Ford Del Rey Ghia 250 mil: a comemoração de 250 mil unidades do substituto do Landau


Foto de capa: reprodução/O Corceleiro
Em 1977, como modelo 1978, a Ford apresentou a segunda geração da linha Corcel, intitulados Corcel II e Belina II. Ambos vieram com muito mais espaço interno e design bastante moderno à época, mesmo utilizando a velha plataforma do seu antecessor lançado em 1968.
Logo, sedan e perua viraram os queridinhos das famílias e eram vistos com frequência nas garagens dos bairros de classe média e alta Brasil afora. Ao mesmo tempo, a Ford começava o projeto “Ômega”, que viria a ser o sedan Del Rey, apresentado oficialmente em 1981 como o carro mais sofisticado da marca no nosso mercado (leia mais sobre ele aqui).
Ele usava a mesma plataforma e mecânica do Corcel, porém com melhor acabamento e mais equipamentos. O modelo era voltado para o segmento de carros de luxo, então comandado por GM Opala Comodoro e Diplomata. Além de concorrer com os Chevrolet, o Del Rey viria a substituir também o Ford Galaxie LTD, e dois anos depois, o Landau, ainda que não fosse tão grande quanto eles.

Vendido das versões Standart e Ouro com duas ou quatro portas, tinha acabamento primoroso desde a mais simples, além de equipamentos então inéditos na categoria, como o teto-solar. O novo Ford era de fato luxuoso. A mecânica, também emprestada do Corcel, não escondia segredos: motor 1.6 (evolução do 1.4), de 76,8 cv ABNT a 4800 rpm (90 cv SAE) com 12,2 kgfm de torque a 2800 rpm a etanol, ou 70,6 cv ABNT a 5000 rpm e 11 kgfm de torque a 3000 rpm a gasolina. Nas duas variantes, o foco era o baixo consumo de combustível, algo bem-quisto à ocasião.
O público do Ford de luxo era exigente, por isso nele não faltavam requintes: console no teto com relógio digital e cronômetro, rodas de liga-leve, vidros verdes, vidros elétricos com comandos individuais nas portas e comando central, travas elétricas, travas de segurança para crianças nas portas traseiras, retrovisores com comando interno manual, faróis de neblina, desembaçador traseiro, cintos de segurança dianteiros retráteis, luzes de leitura, ar-condicionado, teto-solar, além de uma forração em veludo digna das melhores poltronas de teatro. Isso sem falar em um ótimo sistema de som com rádio AM/FM e toca-fitas com 4 alto-falantes. É claro que estes detalhes eram da versão Ouro, mais cara e completa.
Seu painel tinha um charme a parte, com iluminação indireta e todas as informações que um bom motorista precisava ter, como velocímetro com hodômetro parcial e marcação até 999.999 km, conta-giros, marcador de combustível, termômetro do motor, voltímetro e manômetro do óleo. E para ajudar, mais 8 luzes-espia em fileira, e entre elas, uma que indicava se havia portas abertas. Ainda que o volante tivesse dois raios, a peça era de boa empunhadura, e a alavanca de câmbio (que podia ter 4 ou 5 marchas) estava bem-posicionada.

Para a linha 1983, seguindo a oferta da Chevrolet para com os Opala, o Del Rey recebia o ótimo câmbio automático de 3 velocidades fornecido pela Renault, bastante eficiente e com trocas de marcha suaves. As perdas de desempenho e consumo eram mínimas, o que agradou em cheio o público a quem se destinava. Nesta época, a mídia especializada o caracterizava como um “Mini Landau”. Em meados de 83, para completar, chegava a Scala, uma perua baseada na Belina e com todos os requintes do Del Rey. Um luxo!
Com a chegada do Escort, também no mesmo ano, foi lançado o motor CHT, uma evolução dos Cléon-Fonte do Corcel e Del Rey. O novo propulsor tinha melhor rendimento e maior torque em baixa rotação, graças a modificações no comando de válvulas, pistões, bloco e cabeçote (novos). Assim, a engenharia da Ford conseguiu extrair uma curva de torque bem mais plana, privilegiando seu funcionamento em baixas rotações, e tornando-se assim referência em economia de combustível por quase uma década.
Contendo 1,6 litro, a versão a etanol tinha 73 cv de potência a 5.200 rpm e 11,9 kgfm de torque a 3.600 rpm. Com ele, o Del Rey, em testes da imprensa especializada da época, pôde acelerar de 0 a 100 km/h em 17s2, atingindo de máxima os 153,714 km/h. O que impressionou foi seu consumo: 7,9 km/l no circuito urbano e 14,1 km/l no rodoviário, com velocidade média de 80 km/h. A 100 km/h, ainda registrava excelentes 12,3 km/l. Para modelos de luxo, eram números pra lá de bons, ainda mais se comparados aos dos antigos LTD e Landau.
Em 1985, a Ford fez algumas mudanças no modelo, com nova frente, seguindo o visual do Corcel, grade que privilegiava a aerodinâmica e um spoiler que servia de moldura para os faróis de neblina. O modelo passou a contar com outras nomenclaturas nas versões existentes, além de uma nova versão. O Standard virava o GL, o Ouro agora se chamava Ghia, e nascia a intermediária GLX, muito bem aceita pelo mercado. A topo de linha perdia o requinte das rodas de liga-leve, mas o aro aumentava para 14 polegadas. Como curiosidade, Del Rey e Scala foram os primeiros carros nacionais não esportivos a utilizar pneus de perfil 60.
Para 1987, além de novas cores e retrovisores elétricos para a topo de linha Ghia, chegava a versão L, substituta do Corcel, descontinuado um ano antes. A Belina agora fazia parte da família Del Rey, já que a Scala também fora descontinuada. Ponto fora da curva, a Belina Del Rey 4×4, curiosa herança da Belina-Corcel, sobreviveu por mais algum meses, mas logo também foi descontinuada.
Mas os últimos três anos da década de 80 foram marcados pela época dos motores 2.0: a GM lançava o seu para o Monza em 1987, seguido do famoso AP-2000 da Volkswagen (1988), que passou a equipar inicialmente as versões da linha Santana. Ao mesmo tempo, a Ford estava desenvolvendo seu 1.8, que seria lançado apenas no ano seguinte. Mas, antes disso, o Del Rey atingia um marco importante: 250 mil unidades vendidas. Para comemorar, a Ford Lançava uma série especial intitulada “Del Rey 250 Mil”. Nome mais sugestivo, impossível…
Com apenas 1.100 unidades produzidas entre 12/1987 e 01/1988, o Del Rey 250 Mil, disponível com 2 ou 4 portas, era baseado na versão topo de linha Ghia. Nele, os todos equipamentos de conforto eram de série, como antena elétrica, módulo de alarme, trava elétrica de 2 estágios, vidros elétricos, retrovisores elétricos, para-brisas laminado degradê, rádio toca-fitas, rodas aro 14 com calotas plásticas integrais e pneus 195/60, direção hidráulica e ar-condicionado, itens opcionais nos Del Rey Ghia convencionais.

O comprador da série especial podia escolher apenas o tom da carroceria, com pintura metálica ou não. O câmbio automático de três marchas não estava disponível para os “250 Mil”, porém, ainda assim, a edição limitava apelava para a boa relação custo X benefício. Outro acessório interessante e de série para esses Del Rey era uma pastinha de couro marrom com a inscrição alusiva à série na capa, onde iam os manuais, documentos e demais papéis do carro.
Externamente, o modelo era idêntico as versões Ghia, mas trazia como logotipia de identificação uma plaqueta escrito “250 mil”, abaixo do brasão “Ghia” nos dois paralamas. Atrás, aliás, continuavam os emblemas convencionais: o oval azul da Ford do lado direito e o nome “Del Rey Ghia” no lado esquerdo da tampa do porta-malas. Também há relatos da Ford Belina Ghia 250 Mil, porém sobre ela é praticamente impossível encontrar informações.
Em 1989, como frutos da Autolatina, chegavam os Del Rey e Belina 1.8, com o motor AP-1800 de origem VW. Tendo a maior potência de fábrica em sua carreira, com etanol a dupla rendia 93 cv a 5200 rpm (87 cv a gasolina), com 15,5 kgfm de torque a 2800 rpm (14,8 kgfm a gasolina), capazes de levar os confortáveis Ford de 0 a 100 km/h em 13,9 segundos (14,8 segundos com gasolina), chegando nos 156 km/h de velocidade máxima (154 km/h com gasolina). Neste ano, as rodas de liga-leve voltavam a ser disponibilizadas na versão Ghia, deixando-a ainda mais requintada visualmente. A série “250 Mil” já não existia mais.

Antigos, usando a mesma plataforma do Corcel 1968 e já sentindo as limitações técnicas dos projetos ultrapassados, os Ford de luxo eram vistos como carros de senhores, e sofriam quedas nas vendas no final de suas vidas. A Autolatina sabia disso, e, sem perder tempo, já preparou o Versailles, um VW Santana 2 portas com engenharia de emblemas, bem como a Royale, irmã rebatizada da VW Quantum. Eles foram os sucessores diretos de Del Rey e Belina, respectivamente, em 1991.
Mesmo sendo produtos refinados e do topo de linha, a dupla da Ford acumulou bons números de vendas: o Del Rey, por exemplo, chegou ao marco de 350 mil unidades comercializadas em seus dez anos de vida. Dos mais de mil carros produzidos no lote da edição limitada comemorativa, pouquíssimos sobreviveram íntegros e em bom estado para contarem história.
