GM Suprema GL: a station Absoluta de baixo custo
Em meados dos anos 80, carro familiar era o Station, ou “perua” para os mais íntimos. Além da VW Quantum, tínhamos VW Parati (líder do segmento), Fiat Elba, Ford Belina, GM Marajó, GM Caravan, sem falar na grandalhona GM Veraneio e nos modelos fora de série fabricados pela Envemo, como o Monza Wagon. Na verdade, foi desde o lançamento da Quantum que o mercado se aqueceu e a competição passou a ser acirrada de verdade.
No final dos anos 80, novidades esquentavam ainda mais a disputa. Em 1988 a maior station da VW recebia motor 2.0, o famoso AP-2000; em 1989 a Fiat lançava a Elba 4 portas; no mesmo ano a Ford colocava o motor 1.8 na Belina; enquanto a GM abalava o mercado com o Kadett Ipanema, lançado no final do ano com design moderno e ao mesmo tempo polêmico (lembrando a DKW Vemaguete). Já nos anos 90, a dança das cadeiras começava. Em 1991, Fiat e VW faziam um facelift em suas linhas, onde Elba e Parati ficavas mais elegantes, ao passo que a GM dava sobrevida à Caravan também com uma reestilização e a Ford descontinuava a Belina. No começo de 1992, chegou a Royale em sua substituição, e a Quantum era remodelada, se consolidando como o sonho de consumo das famílias.
No dia 16/04/1992, encerrava-se a produção da linha Opala, onde ele e a Caravan se despediam do mercado, e a GM lançava em seguida o Chevrolet Omega, modelo considerado pelo próprio marketing da fabricante como “Absoluto”. Pudera, trazia conceitos nunca antes vistos em nosso mercado, apesar do projeto alemão já antigo (1986). Ainda assim, batia de frente com importados como Honda Accord e Toyota Camry, sendo considerado um verdadeiro carro de luxo brasileiro, já que era fabricado em São Caetano do Sul (SP).
A station Suprema demorou um pouco mais para ser lançada, e apesar de ser apresentada no Salão do Automóvel de 1992, chegou ao mercado apenas em abril de 1993, deixando a concorrência nacional automaticamente ultrapassada. Seu lançamento introduziu tecnologias inexistentes nas demais peruas daquela época. Dentre suas qualidades, destacavam-se o bom desenho aerodinâmico, a excelente performance de seus motores de 4 e 6 cilindros em linha, a segurança, o conforto e a qualidade empregada no acabamento.
Assim como na antecessora Caravan, sua tração também era traseira, mas a Suprema tinha na suspensão um moderno sistema de nivelamento pneumático constante. Com isso, sua traseira estava sempre nivelada, na altura correta, independentemente da quantidade de carga no espaçoso banco traseiro ou no porta-malas de 540 litros de capacidade.
A station chegou ao mercado com duas opções de motorização e de acabamento: versão GLS com motor 2.0 de 116 cv de potência a 5200 rpm e 17,3 kgfm de torque a 2800 rpm, além da versão CD com o famoso 3.0 de seis cilindros em linha. Aqui já falávamos de 165 cv a 5800 rpm e 23,4 kgfm de torque a 4200 rpm, extraídos de um motor importado da Alemanha, fornecido pela Opel. Diga-se de passagem, esse 3.0 é considerado por muitos um propulsor melhor que seu sucessor, o 4.1, também seis-em-linha.
Em 1993, com a Suprema ainda começando sua carreira de sucesso, foram apresentadas as versões 2.0 a etanol. Junto com a carroceria sedan, eram os primeiros veículos movido a etanol com injeção eletrônica em âmbito mundial. Além disso, na época, este era o motor de 4 cilindros com 8 válvulas mais potente fabricado em série no mundo: eram divulgados 130 cv a 5400 rpm, com 18,6kgfm de torque a 4000 rpm. Por falta de uma, duas primazias.
No ano seguinte, buscando outra faixa de mercado e atendendo aos anseios de frotistas (taxistas, órgãos públicos, funerárias e afins), chegava a versão GL (Grand Luxe), mais simples da linha, que pretendia combater o sucesso de VW Quantum e Ford Royale de entrada. O Omega GL, sedan, tinha as mesmas metas, só que para com Santana e Versailles. Com motor 2.0 MPFI, quando movida a etanol, a perua podia acelerar de 0 a 100 km/h em 11,8s, chegando aos 186,5 km/h de velocidade máxima, números respeitáveis para a época. Não era muito econômica na cidade, com média de 5,25 km/l do combustível de cana, mas consumia quase metade disso na estrada (9,78 km/l). Graças aos generosos 75 litros de capacidade no tanque, a Suprema GL conseguia viajar para longe sem reabastecer.
Se comparada a versão seguinte GLS, a GL era bem mais despojada: não trazia cromados em seu acabamento, tão menos pintura nos para-choques, grade, retrovisores e maçanetas. Identificada pela logotipia nos paralamas, essa Suprema era mais sóbria, mas suas linhas, modernas para aquele tempo, a mantinham imponente. Para baratear a produção, a linha GL trazia sempre rodas de ferro cobertas com calotas, as mesmas usadas na linha GLS de 1992 e 1993, calçadas com pneus 195/65R15.
Mesmo considerada básica, a station GL tinha bancos dianteiros reclináveis com regulagem de altura para o motorista, cintos de segurança de três pontos dianteiros com regulagem de altura, temporizador do limpador/lavador do para-brisa, retrovisores externos com comando manual, rádio toca-fitas com 4 alto-falantes, porta-fitas, direção hidráulica, luz de neblina traseira e iluminação dedicada ao porta-malas e motor. Porém, eram manivelas ao invés dos levantadores elétricos dos vidros das quatro portas, e havia vidro traseiro liso (sem desembaçador elétrico). As economias seguiam no banco traseiro inteiriço, sem apoios de cabeça nem apoio central para os braços, com os três cintos de segurança subabdominais.
Por outro lado, a Suprema GL podia ficar mais recheada com ar-condicionado, travas elétricas, vidros elétricos, vidros verdes com para-brisas degradê, desembaçador do vidro traseiro, repartição do banco traseiro, além da pintura metálica ou perolizada, todos opcionais. O acabamento era simples, mas de ótima qualidade de construção, com os mesmos bancos confortáveis de versões superiores, forrados com um veludo elegante. Os forros de porta tinham acabamento menos requintado, e não acompanhavam o padrão de revestimento dos bancos. Já no porta-malas estava o carpete apenas no assoalho, sem cobertura no estepe, com forração lateral em uma espécie de papelão.
No painel de instrumentos faltava o conta-giros, ainda que houvesse velocímetro com hodômetro parcial e marcação de até 220 km/h, marcador de combustível, termômetro do motor e luzes-espia. No lugar do computador de bordo estava um relógio analógico, próximo aos comandos de ar-condicionado e toca-fitas. A GL não dispunha, nem opcionalmente, de itens como regulagem de altura da coluna de direção, freios ABS, tampão do porta-malas, rede de proteção separando o bagageiro do habitáculo, rodas de liga-leve ou mesmo teto-solar, “luxos” encontrados apenas nas Suprema GLS ou CD.
A partir do segundo semestre de 1994, a GM lançava a linha 1995 de seus modelos. A grande novidade era a substituição dos motores 2.0L e 3.0L pelos novos 2.2L de quatro cilindros, com 116 cv de potência a 5200 rpm e 20,1 kgfm de torque a 2800 rpm, e 4.1L de seis cilindros em linha, com 168 cv a 4500 rpm e 29,1 kgfm de torque a 3500 rpm, respectivamente. Esse 4.1, vale falar, era o mesmo do finado Opala, porém modernizado.
Com o motor 2.2, a versão GL da station era destinada praticamente a frotistas, e hoje é ainda mais rara que a GL 2.0. Quando movida a gasolina, tinha a mesma potência da 2.0 (116 cv), mas com 20,1 kgfm de torque, ante os 17,3 kgfm da anterior. Ou seja, era um carro mais ágil, correndo até os 191,4 km/h e acelerando de 0 a 100 km/h em 11,5s, consumindo 6,5 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada. A Suprema GL 2.2 tinha suas vendas focadas quase que unicamente a taxistas, órgãos públicos, funerários, diretorias de empresas etc., frotistas no geral, conforme disse Gerson Borini, ex-engenheiro da General Motors do Brasil, que colaborou com algumas informações para esta matéria.
Em meados de 1995, a versão GL foi descontinuada para Omega e Suprema. Hoje, da station, continuam registradas no DENATRAN 342 unidades fabricadas em 1994, e apenas 30 fabricadas em 1995. Muitos desses carros tiveram vida curta, ou foram “aposentados” cedo, por conta do uso mais severo nas mãos de motoristas de taxi, funcionários públicos, oficiais de polícia, funcionários de empresas diversas e por aí vai. Achar, por exemplo, uma Suprema GL 2.2 atualmente é praticamente impossível, até mesmo para ilustrar a publicação desta matéria, dada sua produção em pequena escala. As fotos de interior aqui presentes, por exemplo, são de um Omega GL, similar a perua.
Hoje, um carro destes não faria sentido (station grande e de categoria de luxo, mas básico de equipamentos), porém a Suprema GL foi o modelo básico que, junto com o Omega GL, antecipou tendências, já que qualquer veículo atual, por mais simples que seja, oferece no mínimo os itens de conforto que a GM trazia na sua época.