GM Chevette Ouro Preto: nobreza em forma de série especial
Em 1973 chegava ao Brasil a quarta geração do Opel Kadett, o nosso querido e saudoso GM Chevette. Em época de regime militar, a GMB rebatizou o moderno automóvel de Chevette (nome já usado no exterior para versões do Kadett), evitando associações com a patente militar. Com um moderno motor 1.4, fez sucesso pelo conforto, estilo e robustez, comprovada com o passar dos anos. Sem contar, claro, que tinha tração traseira, facilitando a condução nos pisos difíceis e alegrando alguns garotos aventureiros, que faziam manobras exibicionistas por aí.
O Chevette teve vida longa, com quatro remodelações e várias configurações em seus 20 anos de produção no Brasil. Seu primeiro facelift foi na dianteira em 1978, complementado em 1979 com a reformulação de sua traseira (coisas dos anos 70 e 80). Também debutava o motor 1.6, mais potente, derivado do 1.4, e logo depois a carroceria Hatch. Ela tinha um design que agradou bastante, apesar da ineficiente ergonomia, porta-malas pequeno e alto consumo de combustível.
Enquanto já tinha na família a perua Marajó, mas antes de sua terceira reformulação em 1983, quando ganhou linhas mais modernas e equiparadas ao Monza, o Chevette ganhou uma série especial intitulada Ouro Preto. Ela estava disponível apenas na carroceria Sedan, sempre com motor 1.6 a gasolina, e utilizava acessórios do extinto esportivo Chevette S/R. Ainda assim, era uma edição limitada que a marca considerava requintada e cheia de personalidade, mesclando sofisticação e esportividade, como diziam as propagandas da época.
Segundo a Chevrolet, o nome Ouro Preto foi escolhido por combinar com os equipamentos “nobres” adotados no carro. Dentre eles, bancos com encosto alto individuais (sim, era anunciado assim), vidros escurecidos, vidros traseiros basculantes, limpador de para-brisa com temporizador, volante esportivo, tampa do porta luvas com fechadura, alças no teto, forro do teto na cor preta, o painel de instrumentos com conta-giros e vacuômetro, console central com medidor de combustível, temperatura, voltímetro e relógio.
Externamente, pneus radiais 175/70SR13 sem câmara, spoiler dianteiro, moldura de grade e faróis pintada de preto e ponteira de escapamento dupla. Eram dois logotipos adesivos dedicados à edição especial, um colado em cada paralamas, enquanto a identificação do motor (“1.6”) era feita por um adesivo dourado na tampa do porta-malas. Tudo de muito bom gosto, vale falar.
Mas suas características mais marcantes eram as cores: dourado com detalhes pretos e rodas de 13 polegadas na cor da carroceria, ou preto com detalhes e rodas douradas. Com desempenho bastante satisfatório para a época, trazia 80 cv SAE a 5800 rpm com 11,6 kgfm de torque a 3600 rpm extraídos do motor 1.6 a gasolina. Em testes de imprensa do início dos anos 80, conseguia chegar aos 100 km/h em 17,64 segundos, com velocidade máxima de 149,377 km/h.
Após a edição Ouro Preto, a vida do Chevette seguiu: ele ganhou uma carroceria picape em 1983, a Chevy 500, já com a identidade visual mais recente, tração traseira e 500 kg de capacidade de carga. Robusta como seu irmão sedan, ela ainda pode ser vista rodando, sempre a trabalho, pelos interiores do país. Depois, na linha 1986, toda a linha Chevette, incluindo Sedan, Station e Picape, ganhou o opcional da transmissão automática de 3 velocidades, uma atitude inédita da Chevrolet para meados daquela década.
Em 1987, teve seu último facelift, recebendo novos padrões de acabamento e para-choques envolventes de plástico, deixando-o mais atual e interessante perante a concorrência. Várias motorizações compuseram seu conjunto motriz: 1.4, 1.6, 1.6/S e um ano antes de sair de linha, o pífio 1.0 com 50 cv do espartano Chevette Junior, representante da guerra dos 1.0.
A carroceria Hatch se despediu nos idos de 1987, e a Station em 1989. Mesmo com a chegada do seu sucessor direto em 1989, o Kadett, o Chevette Sedan sobreviveu até 1993. A picape Chevy 500 foi ainda mais além: saiu de cena só em 1995, quando deu espaço para a Corsa Pick-Up e encerrou de vez a era dos compactos com tração traseira na história da Chevrolet brasileira. Ah, e sobre o Ouro Preto, quem tem uma unidade da edição especial, guarda uma joia rara: poucos foram fabricados, e hoje só restam alguns sobreviventes.