Ford Ka 1.0 Endura e Zetec-Rocam: a fase inicial do primeiro subcompacto nacional


O Ford Ka foi lançado no Brasil em março de 1997 sob o título de “primeiro subcompacto nacional”, e inaugurou o conceito “New Edge” de design da marca do Oval Azul, visto posteriormente no Fiesta e Focus. Na ocasião da estreia nacional, o modelo agradou logo de cara, mesmo custando razoáveis R$10.990,00 em maio de 1997, hoje R$57.832,35, de acordo com o índice INPC (IBGE).
Embora pequeno, o modelo, cujo nome tinha inspiração egípcia, tinha comportamento de carro maior. Medindo 3,62 m, era 20 cm menor que o Fiesta, irmão de plataforma, e tinha a mesma largura. Ambos os hatches da Ford tinham 2,44 m de entre eixos, mas o Ka tinha capacidade para quatro passageiros, que viajavam confortavelmente em seu habitáculo, e o Fiesta, levava um a mais, com um pouco de aperto. O Ka perdia consideravelmente no porta-malas, também.

Do irmão maior vinham também alguns componentes mecânicos: motor Endura 1.3 EFI de 60,2 cv a 5000 rpm e 10,4 kgfm de toque a 3500 rpm, capaz de levar o “Kazinho” de 0 a 100 km/h em 18,6s, atingindo os 148,5 km/h de velocidade máxima, segundos dados do seu primeiro teste na revista Quatro Rodas. A transmissão manual IB5, de cinco velocidades, também era a mesma nos dois carros.

Pouquíssimo tempo depois, ainda em abril de 1997, chegava à versão 1.0, coqueluche nos idos dos anos 90. O motor Endura de 1000 cilindradas fornecia 53,5 cv a 5200 rpm e 7,86 kgfm de torque a 4000 rpm, sem muita perda no desempenho: o 0 a 100 km/h demorava 19,83s, com máxima de 141,4 km/h, também de acordo com o teste da Quatro Rodas. Com desempenho muito próximo ao da versão 1.3, e preço mais baixo, o Ka 1.0 tinha mais um ótimo argumento de venda: baixo consumo de combustível.

Neste quesito, o carrinho era imbatível, tornando-se o modelo nacional mais econômico do mercado. Em testes da Revista Quatro Rodas na época, apresentou médias de 13,63 km/l de gasolina na cidade e 18,30 km/l na estrada. Com motor 1.3 era também bastante econômico, mas não atingia os excelentes números do pequeno Endura 1.0.
O carro era bonito, inovador, e mesmo na versão básica, impressionava. Na traseira, havia um porta-objetos embutido no apoio de braço lateral, capaz de alojar jornais, revistas, bolsas e celulares. No piso, junto ao banco traseiro, estavam dois porta-copos. Seu porta-luvas giratório era inovador, e encantava os usuários pelas três opções de utilização.

O Ka tinha o contraponto do porta-malas compacto, com apenas 186 litros de capacidade, mas o banco traseiro bipartido em 50/50 aumentava a capacidade de espaço. Suas portas tinham dimensões generosas, o que facilitava o acesso ao banco traseiro, e sua excelente área envidraçada contribuía bastante para a visibilidade do motorista.

Mais soluções, hoje comuns em qualquer veículo, encantavam no subcompacto há exatos 27 anos. Por exemplo, os direcionadores de ar do painel, arredondados, se moviam em todos os sentidos, contribuindo ainda mais para a já boa ventilação interna. Além disso, seu relógio analógico opcional, no centro do painel, informava a todos os ocupantes a hora certa. Na versão básica, ao invés do relógio, havia uma tampa plástica com a inscrição “Ka”.

No sistema de som, um toca-fitas nacional, moldado ao painel inovador. Seu volante de dois raios tinha boa empunhadura, tornando a condução mais ergonômica. Principalmente quando se descobria que o pequeno carrinho era muito ágil, e, ao mesmo tempo, estável em curvas acentuadas. O que incomodava, neste mesmo volante, era o acionamento da buzina, que necessitava de mais energia, em muitas das vezes, com a mão fora da posição de condução.

A posição da coluna de direção, um tanto alta, incomodava quem tivesse mais de 1,75 m de altura, e o modelo nunca ofereceu regulagem de altura, nem como opcional. Também eixava fora da lista de itens de série e de opcionais a regulagem de altura do banco do motorista. As vezes era difícil achar uma boa posição ao dirigir no primeiro “Kazinho”.

Dentre outros equipamentos, o modelo trazia cintos de segurança dianteiros e traseiros de 3 pontos, vidros verdes, espelho no parassol direito, janelas traseiras basculantes, espelhos retrovisores dos dois lados com regulagem interna manual, encosto do banco traseiro regulável na altura em duas posições, banco traseiro bipartido, acendedor de cigarros, rodas aro 13 com supercalotas e pneus 145SR13, além das charmosas setas no paralamas. Não tinha pintura nos para-choques, maçanetas ou retrovisores, nem cobrada a parte.

O ar-condicionado, limpador/desembaçador do vidro traseiro, relógio analógico no painel, limpador e desembaçador do vidro traseiro, aquecedor, vidros elétricos, travas elétricas, chave com luz, rádio toca-fitas e pneus 165/70R13 eram opcionais, junto das oito cores disponíveis: as sólidas Vermelho Flórida e Azul Valência, as metálicas Cinza Viena, Azul Turim e Prata Colúmbia e as perolizadas Preto Indy, Vermelho Antilhas e Prata Texas.

A versão CLX, topo de linha, ficou em produção até meados de 1999, quando foi substituído pela GL Image 1.0, com o novo motor Zetec-Rocam de 65 cv de potência a 6000 rpm e 8,9 kgfm de torque a 3250 rpm. Com balancins roletados nas válvulas e comando acionado por corrente no interior do bloco, o Zetec-Rocam foi disponibilizado para todas as versões do Ka 1.0, que agora fazia de 0 a 100 km/h em 17,21s e alcançava 151,42 km/h de velocidade máxima. Seu consumo era um pouco prejudicado, mas a concorrência também buscava potência: 12,5 km/l de gasolina na cidade e 17,4 km/l na estrada. Na época, ainda as melhores do mercado.
O subcompacto da Ford já tinha seu público cativo, e ficava melhor de dirigir, mais silencioso e com um desempenho bastante arisco (naquele tempo, é claro). As arrancadas dos semáforos eram mais rápidas, e no geral, o Ka 1.0 com motor Zetec-Rocam era muito mais ágil nas retomadas, acelerações e na hora de encarar subidas, por exemplo.

O primeiro facelift do Ka nacional foi apresentado na linha 2002, no final de novembro de 2001 (vendas iniciadas em dezembro). A dianteira trazia nova grade e saia dianteira com novo design, conjunto inspirado no Focus, e, na traseira, a tampa do porta-malas recebia a placa, antes alocada no para-choque, que ganhava design mais discreto e elegante. A Ford também anunciava vidros mais escuros, com 75% de transparência, versus 80% do modelo anterior.
Fechando o pacote das mudanças externas, lavador do vidro traseiro com esguicho embutido na haste, novas calotas e pneus 165-70R13 de série, além de quatro cores inéditas no catálogo (as metálicas Prata Geada e Azul Acapulco, além das perolizadas Cinza Nassau e Vermelho Milão). Branco Ártico, Preto Ebony, Vermelho Bari, Verde Marselha e Azul Mônaco continuavam sendo oferecidas.
Internamente, uma tomada 12 volts entrava no lugar do acendedor de cigarros, o porta-luvas era maior e com tampa retrátil, havia um novo porta-trecos junto ao retrovisor interno e luzes de leitura redesenhadas (com foco direcionável nas versões mais caras). Também mudava a alavanca de transmissão: o pomo inédito fazia par a uma coifa inteiriça, em material plástico, substituindo a anterior em napa.
Seu velocímetro, agora com fundo branco, estreava o hodômetro digital e passava a marcar até 999.999,9 km. Antes, o limite era de 99.999 km, o que dificultava a leitura da quilometragem total do carro. A marca chamava esse novo painel de instrumentos de “híbrido”, já que mesclava ponteiros analógicos (velocímetro e marcador do nível de combustível), com a pequena tela digital do odômetro. Mudavam também as forrações internas: painel cinza, e estofamento mais escuro com desenho discreto, agradando também o público masculino e mais maduro.
Agora reestilizado, o Ka 2002 passava a custar a partir de R$16,9 mil na versão 1.0 mais básica. Eram, aliás, duas configurações com motor 1.0: GL e Image (esta perdia o primeiro nome, “GL”). Havia ainda a XR 1.6, bem mais cara e esportiva, mas essa é outra história.
Desta fase reestilizada, pós-2002, é o carro que também ilustra as fotos desta matéria, cedido gentilmente pelo Lucas Mateus de Oliveira Legere, de São José do Rio Preto/SP.
O modelo, um GL fabricado em junho de 2004, está na família do Lucas há alguns anos, e apresenta uma conservação acima da média. É o carro de uso diário de seu proprietário, também dono de um Ford Del Rey Ghia 1.8 1990. Apresentando 181 mil km originais no odômetro digital, ainda mostra uma dirigibilidade suave, com motor potente e sereno, e sem nenhum ruído de acabamento interno. E graças aos cuidados do dono, o exemplar mantém desempenho e consumo bem próximos aos de quanto o “Kazinho” era novo.