GM Corsa GL 1.4: a versão de luxo mais potente do queridinho da Chevrolet

Desde a redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente em 1990, que viabilizou o lançamento do Fiat Uno Mille, em 1990, as marcas competiam ferozmente para ter seu representante do segmento de populares. A GM foi a segunda a entrar na disputa em 1992, mas com um produto muito antigo que estava na prateleira há 19 anos: o Chevette Junior (leia mais aqui).

No final de 1992, o VW Gol 1000 chegava com seu motor AE-1000 (vulgo CHT), 50 cv de potência, mais disposição e modernidade, e olha que seu projeto já estava cansado, com então 12 anos. A Volkswagen já tinha o Gol AB9, vulgo “Bolinha”, no forno, aguardando o momento certo para ser lançado. Estratégias de guerra não faltavam nesta época.

Nos idos de 1993, a Ford lançou o Escort Hobby 1.0 com a mesma mecânica do Gol 1000 e um pouco mais de espaço interno. Além destes, graças a uma resolução do governo reduzindo a alíquota de veículos com motor 1.6 boxer e/ou de tração traseira (parece até que alguém foi privilegiado com isso, né, dona VW?!), os veículos com esses motores passaram a ter a chancela de popular, permitindo a volta do Fusca e redução do preço da VW Kombi. Cogitaram inclusive lançar o Gol BX (sim, com motor boxer a ar de 1.6 litro). Com isso, aproveitando as novas categorias de isenção, a Chevrolet tratou logo de substituir o Chevette Junior pelo Chevette L, com motor 1.6 e muito mais disposição.

Mas a GM sabia que o Chevette não era mais competitivo, e já desenvolvia a sua versão do Opel Corsa desde que lançou o Chevette Junior. Como em um jogo de xadrez, aguardou o momento certo para fazer sua jogada. Os planos eram apresentá-lo apenas em 1995, mas com a movimentação adiantada da Volkswagen para estrear seu Gol Bolinha e da própria Fiat, que já desenvolvia o Projeto 178 (Palio), a Chevrolet antecipou a apresentação do carro em 1 ano. A primeira unidade foi fabricada em 21 de setembro de 1993, quando o estoque começou a ser formado, e em 10 de janeiro de 1994, era lançado no mercado nacional o GM Corsa.

Com muita inovação em um mercado saturado e atrasado, o Corsa trazia coisas até então impensadas para um carro popular em nosso mercado: injeção eletrônica de combustível de série, bom nível de acabamento, boa qualidade de construção e design em compasso com com a Europa. Uma revolução.

O carrinho vinha com coisas impensáveis para o segmento, como injeção eletrônica de série (Foto: Chevrolet/divulgação)

Usando a plataforma A, estreada no exterior em 1982, o Corsinha tinha um design atualizadíssimo e linhas arredondadas, com formato em cunha e ótimo coeficiente aerodinâmico, ou Cx, de 0,35 – contra 0,45 do Gol quadradinho. Sua missão era “embelezar a garagem do cliente”, palavras do então vice-presidente da GMB André Beer. E de fato o Corsa deu muito trabalho para concorrência.

Moderno e cheio de qualidades que era, o Corsinha já chegou dando trabalho para a concorrência (Foto: Chevrolet/divulgação)

O conforto também era inovador, e sua versão de lançamento, a Wind, trazia de série ajuste de altura dos cintos dianteiros, banco traseiro inteiriço rebatível, vários porta-objetos, retrovisor do lado direito, além de um acabamento primoroso com bancos revestidos em tecido bastante ergonômico, volante de dois raios espumado com ótima empunhadura, vidros verdes, e a moderna injeção eletrônica single-point, ou monoponto.

Como opcionais, acendedor de cigarros, ajuste interno dos retrovisores, ar quente, banco traseiro rebatível em 1/3 e 2/3, antiembaçante, limpador/lavador do vidro traseiro, para-brisa degradê, pintura metálica ou perolizada, alarme, fiação para sistema de som e trava elétrica das portas.

Seu motor de 1,0 litro era moderno, silencioso, e fornecia 50 cv de potência a 5800 rpm com 7,7 kgfm de torque a 3.200 rpm que, acoplado a um eficiente câmbio de 5 marchas de relações longas, mas com diferencial curto (4,53:1), faziam do Corsa um carro muito agradável de ser conduzido. Acelerava de 0 a 100 km/h em 19s77, e chegava a 142 km/h de velocidade máxima, segundo testes da Revista Quatro Rodas na ocasião do lançamento. Imbatível no consumo, mostrava números atraentes até mesmo para os dias de hoje: 13,05 km/l de gasolina na cidade e 15,39 km/l na estrada, também de acordo com testes da Revista. Essas médias melhoraram ainda mais 2 anos depois com a chegada do Corsa Super, com 60 cv e câmbio de diferencial mais longo, história que contarei depois.

A concorrência se mexeu e logo a Fiat lançou o Uno Mille ELX, “o popular de luxo” como ela mesmo o chamava. Com nova frente baixa (igual as demais versões da linha Uno), novo painel, volante de 4 raios espumado, ênfase nas 4 portas e no ar-condicionado (opcionais), esse Mille também oferecia um acabamento bem mais caprichado, fortalecendo o hatch no segmento.

Melhor acabamento, equipamentos refinados e aspecto mais completo davam ar de luxo ao popular ELX (Foto: Fiat/divulgação)

A GM respondeu a Fiat com o Corsa GL, sua primeira versão mais luxuosa lançada também em 1994 (entre junho e julho), antecipando a linha 95. Ele era 1.4 e tinha injeção eletrônica monoponto EFI, com 60 cv a 5200 rpm e 11,1 kgfm de torque a 2800 rpm. Graças a potência e torque extras, tinha melhora substancial no desempenho: demorava 15s39 no 0 a 100 km/h, correndo até os 154,54 km/h (Quatro Rodas). Apesar disso, não surpreendia, trazendo mais torque e boas médias de consumo (11,81 km/l na cidade e 16,48 km/l na estrada, com gasolina, segundo testes da revista).

Como itens de série, traz regulagem de altura dos cintos de segurança, banco traseiro bipartido 1/3 e 2/3, preparação para som e vidro dianteiro degrade, painel com conta-giros, além de um acabamento ainda mais esmerado, com veludo de boa qualidade nos bancos e muito bonito.

Sem dúvidas, era um carro caprichado, com direito a acabamento em veludo e conta-giros de série (Foto: Ricardo Novelli/AutoEsporte)

Além de oferecer como plus o painel com conta-giros e interior ainda mais caprichado, inclusive com uso de veludo, o GL podia ganhar ar-condicionado, ar quente, vidros elétricos com sistema de “um toque” e antiesmagamento, travas elétricas, alarme antifurto, iluminação no porta luvas e porta-malas, sistema de advertência sonoro dos faróis ligados, antiembaçante, limpador/lavador do vidro traseiro, vidros verdes, sistema de som com toca-fitas e rodas de liga leve aro 13 ou 14 (muito raras), além de pintura metálica. Completo, tornava-se bem interessante.

Opcionalmente, dois jogos de rodas de liga-leve: um aro 13 e outro aro 14 (Foto: Chevrolet/divulgação)

Em agosto de 1995, a GM dificultava ainda mais a vida dos concorrentes e lançava a carroceria quatro portas para o modelo GL, aumentando ainda mais o conforto de seus viajantes. As vendas, claro, subiam, provando ser um grande sucesso dos anos 90. Na mecânica ainda estava o 1.4 (a Corsa Pick-Up lançada na mesma época já era 1.6), e sua estimativa era de chegar a 7.000 unidades vendidas nesta configuração ainda em 95, número que foi alcançado sem dificuldades. O GL 4 portas custava R$13.600,00 na versão básica, equivalentes hoje a R$82.714,53.

A linha 96 trazia a carroceria sedan e motor 1.6 para o hatch, mas sobre esta parte da história eu falarei mais para frente. Os anos 90 foram, sem dúvidas, os mais competitivos no mercado automotivo nacional, e os melhores para a GM Brasil. Saudades dos projetos Opel?

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.