Fiat Uno Mille Smart: o último suspiro do motor de 147
Mais uma vez venho falar do Mille. Ele foi o carro mais vendido da marca italiana no Brasil, o mais lucrativo, o mais racional e o mais espaçoso de seu tempo. Lançado em 1984, o Fiat Uno revolucionou o mercado no início de 1990 com o lançamento de sua versão popular, e com este, foi o grande responsável pela explosão de carros 1.0 “do povo” nas ruas das próximas duas décadas, lê-se anos 90 e 2000.
A primeira versão era baseada no Uno S, e seu primeiro motor era o antigo 1050 do Uno S a gasolina e Fiat 147, mas com a cilindrada reduzida para 994 cm³. Oferecia 48,8 cv de potência a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm. Acreditem, tinha potência suficiente até mesmo para viajar, andando na frente de modelos como GM Opala 4 cilindros e Ford Del Rey 1.6. Para ficar barato, era desprovido de quase tudo, desde servofreio, saídas de ar laterais, câmbio de 5 marchas, reclinador do encosto, apoio de cabeça, tampa do porta-luvas a acionamento elétrico do limpador de para-brisas. A lista de opcionais era vasta, compreendendo algumas dessas faltas e outros equipamentos.
O modelo deu tão certo que outras versões, cada vez melhores, começaram a surgir. Dentr elas, Brio, Electronic, a luxuosa ELX, a simplista I.E que substituía a Electronic, EP em substituição ao ELX, e, quando a Fiat lançou o Palio em 1996, cogitou-se a despedida do Mille, com o lançamento da versão SX, de pacote único e totalmente espartana. Mais uma vez o mercado surpreendeu, e o bom e velho Uninho chegou ao 2º lugar em vendas, ficando atrás apenas do VW Gol e seguido do Fiat Palio. Claro, o Uno ficou!
Equipado com motor injetado desde o lançamento das versões EP e i.E, seu 1.0 Fiasa de 58 cv de potência a 6000 rpm e 8,2 kgfm de torque a 3000 rpm era 10 cv mais forte que o primeiro Mille de 1990. Ele, junto da transmissão manual de cinco marchas, permitia aceleração de 0 a 100 km/h em 17,5s e levava o “tijolinho” a 151 km/h de velocidade máxima. Seu consumo com gasolina era muito bom para um motor alimentado por apenas um bico injetor, com médias de 11,22 km/l na cidade e 17,64 km/l na estrada.
A Fiat ainda tinha planos de descontinuar a linha Uno Mille, quando em 1998, na linha 1999, chegou o Mille EX. Em versão única, ele voltava às origens e trazia o básico: bancos dianteiros reclináveis, para-brisa laminado e volante espumado. A calota integral era substituída por uma de cubo (o famoso copinho), e as rodas em aço estampado vinham na cor prata. O termômetro do motor não era oferecido sequer como opcional, o velocímetro ganhava novo grafismo, e os retrovisores externos ganhavam regulagem interna, ao menos. A lista de opcionais era imensa, assim como no primeiro Mille de 1990.
No decorrer de 1999 a concorrência começou a atualizar seus modelos, quando o VW Gol ganhou um facelift, intitulado de nova geração, e eram retocados Ford Fiesta e GM Corsa. O Fiat Uno Mille EX chegou ao novo século vendendo super bem, mas, para acompanhar a concorrência e o novo milênio, um facelift foi desenvolvido para o Uninho, o primeiro desde 1991, e assim nascia o Millle Smart, apresentado em abril de 2000, o último a usar o motor 1.0 derivado do 147. A versão EX ainda durou por mais alguns meses como opção mais barata da linha, também movida pelo propulsor Fiasa.
Já no modelo 2001, o carro de entrada da Fiat, e também o mais barato do país, recebia algumas atualizações, por mais que fossem sutis. Sua grade dianteira foi redesenhada, com uma entrada de ar única ovalada e acabamento do tipo colmeia, com a logo da fabricante no centro. Esta logo era a mesma encontrada nos capôs do Fiat Palio, uma clara redução de custos, mas não deixava de ser mais elegante. As rodas de ferro prateadas aro 13 eram mantidas e agora ganhavam revestimento de calotas integrais.
As lentes das lanternas traseiras recebiam novo padrão, com cores mais vivas, acompanhando a nova maçaneta da tampa do porta-malas, mais discreta e moderna que a anterior. Era inédita também a ponteira do seu singelo escapamento. Na tampa ia ainda, no lugar padrão, a nova logotipia da versão.
Internamente, o Mille Smart recebia nova padronagem, mais sóbria, nos tecidos dos bancos e forros de porta, além de novo volante de 4 raios, similar ao da linha Tipo sem airbag. O quadro de instrumentos agora era o mesmo da linha Palio mais simples, com fundo cinza claro e luz indireta em tom verde. Apesar de conter apenas as informações básicas como velocímetro, odômetro total até 999.999 km, marcador de nível de combustível e luzes de advertência, o conjunto era muito bonito. Sua lista de equipamentos era similar à da versão EX, com alguns adicionais para deixá-lo mais recheado.
Para quem tinha fim decretado desde 1996, o hatch conseguia o feito de ser o quarto carro mais vendido do mercado nacional no varejo (terceiro no atacado), e tinha três opcionais separados: ar-condicionado, o chamado Kit Conforto (composto por vidros dianteiros elétricos, travas elétricas e apoios de cabeça traseiros), e o chamado Kit Visibilidade (somava os ajustes internos dos retrovisores externos, desembaçador do vidro traseiro, e limpador com lavador do vidro traseiro), além, é claro, da opção entre carroceria de duas ou quatro portas.
Custava, básico nas concessionárias, R$12.855,00 na época, ou R$115,00 a mais que a versão EX, mas tinha uma promoção de lançamento, a “Mille na Mão”: com ela, o consumidor levava grátis o emplacamento, primeiro IPVA, seis meses de seguro total e até um tanque cheio, despesas que somavam mais de R$1.200,00 naqueles tempos. Havia ainda a opção de compra pela internet, com as mesmas vantagens da Mille na Mão, porém com seguro total por 1 ano e preço promocional de R$11.440,00. Hoje, essa cifra equivale a R$71.161,97, de acordo com o índice IGPM/FGV. Vendendo muito bem, ficou em linha até a chegada do Mille Fire, com novo motor, em 2001, mas essa é outra história…