GM Corsa Champ: a série especial da Copa do Mundo de 1998

Em 1993, a GM brasileira sabia que o Chevette não era mais competitivo, ainda mais na lenta versão Junior com motor 1.0. Por isso, já desenvolvia a sua versão do Opel Corsa desde o início da década de 90, e como em um jogo de xadrez, aguardou o momento certo para fazer sua jogada.  

O plano era lançá-lo apenas em 1995, mas com a movimentação da VW para lançar o Gol bolinha e da própria Fiat, que já desenvolvia o projeto 178 (Palio), a Chevrolet antecipou o lançamento do carro em 1 ano. A primeira unidade foi fabricada em 21 de setembro de 1993, quando o estoque começou a ser formado, e em 10 de janeiro de 1994, era lançado no mercado nacional o GM Corsa. 

O primeiro Corsa produzido no Brasil, ainda em 1993 (Foto: reprodução/internet)

Com muita inovação em um mercado saturado e atrasado, o Corsa trazia coisas até então impensadas para um carro popular em nosso mercado: injeção eletrônica, bom nível de acabamento, boa qualidade de construção e design em compasso com as versões do Corsa pelo mundo. Com a missão de “embelezar a garagem do cliente”, palavras do então vice-presidente da GMB, André Beer, o Corsa deu muito trabalho para concorrência. Houve até mesmo a prática de ágio para quem queria ter um desses na garagem. 

Usando a plataforma A, lançada no exterior em 1982, trazia um design atualizadíssimo e linhas arredondadas, com formato em cunha e ótimo coeficiente aerodinâmico de 0,35 – contra 0,45 do Gol quadradinho. O conforto também era inovador, e sua versão de lançamento, Wind, trazia de série ajuste de altura dos cintos dianteiros, banco traseiro rebatível, porta-objetos, retrovisor do lado direito, além de um acabamento primoroso com bancos revestidos em tecido bastante confortável, volante espumado com ótima empunhadura, vidros verdes, além de injeção eletrônica monoponto. 

Interior bem montado e espaçoso eram marcantes (Foto: reprodução/4Rodas Turbo)

Como opcionais, oferecia acendedor de cigarros, ajuste interno dos retrovisores, ar quente, banco traseiro rebatível em 1/3 e 2/3, antiembaçante, limpador/lavador do vidro traseiro, para-brisa degradê, pintura metálica ou perolizada, alarme, fiação para sistema de som e trava elétrica das portas. 

Seu motor de 1.0 litro era moderno, silencioso, e fornecia 50 cv de potência a 5800 rpm com 7,7 kgfm de torque a 3.200 rpm. Acoplado a um eficiente câmbio de 5 marchas de relações longas, mas com diferencial curto (4,53:1), esse conjunto fazia do Corsa um carro muito agradável de ser conduzido. Cumpria a prova de 0 a 100 km/h em 19s77 e chegava a 142 km/h de velocidade máxima. Imbatível no consumo, trazia números interessantes até para os dias atuais: 13,05 km/l de gasolina na cidade e 15,39 km/l na estrada.  

O Corsa também era agraciado com um motor moderno, que garantia bom desempenho com baixo consumo (Foto: Chevrolet/divulgação)

Essas médias melhoraram ainda mais dois anos depois com a chegada do Corsa Super, com 60 cv e câmbio com diferencial mais longo. O sucesso se confirmou com as versões Wind e Super mais potentes, e o carro caiu nas graças de vez do consumidor, que não media esforços para ter um GM nacional com alma Opel alemã na garagem.  

Versão Super tinha motor mais potente, com 60 cv, e apresentava médias de consumo ainda melhores (Foto: Chevrolet/divulgação)

Logo, algumas versões especiais foram lançadas. Dentre elas a Piquet, de meados de 1997, uma homenagem da empresa de condimentos Arisco que patrocinava o Piloto Nelson Piquet, restrita aos funcionários da empresa. 

Em abril de 1998, era a vez da própria GM homenagear a Copa do Mundo da França daquele ano com sua linha Champ, uma homenagem à dois locais famosos da capital Paris: avenida Champs-Élysées e o parque Champ de Mars. A General Motors era uma grande patrocinadora daquela edição do evento esportivo. De início, a série especial era composta pelas picapes Corsa Pick-Up e S10, mas, no final de maio de 1998, ela se estendia também ao hatch Corsa, nossa estrela de hoje. 

Disponível nas cores Azul Riviera ou Verde West, sempre na carroceria de duas portas, a edição limitada do hatch era identificada pelas faixas laterais alusivas à versão com a inscrição “Champ 98”, além do adesivo com o símbolo daquela Copa do Mundo na tampa do porta-malas e painel. Trazia rodas de liga-leve aro 14 (mesmas da versão GL), pneus 185/60R14, break light, além de para-choques na cor do veículo. O restante do acabamento interno era igual ao da linha Wind Super convencional. 

Ainda era possível equipar um Corsa Champ 98 com alguns itens opcionais: sistema de imobilização do motor, ar-condicionado, vidros verdes, limpador e desembaçador traseiro, controle interno dos retrovisores externos, banco traseiro bipartido (1/3 e 2/3), protetor de cárter e preparação para sistema de som. 

Mecanicamente, nada inédito: o mesmo motor 1.0 MPFI a gasolina, batizado de Powertech, do Corsa Wind Super, com 60 cv de potência a 6000 rpm e 8,3 kgfm de torque a 3000 rpm, capaz de levar o hatch Champ, também chamado de “Champ 98”, aos 150 km/h, acelerando de 0 a 100 km/h em 17,3s. Além disso, era econômico: conseguia 12,8 km/l de gasolina na cidade e 16,2 km/l na estrada. 

Com poucos diferenciais, o hatch de série especial tinha preço bastante atrativo, custando na ocasião do lançamento R$12.290,00, equivalente hoje a R$99.218,93 de acordo com o índice IGP-M (FGV). Não muito distante do que é cobrado por um VW Polo Rock In Rio atual, por exemplo. Existem registradas, atualmente, 1.987 unidades de acordo com os dados da frota nacional de veículos do DENATRAN, ainda que materiais internet afora apontem para a produção de 1.920 exemplares da edição limitada do Corsa. 

Os anos 90 foram, sem dúvidas, os mais competitivos no mercado automotivo nacional, e a categoria dos populares teve disputas acirradíssimas das marcas pela preferência nacional. Estes Corsa da Copa de 98 são raros de se ver hoje em dia, principalmente em bom estado. Sem dúvidas, uma das mais configurações mais raras dos 18 anos de Corsa no Brasil. 

Compartilhar:
Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.