Mitsubishi 3000GT VR4: Um samurai que fez tremer os anos 90

Quem viveu os anos 1990 sabe muito bem do que estou falando: o Mitsubishi 3000 GT VR4 fez tremer o mercado de superesportivos quando foi apresentado no início dessa década. A marca japonesa dos três diamantes trabalhou fundo na criação desse esportivo e utilizou toda a tecnologia que existia na época para dar ao 3000 GT o ar de exclusividade que o carro merecia. O governo Collor, recém-empossado, havia liberado a importação de carros para o mercado brasileiro, proibida desde 1976.

Depois de décadas olhando para os supercarros apenas por fotos, os brasileiros teriam novamente a oportunidade de ver ao vivo e em cores, e até de comprar, carros que só conhecíamos através de filmes ou fotos. Sem dúvida, um grande avanço para os consumidores que poderiam ter a opção de escolha e até mesmo para a nossa indústria, que teria a oportunidade de brigar de frente com carros importados de todas as partes do mundo.

A Mitsubishi, pelo seu representante no Brasil, a MMC Automotores do Brasil, empresa do Grupo Souza Ramos, apressou-se em importar uma linha de produtos que agradasse o consumidor brasileiro e, é claro, como imagem de uma vitrine, iniciou também a importação do 3000 GT, inclusive na versão VR4, o topo de linha desse esportivo. O carro, antes de mais nada, era dotado da mais alta tecnologia que a marca japonesa dispunha nos carros. Sob o capô, um V-6 de 3 litros, com dois comandos em cada cabeçote, 4 válvulas por cilindro e superalimentado a 0,68 bar com dois turbocompressores com intercoolers resfriando o ar da admissão.

Esse motor V-6 desenvolvia 300 cv e um torque na casa dos 42,5 m·kgf. A partir de 1993, esse mesmo motor, com algumas melhorias técnicas, chegou a 320 cv e o torque passou para 43,5 m·kgf. Era mais que 100 cv por litro de potência específica, um número respeitável para o início dos anos 90.

Mas a alta tecnologia não parava no motor. A transmissão, que incluía um câmbio manual de cinco marchas e que passou a 6 marchas em 1993, era integral. A tração nas quatro rodas com diferencial central viscoso e repartição fixa 45%/55% dianteira/traseira permitia arrancadas fortíssimas sem que as rodas patinassem.

As arrancadas do 3000 GT VR4 chegavam a ser impressionantes: testei em 1993 a versão de 320 cv e quando se acelerava o motor até cerca de 4.000 rpm para que os turbos começassem a pressurizar, e se tirava o pé repentinamente da embreagem, o 3000 GT, como uma aranha, dava um verdadeiro salto para frente, e a impressão que o motorista tinha era a de que tomava um soco nas costas, tamanha a aceleração.  Da imobilidade a 100 km/h gastava apenas 5,9 segundos; mais 19,3 segundos e já estava a 200 km/h. Velocidade máxima, 250 km/h (limitada, podia chegar a 261 km/h). Quando o assunto era desempenho, o Mitsubishi 3000 GT impressionava.

Foto: Mecum Auctions/Reprodução

O Mitsubishi GT VR4 tinha ainda outros charmes. Um sistema eletromecânco abria e fechava borboletas que permitiam ao sistema de escapamento ficar mais ruidoso e esportivo, ou mais silencioso, a gosto do motorista. Os faróis escamoteáveis da versão apresentada em 1993, eram outro atrativo.

Mas, nada se comparava, esse sim um verdadeiro charme, ao seu teto removível que permitia uma boa sensação de liberdade e o agradável vento no rosto quando se tirava o teto sobre motorista e passageiro. Mas, claro, é preciso lembrarmos que o monte de luxo e mimos do carro acrescentava muito peso à sua robusta carroceria. A tração integral, somada ao porte do carro davam uma impressionante massa de 1.730 kg, um peso absurdo para um pretenso esportivo.

Para compensar o peso exagerado do Mitsubishi 3000 GT VR4, a tração integral o ajudava a contornar curvas e o truque de um pequeno esterço das rodas traseiras, ajudava o pesado japonês a ser ágil. Um outro ponto crítico, agravado pelo peso excessivo, estava nos freios a disco nas quatro rodas. Quando utilizado sob condições severas na potência máxima do motor, o 3000 GT VR4 apresentava fading, principalmente nos freios dianteiros, que chegavam a esfumaçar quando muito exigidos.

Nem é preciso dizer, que nessas condições a eficiência de frenagem caía vertiginosamente. Mas, é bom lembrar, que isso ocorria apenas nas condições criticas de uso, pois em utilização normal o motorista comum jamais perceberia o problema . Particularmente, vivenciei esse problema testando o 3000 GT VR4 na pista de testes, uma condição severa bem acima da média.

De uma maneira geral, o 3000 GT VR4 é um daqueles esportivos para quem gosta de carros. Anda bem, tem todo o charme que atrai aqueles que gostam de dirigir e é repleto de tecnologias que até hoje impressionam. Um carro que me deixou boas lembranças na época que eu o testei. Não tem o primor e a perfeição mecânica de um carro alemão, mas certamente, é um carro que eu teria hoje e curtiria muito dar umas voltas, principalmente sem o teto no lugar.

Compartilhar:
Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.