Ford Ka CLX 1.3: a simpática versão top de linha que durou pouco
Com o fim da Autolatina em 1996, a Ford do Brasil renovou sua gama de produtos e trouxe novos produtos pra cá. O mais representativo desta nova fase da marca no Brasil foi o Ka. Lançado no Salão de Paris de 1996 na Europa, chegou em nosso país menos de cinco meses depois, em fevereiro de 1997, e inaugurou o conceito “New Edge” de design, visto posteriormente no Fiesta e Focus.
Embora pequeno, o modelo, cujo nome tinha inspiração egípcia, tinha comportamento de carro maior. Medindo 3,62 m, era 20 cm menor que o Fiesta, irmão de plataforma, e tinha a mesma largura. Ambos os hatches da Ford tinham 2,44 m de entre eixos, mas o Ka tinha capacidade para quatro passageiros, que viajavam confortavelmente em seu habitáculo, e o Fiesta, levava um a mais, com um pouco de aperto.
O irmão maior Fiesta cedia também vários componentes da parte mecânica, incluindo o motor Endura 1.3 EFI de 60,2 cv de potência a 5000 rpm com 10,4 kgfm de toque a 3500 rpm e a transmissão manual de cinco marchas IB5, que equipavam a versão mais cara do Ka, chamada de CLX, dividida em três pacotes de acabamento. Desde a época do lançamento, o Ka CLX já era considerado um carro raro, dado o fato que a Ford optava por fabricar 85% das unidades em versões simples com motor 1.0, e somente 15% eram CLX 1.3.
Mesmo com a boa cilindrada considerando seu peso de 920 kg, não era muito rápido: ia de 0 a 100 km/h em 15,9s e atingia os 151 km/h de velocidade máxima, aqui graças ao coeficiente de arrasto de 0,36. Por sua injeção eletrônica multiponto e bom escalonamento do câmbio manual, o pequeno era bastante econômico, apresentando médias de 13,60 km/l de gasolina na cidade e 18,60 km/l na estrada, o que significava alcance de mais de 780 km em viagens. Todos dados oficiais de fábrica.
Estes predicados já o tornavam uma boa opção, mas seu design impressionava, deixando até mesmo o Fiesta, lançado no Brasil meses antes, ultrapassado. Era mesmo diferente de tudo o que tínhamos até então: seu formato era inspirado em uma pirâmide, com paralamas que incorporavam os para-choques, e o interior era muito bem resolvido, abusando de linhas ovais e de soluções inteligentes de espaço.
Na traseira, havia um porta-objetos embutido no apoio de braço lateral, capaz de alojar jornais, revistas, bolsas e celulares. No piso, junto ao banco traseiro, dois porta-copos. Seu porta-luvas, giratório ou removível, era inovador, e encantava os usuários pelas três opções de utilização.
Ainda assim, dado o formato da traseira e o foco do espaço aos ocupantes, o Ka tinha porta-malas bastante compacto, com apenas 186 litros de capacidade, mas seu banco traseiro bipartido em 50/50, quando rebatido, elevava consideravelmente o espaço para as bagagens. Suas portas tinham dimensões generosas, o que facilitava o acesso ao banco traseiro, assim como a área envidraçada, melhorando o bem-estar a bordo e a visibilidade na condução.
Mais soluções, hoje comuns em qualquer veículo, encantavam os proprietários do pequeno Ka há exatos 27 anos. Os direcionadores de ar do painel, arredondados, se moviam em todos os sentidos, contribuindo ainda mais para a já boa ventilação da cabine, e seu relógio analógico, no centro do painel, era democrático, atendendo a todos os ocupantes. Se fosse hoje, teria no mínimo uma tela multimídia no local.
A versão CLX trazia de série um toca-fitas ou CD Player moldado ao painel, outra característica inovadora. Seu volante, de 2 raios, tinha boa empunhadura, contribuindo com a boa dirigibilidade do hatch, principalmente quando se tratava de sua agilidade, e, ao mesmo tempo estabilidade, mesmo em curvas acentuadas. Por essas e outras, muitos o chamavam carinhosamente de “KArt”. O que incomodava, porém, era o acionamento da buzina no centro do volante, que necessitava de força e, em muitas das vezes, fazia com que a mão saísse fora da posição de condução.
Além disso, a posição da coluna de direção, um tanto alta, incomodava quem tivesse mais de 1,75m de altura, e, mesmo na versão CLX, o modelo nunca ofereceu regulagem de altura, nem como opcional. Também ficava de fora da lista de itens de série e de opcionais a regulagem de altura do banco do motorista. As vezes era difícil achar uma boa posição para dirigir o Ka, mas, quando encontrada, a condução agradava.
Dentre os itens de série, equipamentos interessantes em se tratando de um hatch popular dos anos 90: barras de proteção lateral nas portas, cintos de segurança de três pontos para todos os ocupantes, vidros verdes, espelho de cortesia nos parassóis, regulagem de altura para os encostos de cabeça dianteiros (os traseiros eram meros ressaltos no encosto), controle interno dos retrovisores externos, vidros laterais traseiros basculantes e rodas aro 13 sempre revestidas com supercalotas plásticas. Caprichos por vezes não vistos em rivais como VW Gol, Fiat Mille e Chevrolet Corsa.
A versão CLX em questão, por ser a mais cara da gama, e única movida pelo motor Endura 1.3, tinha uma recheada lista de conteúdos desde o nível mais simples do catálogo, que incluía até ar-condicionado, limpador e desembaçador do vidro traseiro, o mencionado relógio analógico ao centro do painel, vidros elétricos, travas elétricas com comando central, chave com iluminação, frisos de borracha laterais e rádio AM/FM com toca-fitas e dois alto-falantes. Os outros três níveis superiores de acabamento somavam opcionais como toca-fitas estéreo com alto-falantes mais poderosos (ou CD Player), direção hidráulica, brake-light, aviso de faróis acesos ao abrir a porta, sistema de alarme, rodas de liga-leve aro 13 e airbag duplo.
Eram oito cores disponíveis, sendo as sólidas Vermelho Flórida e Azul Valência, as metálicas Cinza Viena, Azul Turim e Prata Colúmbia e as perolizadas Preto Indy, Vermelho Antilhas e Prata Texas. Mesmo custando R$13.600,00 na época, ou atuais R$69.253,36 de acordo com o INPC (IBGE), o Ka CLX 1.3 vendeu em seu primeiro ano de produção mais de 8.000 unidades, das quais quase 5.600 ainda estão em circulação, segundo o DENATRAN.
O Ka CLX 1.3 ficou em produção até meados do segundo semestre de 1999, quando foi completamente substituído pela GL Image 1.0, que debutava com o então moderno motor Zetec-Rocam. Mas essa é outra história…