taxa de compressão, que estava muito maior (10,3:1 para 12,3:1).
Essas configurações iniciadas no Novo Uno foram mantidas pelos próximos anos, e usadas na nova geração do Palio, nas reformulações de Strada/Weekend/Siena Fire, no Grand Siena, no Novo Idea, no Doblò reestilizado, nos Uno redesenhados, no Mobi, Nova Strada e até no Fiat 500 mexicano, movido pelo 1.4 8v EVO Fire Flex. É muito carro, com motores para dar e vender: só para que se tenha uma ideia, a marca de 5 milhões de unidades produzidas foi atingida lá em 2011, há 13 anos, e desde então sua produção não parou (a não ser na época da pandemia, claro).
Não, os EVO Fire Flex não estão mais com as boas potências obtidas no começo dos anos 2010. Foram “murchados” em prol de melhores marcas de consumo e para poluírem menos. Atualmente, o 1.0 8v equipa o Fiat Mobi numa versão mais tímida, de 71/75 cv de potência (gas/eta), enquanto o 1.4 8v resta apenas nos furgões gêmeos Fiat Fiorino/Peugeot Partner Rapid, com 84/86 cv. O futuro desses dois veteranos? Pouco animador, por causa da Fase 8 do Proconve que vem aí. Certamente, os 1.0 6v 1.3 8v Firefly, seus respectivos sucessores, darão continuidade à essa nobre missão.