Ford Fiesta Supercharger: o nacional pioneiro no uso de compressor mecânico

Lançado no exterior em 1976, o Ford Fiesta é um sucesso pelo mundo todo, bastante elogiado por sua dirigibilidade e eficiência. No Brasil, desembarcou ainda importado em 1995 em sua terceira geração, e a partir de 1996, passou a ser fabricado no país, já em sua quarta geração. Após um facelift em 1999, o modelo ganhou de vez o coração do brasileiro, que o viu como uma opção bastante interessante ante a seus concorrentes, como VW Gol, GM Corsa, Fiat Palio, Peugeot 206 e Renault Clio.

Em 2002, a VW lançava a nova geração do Polo, desta vez nacional, e a GM contra-atacava com o Novo Corsa. Para não ficar para trás, a Ford fazia sua grande aposta com a quinta geração do Ford Fiesta que, assim como seus rivais, era novidade ainda no exterior. Na ocasião do seu lançamento, em maio, o novo hatch da marca do Oval Azul partia de R$18.990, equivalentes a R$100.802,66 na inflação atual, de acordo com índice IGP-M (FGV).

Para não ficar para trás, a Ford brasileira lançava a geração mais atual do Fiesta por aqui em 2002 (Foto: Ford/divulgação)

O modelo não era apenas uma cópia da versão europeia, e sim um novo carro, com profundas alterações mecânicas. Sua carroceria seguia o conceito New Edge, com amplo espaço interno e refinamento de construção. As rodas passavam a ser aro 14 de série, com pneus 175/65 desenvolvidos especialmente para o modelo. As lanternas traseiras vinham em disposição alta, assim como no Corsa, e tinham 62 centímetros de comprimento, envolvendo toda a coluna C.

O carro nacional tinha profundas alterações mecânicas, mas se baseava no projeto original europeu (Foto: Ford/divulgação)

A boa ergonomia e excelente posição de dirigir convidavam o motorista a admirar o belo painel, que apesar de simples, era injetado em peça única, a fim de evitar rangidos ao longo dos anos. O espaço também era bom atrás, assim como o porta-malas de 305 litros.

Seu painel era injetado em peça única: evitava barulhos no futuro (Foto: Ford/divulgação)

O velocímetro, vistoso, tinha fundo cinza e iluminação verde, além de hodômetro, marcador de combustível e de temperatura do motor digitais. Trazia também hodômetro parcial e conta-giros, algo então comum nos compactos-premium. Porém, essa geração não trazia regulagem de altura ou distância da direção, e o Airbag era item opcional.

Airbag era item opcional, e era vendido separadamente para motorista e passageiro (Foto: Ford/divulgação)

Lançado nas versões Personnalité 1.0L (de entrada), Supercharger 1.0L e o Class 1.6L, era elogiado pelo funcionamento suave de seu motor Zetec Rocam e pelo perfeito casamento entre motor, câmbio, direção e suspensão, em qualquer versão. Era difícil encontrar os limites do carro em curvas.

Destaque no Fiesta 2003 era a dinâmica boa, e o casamento feliz entre todos os componentes mecânicos (Foto: Ford/divulgação)

Sempre a gasolina de início, o motor 1.0 aspirado fornecia 66 cv a 5750 rpm e 8,9 kgfm de torque a 2750 rpm, capaz de levar o Ford de 980 kg de 0 a 100 km/h em 20,6s e atingir 150 km/h de velocidade máxima. Era pouco, mas agradava quem queria ter um dos carros mais belos de seu tempo e não se importava com alto consumo. As médias eram de 8,8 km/l na cidade e 12,7 km/l na estrada, sempre com gasolina.

1.0 era bom nos números, embora consumisse mais combustível que o 1.6 (Foto: Ford/divulgação)

A versão 1.6 fornecia 98 cv a 5250 rpm e 14,37 kgfm de torque a 4250 rpm. Com a força chegando mais tarde, a sensação era de falta de torque nas arrancadas, mas tinha um funcionamento bastante suave e agradava. O Fiesta 1.6 fazia de 0 a 100 km/h em 13,3s e alcançava os 174 km/h de velocidade máxima. Seu consumo muito bom para a cilindrada, atingindo médias de 10,9 km/l de gasolina na cidade e 15,8 km/l na estrada. Melhores que as do 1.0…

Versões 1.6 eram as mais completas, e também mais caras (Foto: Ford/divulgação)

A grande estrela era o motor 1.0 Superchager. Com quase 30 cv a mais se comparado com a versão aspirada, o “milzinho” com compressor mecânico fornecia 95 cv a 6000 rpm e 12,64 kgfm de torque a 4250 rpm, reduzindo seu tempo na prova de 0 a 100 km/h para 13,72s e elevando a máxima para 176 km/h. Seu preço era R$4 mil mais alto que o da versão 1.0 básica (R$22.990, ou cerca de R$123.250 atuais), porém apenas R$2 mil mais em conta que a 1.6 mais barata (R$24.990 da época, R$134 mil atuais).

Em suma, andava praticamente o mesmo que a versão 1.6, custava o equivalente a R$10 mil atuais a menos, mas cobrava mais caro na hora de abastecer, atingindo médias de 8,03 km/l de gasolina na cidade e 11,9 km/l na estrada, sempre de acordo com testes da Revista Quatro Rodas na época. Com um tanque de 45 litros de capacidade, eram várias visitas ao posto de combustível.

Basicamente, os Fiesta Supercharger andavam quase juntos dos 1.6, mas custavam R$2 mil a menos na época (Foto: Marco de Bari/Quatro Rodas)

O compressor trazia um funcionamento mais simples que o turbo, usado nos VW Gol e Parati Turbo. No caso dos Fiesta, o sistema de superalimentação do motor (que força o ar para dentro dos cilindros), tem como vantagem a entrega de potência de forma mais suave e linear, uma vez que é acionado por uma correia ligada a uma polia no motor, ou seja, está em funcionamento o tempo todo.

Nos Fiesta, o compressor era mecânico, ligado numa polia do motor, ou seja, ele era acionado logo na partida do carro (Foto: Ford/divulgação)

O Supercharger está lá pronto até em marcha lenta, diferentemente do turbo que utiliza a pressão dos gases do sistema de escape do motor para girar a turbina e acionar o compressor, fornecendo mais ar na mistura do combustível.

Visualmente, praticamente nada diferia um Fiesta Supercharger de outros Fiesta 1.0 (Foto: Ford/divulgação)

Com exceção de um sopro agudo que vinha do motor, provocado pelo gerenciamento de ar entre os rotores e que de fato incomodava seus proprietários, o motor era bastante resistente, assim como o seu compressor. A rotação a 100 km/h em 5ª marcha era alta, 3450 rpm, mas nada incomum para os carros 1.0 daquele tempo.

Como característica de funcionamento, um sopro agudo nas acelerações, provindo da ação do compressor mecânico (Foto: Ford/divulgação)

Em teste da revista Quatro Rodas publicado em janeiro de 2004, após rodar 60.000 km, o Fiesta Superchager foi aprovado com louvor, com desgaste mínimo em seus componentes mecânicos, bem como em seu compressor. As ressalvas eram apenas para barulhos internos e o alto consumo de combustível.

Carro chegou a passar pelos testes de Longa Duração da Revista Quato Rodas e se saiu bem (Foto: Ford/divulgação)

Com desempenho e fôlego de sobra, em 2003 o motor foi adotado também no EcoSport, SUV lançado naquele ano. Este trazia os mesmos números de potência, porém, devido ao seu peso 200 kg maior que o do Fiesta, fazia de 0 a 100 km/h em 14,8s e atingia 157 km/h de velocidade máxima. Perdia para o hatch também no consumo, fazendo 7,4 km/l de gasolina na cidade e 11,6 km/l na estrada. O EcoSport Supercharger foi um fiasco em vendas.

Ecosport 1.0 Supercharger: um dos maiores fracassos da nossa indústria (Foto: Ford/divulgação)

Em 2004 o motor passava a ser adotado também no Fiesta Sedan. Com 1059 kg, o três volumes da Ford fazia de 0 a 100 km/h em 14,1s e atingia 164 km/h de velocidade máxima, com médias de 8,2 km/l na cidade e 12,3 km/l na estrada com gasolina.

Fiesta Sedan Supercharger? Também existiu! (Foto: Ford/divulgação)

Muitos que dirigiam a versão 1.0 Supercharger e a 1.6, diziam que a primeira era mais áspera, produzia maior vibração em seu funcionamento, além de trabalhar em maior rotação do motor. O ruído do funcionamento do compressor também fazia das viagem um evento menos silencioso se comparado com os 1.6. Esta, além de ser mais silenciosa e suave, tinha menor consumo em todas as situações.

Consumo altíssimo era problema dos Fiesta com compressor mecânico, sem contar o barulho em excesso (Foto: Ford/divulgação)

Outro ponto que se tornou posteriormente polêmico foi com relação ao fluído de lubrificação do compressor, que deveria ser trocado periodicamente e que poucos proprietários sabiam. Isso resultou, a logo prazo, em danos irreparáveis à maioria dos compressores, uma vez que, por falta da manutenção correta, tiveram sua vida útil reduzida, com aumento substancial do ruído característico de funcionamento e perda de eficiência.

Supercharger era novidade no Brasil, mas o pioneirismo cobrava uma manutenção mais delicada: poucos proprietários trocavam o fluído de lubrificação do compressor (Foto: Ford/divulgação)

Em meados de 2006, quase enquanto lançava seu primeiro motores Flex, a Ford retirou de linha o motor 1.0 Supercharger, que, até então, ainda equiva os Fiesta Hatch e Sedan, além do EcoSport. Dali em diante, continuavam apenas as versões 1.0 e 1.6 para Fiesta e 1.6 e 2.0 para o Ecosport, sempre com aspiração natural e nada de compressores. O Fiesta só foi ganhar superalimentação novamente em 2016, dez anos depois, mas numa outra geração e configuração: três cilindros, flex, com injeção direta e turbocompressor. Mas essa é outra história…

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.