O Ford Corcel foi o segundo carro de passeio da marca à venda no Brasil. Lançado em 1968 com quatro portas e um estilo tipicamente francês, foi projetado pela Willys Overland do Brasil em parceria com a Renault como o primeiro projeto da Ford brasileira, que comprou a Willys em 1967.
Em 1969 era lançada a carroceria cupê, que seria a mais vendida, e no ano seguinte viria a perua, chamada de Belina, um carro que agradou em cheio o consumidor brasileiro. Considerado moderno para seu tempo, o station teve grande sucesso, e concorria diretamente com o VW Variant, veículo de projeto e concepção muito mais antigos.
Nas versões Standart e Luxo Especial, a linha Corcel trazia motor 1.3 de 68 cv de potência SAE a 5200 rpm (aproximadamente 57 cv ABNT) com 9,8 kgfm de torque a 3200 rpm. O Corcel cupê com motor 1.3 acelerava de 0 a 100 km/h em 21 segundos, enquanto a station demorava 24, segundo testes da Revista Quatro Rodas na época. A velocidade máxima era de 141 km/h e 129 km/h, respectivamente, números respeitáveis àquela época. Independente da carroceria, o Corcel e seus derivados tinham como trunfos o espaço interno, bom porta-malas e baixo consumo, com médias de 10 km/l na cidade e 13,4 km/l na estrada (também testes de imprensa da época).

Acompanhando o mercado, em 1973 o Ford Corcel Cupê, Sedan e Belina receberam nova frente e um motor mais possante, antes usado no Corcel GT XP de 1972. Agora 1.4, tinham 75 cv SAE a 5400 rpm (aproximadamente 63 cv ABNT) com 11,6 kgfm de torque a 3600 rpm. Mais bonitos e com as mesmas médias de consumo, aumentaram ainda mais a participação de mercado em seus segmentos.
Quatro anos depois, na linha 78, veio a sua segunda geração dos modelos, intitulados Corcel II e Belina II, ambos com muito mais espaço interno e design bastante moderno para a época, sem trocar a velha plataforma de 1968. Melhorados e evoluídos, logo viraram os queridinhos das famílias e eram vistos com frequência nas garagens dos bairros de classe média e alta Brasil afora. A carroceria quatro portas era descontinuada, pois a marca do Oval Azul começava o projeto “Ômega”, batizado posteriormente de Del Rey.

Com uma suspensão extremamente confortável e estável, a linha II da família Corcel seguia movida pelo mesmo motor 1.4, mas com evoluções na carburação e na curva de torque. Passava para 78 cv SAE a 5400 rpm (68 cv ABNT), 11,5 kgfm de torque a 3600 rpm, seguindo com as mesmas boas médias de consumo.
O novo motor 1.6 só seria lançado na linha 1980. Nele já eram 90 cv SAE a 4800 rpm (76,8 cv ABNT) com 12,2 kgfm de torque a 2800 rpm na versão a etanol, ou então 70,6 cv ABNT a 5000 rpm com 11 kgfm de torque a 3000 rpm na versão a gasolina. Enquanto isso, com maior potência e torque em menores rotações, o 1.6 seguia com consumo similar ao do antigo 1.4. Além disso, estreava também a nova transmissão manual de 5 marchas, opcional para toda a linha Corcel II e Belina II.
A próxima novidade foi o sedan Del Rey, de 1981, que usava a mesma plataforma e mecânica do Corcel, porém com melhor acabamento e mais equipamentos. O três-volumes era voltado para o segmento de luxo, então comandado por GM Opala Comodoro e Diplomata. Além de concorrer com os Chevrolet, o Del Rey viria a substituir o Galaxie LTD e, dois anos depois, o Landau, ainda que não fosse tão grande quanto eles.
Vendido nas versões Standart e Ouro com duas ou quatro portas, o sedan da Ford tinha acabamento primoroso desde a mais simples, além de equipamentos então inéditos na categoria, como o teto-solar. O novo Ford era de fato luxuoso. A mecânica, vinda do Corcel assim como a plataforma, não escondia segredos: motor 1.6 de 90 cv SAE a 4800 rpm (76,8 cv ABNT) com 12,2 kgfm de torque a 2800 rpm na versão a etanol (70,6 cv ABNT e 11 kgfm a gasolina), aliado a transmissão manual de quatro ou cinco marchas. Nas duas variantes, o foco era o baixo consumo de combustível, algo bem-quisto à ocasião.

O público do Ford de luxo era exigente, por isso nele não faltavam requintes: console no teto com relógio digital e cronômetro, rodas de liga-leve, vidros verdes, vidros elétricos com comandos individuais nas portas e comando central, travas elétricas, travas de segurança para crianças nas portas traseiras, retrovisores com comando interno manual, faróis de neblina, desembaçador traseiro, cintos de segurança dianteiros retráteis, luzes de leitura, ar-condicionado, teto-solar, além de uma forração em veludo digna das melhores poltronas de teatro. Isso sem falar em um ótimo sistema de som com rádio AM/FM e toca-fitas com 4 alto-falantes. É claro que estes detalhes eram da versão Ouro, mais cara e completa.
Seu painel era um charme a parte, com iluminação indireta e todas as informações que um bom motorista precisava ter, como velocímetro com hodômetro parcial e marcação até 999.999 km, conta-giros, marcador de nível de combustível, termômetro do motor, voltímetro e manômetro do óleo. E para ajudar, mais 8 luzes-espia em fileira, e entre elas, uma que indicava se havia portas abertas. Ainda que o volante tivesse só dois raios, a peça era de boa empunhadura, e a alavanca de câmbio estava bem-posicionada.
Em 2 de Abril de 1982 chegava ao mercado o Pampa, pick-up que se tornaria referência no segmento de cargas leves e reforçaria o time de carros de trabalho da Ford. O modelo tinha foco no transporte de cargas mais pesadas, suspensão traseira reforçada, entre-eixos maior (14 cm extras ante ao Corcel) e suportava até 600 kg de carga. Na mesma data foi lançado também o Corcel II Van. Derivado do Ford Belina, o station era um furgão projetado para o transporte de cargas leves, transportando até 440 kg.
Para 1983, a Ford trazia muitas novidades. O Del Rey recebia o ótimo câmbio automático de 3 velocidades fornecido pela Renault, bastante eficiente e com trocas de marcha suaves. Com a chegada do Escort, também no mesmo ano, foi lançado o motor CHT, uma evolução dos Cléon-Fonte do Corcel e Del Rey. O novo propulsor tinha melhor rendimento e maior torque em baixa rotação, graças a novos comando de válvulas, pistões, bloco e cabeçote. Assim, a engenharia da Ford conseguiu extrair uma curva de torque bem mais plana, privilegiando seu funcionamento em baixas rotações, e tornando-se assim referência em economia de combustível por quase uma década. Para completar, chegava o Del Rey Scala, uma perua baseada na Belina e com todos os requintes do Del Rey. Um luxo!
Contendo o novo motor de 1.6 litro, a Scala a etanol tinha 73 cv de potência a 5.200 rpm e 11,9 kgfm de torque a 3.600 rpm. Com ele, a perua, em testes da imprensa especializada da época, pôde acelerar de 0 a 100 km/h em 16s8, atingindo de máxima os 148,148 km/h. O que impressionou foi seu consumo: 7,4 km/l no circuito urbano e 13,2 km/l no rodoviário, com velocidade média de 80 km/h. A 100 km/h, ainda registrava excelentes 11,1 km/l. Os freios eram modernizados com relação aos primeiros Del Rey e à linha Corcel, agora com discos ventilados.
Custando (muito) mais caro que a Belina “comum”, a Scala abusava de luxo, mantendo a frente mais elegante do Del Rey, com grade filetada cromada. Trazia de série o bagageiro, uma marca ao modelo de pompa, e se equiparava ao Del Rey Ouro, mantendo todos os seus acessórios e opcionais. Seu painel era completo, a cabine tinha bancos mais anatômicos e com apoios de cabeça no melhor estilo Mercedes-Benz, com novo padrão de estofamento.
Além disso, trazia de série transmissão manual de 5 velocidades, vidros elétricos, vidros verdes com para-brisas Degradê, travas elétricas, lavador/limpador/desembaçador do vidro traseiro, faróis de milha, comando interno dos retrovisores, console no teto com relógio digital e cronômetro e rodas de liga-leve. Como opcionais, o bom ar-condicionado, câmbio automático e rádio AM/FM com toca-fitas e 4 alto-falantes.
Mas a Ford fez algumas mudanças na linha Del Rey/Belina/Scala já em 1985, com nova frente, seguindo o visual do Corcel, com grade que privilegiava a aerodinâmica e um spoiler que servia de moldura para os faróis de neblina. O sedan trocou a versão Ouro pela nova Ghia (ainda topo de linha), estreou a inédita GLX (muito bem aceita pelo mercado, aliás), enquanto a perua Scala continuava sendo oferecida em versão única, a gasolina ou a álcool.
A Scala perdia o requinte das rodas de liga leve, mas o aro aumentava para 14 polegadas, enquanto a direção hidráulica passava para a lista de opcionais, junto da transmissão automática, pintura metálica e ar-condicionado/aquecedor. A configuração básica já oferecia, também, um rádio AM/FM com toca-fitas de série. Como curiosidade, Del Rey e Scala foram os primeiros carros nacionais não esportivos a utilizar pneus de perfil 60.
No final de 1986 a linha Corcel era descontinuada, onde, para 1987, a Belina agora fazia parte da família Del Rey, já que o nome Scala deixaria de existir. Além de novas cores, eram lançadas novas versões. A versão topo de linha passava a ter retrovisores elétricos, e a Belina Del Rey 4×4, curiosa herança da Belina-Corcel, sobreviveu por mais algum meses, mas logo também foi descontinuada. O luxo permanecia, mas sem o mesmo glamour, pois agora, O Del Rey Scala era Belina, fosse L, GLX ou Ghia.
