Mahindra: a marca indiana “raiz” que até montou carros no Brasil

Nem todo carro taxado como “indiano” é literalmente de lá. O Kwid, por exemplo, em que pese seu projeto desenvolvido na Índia e com foco para o mercado asiático, ainda é um Renault, ou seja, tem pitadas francesas e europeias. Carros verdadeiramente indianos vendidos no Brasil? Só os Mahindra…

Fundada em 1945, a empresa inicialmente trabalhava com venda de aços, mas logo despontou também para o mercado automotivo: a partir de 1948, passou a montar os jipes da Willys sob licença na Índia, e não demorou muito para desenvolver automóveis próprios e até tratores, área que a Mahindra tem vasta experiência e praticamente domina nas vendas mundo afora.

Os primeiros automóveis feitos pela Mahindra eram jipes da Willys sob licença (Foto: Mahindra/divulgação)

Com o tempo e aquisição de outras empresas como Gujarat (tratores), Kinetic (motos) e até Ssangyong (coreana, que também produz carros), a Mahindra se tornou um grupo empresarial de proporções enormes.

Mas voltando aqui pro Brasil, a Mahindra chegou em 2007 e, logo de cara, iniciou sua linha de montagem em Manaus (AM). A representação nacional era feita pela Bramont, a mesma que montava os jipes romenos da ARO (conhecidos como Cross Lander por aqui) em solo nacional, e a marca estreou logo com dois modelos: a Pik Up, picape que poderia ter cabine simples ou dupla e, posteriormente, uma versão sem caçamba, além de seu SUV Scorpio (que mudou de nome algumas vezes), com sete lugares.

Todos eram feitos no esquema de carroceria sobre chassis, movidos pelo mesmo motor 2.6 turbodiesel de cerca de 110 cv e câmbio manual de 5 marchas, e equipados com tração 4×4 com reduzida. Na concepção ainda estavam os freios a disco dianteiros, suspensões com braços sobrepostos nas quatro rodas e direção assistida.

Motor turbodiesel, câmbio manual e tração 4×4: legítimos utilitários (Foto: Mahindra/divulgação)

Design nunca foi o forte da marca. Os carros vendidos no Brasil pareciam nitidamente da década de 80, com carroceria extremamente quadrada (no melhor estilo “cortado no facão”), design pra lá de insosso e pouquíssimas tecnologias ou modernidades a bordo. Conforto, bom nível de acabamento e segurança também passavam longe de serem prioridades.

Design quadradão, bem ao estilo dos anos 80, marcava os modelos (Foto: Mahindra/divulgação)

A excelente relação custo X benefício acabava camuflando uma parte desses problemas. A própria Mahindra focava seus produtos para o uso comercial, e não pessoal: eram ferramentas de trabalho. Tudo muito “raíz”.

O foco era no uso profissional, e, nesse caso, o baixo preço de aquisição era importante (Foto: Mahindra/divulgação)

Os atrativos dos modelos, claro, eram o preço baixo e boa lista de itens de série, que continha ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, rádio com toca CD, rodas de liga-leve e bancos em couro. De início, a expectativa era vender pelo menos 200 carros por mês, ainda que a logística de produção conseguisse fabricar bem mais que isso.

Falando nisso, inclusive, esse era um dos pontos críticos da Mahindra. Primeiro suas carrocerias chegavam da Índia desmontadas e rumavam pra Pouso Alegre (MG) para a pintura, acabamento e montagem. O próximo passo era levá-las para Belém do Pará (PA) de caminhão, onde tomavam uma balsa rumo, aí sim, à Manaus.

O problema estava na logística de montagem muito complicada (Foto: Mahindra/divulgação)

Lá, na Bramont, era feita a união do chassi com toda a mecânica na carroceria finalizada, além da montagem de rodas, pneus, bateria e outros periféricos que compunham os 10% de componentes nacionais. Depois disso, a distribuição dos carros era feita a partir de Uberlândia (MG), revertendo toda aquela viagem de caminhão e balsa. Um processo bem complicado e, principalmente, caro.

Mesmo com o tempo passando, as vendas nunca sequer bateram as modestas metas da fabricante, e a montagem dos carros, que já era restrita, vinha caindo ano após ano. Como de praxe, vários outros modelos da marca foram prometidos para o mercado nacional, mas nunca saíram do papel.

Os anos passavam e as vendas não saíam das centenas por ano. Em 2013, as coisas mudavam (Foto: Mahindra/divulgação)

Mas, também naquela época, a vida da Mahindra deu um salto no Brasil. Como a Bramont passou a ser propriedade de um outro grupo chileno, as operações por aqui saíram da mesmice. A produção bateu recorde em 2013, quando quase 2 mil carros foram finalizados, e a rede autorizada também era ampliada. Parecia que, finalmente, a fabricante indiana estava caminhando por aqui.

Além disso, a picape e o SUV passaram por importantes mudanças no visual (com facelift frontal), lista de equipamentos (já agregando airbag duplo e ABS, como exigia a lei), mecânica (freios, direção e suspensões, principalmente) e motorização, saindo de cena o velho 2.6 e entrando um 2.2 mais potente, de cerca de 120 cv. Aquele seria o melhor ano da marca no mercado nacional.

Além do aumento de produção, os Mahindra recebiam várias melhorias e um motor mais potente (Foto: Mahindra/divulgaçaõ)

Pena que, a partir de 2014, a Mahindra Automóveis do Brasil tenha voltado mais uma vez ao ostracismo. As vendas, apesar do leve aumento do ano anterior, caíram mais uma vez, a produção desacelerou e o grupo Bramont já preenchia suas linhas de montagem em Manaus com outros produtos, como as motocicletas importadas.

Fim de linha em 2015

A produção se encerrava logo no começo de 2015 (Foto: Mahindra/divulgação)

A cartada final da Bramont com relação aos carros da Mahindra no Brasil foi dada em fevereiro de 2015. Ali, o grupo anunciava que a produção da picape e do SUV estava para ser encerrada, assim como as importações de peças e componentes da Índia.

No total, mais ou menos 4 mil carros da Mahindra foram montados por aqui, todos sendo o SUV de sete lugares ou as variações da Pik Up (chassi, cabine simples ou cabine dupla). Hoje restam menos de 3.500 unidades em circulação pelo Brasil, e, apesar da robustez mecânica, os atuais proprietários sofrem com a dificuldade de achar peças dos modelos por aqui. Vale destacar que a Mahindra continua produzindo seus tratores normalmente em solo nacional, mas agora de forma oficial (sem representantes) e em uma planta totalmente diferente.

Nos 10 anos de produção, cerca de 4 mil carros foram produzidos (Foto: Mahindra/divulgação)

Enquanto isso, na Índia…

Se por aqui a fabricante indiana durou pouco e não vendeu nada além de dois modelos, na sua terra natal a história é outra bem diferente. Por lá, tanto o SUV quanto a picape ainda estão em produção até os dias atuais, e já ostentam uma carinha mais moderna graças a um recente facelift mais profundo. Sua linha de carros é concentrada em utilitários, picapes ou jipes, mas também existem minivans e subcompacto da Mahindra por lá.

Com foco nos utilitários, a Mahindra se mantém firme e forte na Índia (Foto: Mahindra/divulgação)

Além disso, o grupo Mahindra também ainda está no mercado de motocicletas, veículos militares, geradores industriais e motores estacionários, além dos equipamentos agrícolas. Um conglomerado de respeito.

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.