Fiat Palio Fire 1.3 16v 2000: o raro hatch com visual antigo e motor novo

Lançado em abril de 1996, o Fiat Palio era um projeto totalmente novo. Tinha foco em qualidade de construção, além de ser bastante confortável, principalmente se comparado ao Uno, e foi a resposta da marca italiana para o GM Corsa e o então renovado VW Gol de segunda geração. Apesar de idealizado na Itália, o modelo teve o ponto de partida de seu desenvolvimento no Brasil. E, convenhamos, nós entendemos bem de carros resistentes.  

Com 3,68 metros de comprimento e 1,61 metros de largura, o Palio era 4 cm maior que o Uno, e oferecia 1 cm a mais de espaço entre-eixos. O modelo causou alvoroço no mercado por suas linhas modernas e design fluído. Tinha dianteira apoiada em um sub-chassis, para isolar vibrações, e sua geometria foi elaborada para garantir o máximo de tração e aderência nas curvas. A suspensão macia não tirava a boa estabilidade, típica dos Fiat’s de Betim, e garantia conforto ao rodar.  

O hatch da Fiat até hoje é lembrado também pelas várias cores disponíveis (Foto: Fiat/divulgação)

Por dentro, acomodava muito bem motoristas com 1,90m, e seu para-brisas afastado ampliava a sensação de espaço. Sua posição de dirigir não era tão alta como os demais modelos da marca, e isso foi um ponto bastante positivo. 

Seu era câmbio macio, inédito em Fiat’s desta categoria, e tinha acionamento por cabos. Eles absorviam os impactos e eventuais imprecisões ante o sistema convencional de hastes metálicas. De tão eficiente, é o sistema de trambulador encontrado nos atuais Mobi, Argo, Cronos, Strada e Fiorino, e graças à Stellantis, é usado também no Citroën C3 e Peugeot 208 com motor 1.0 aspirado. Hoje é antigo e um tanto impreciso, mas em 1996, era uma evolução e tanto.  

Concorrente direto do VW Gol G2 (bolinha), GM Corsa e Ford Fiesta, o Palio chegou nas versões EL (motor Fiasa 1.5 8v MPI) e 1.6 16v (motor Torque fabricado inicialmente na Itália), todas elas com 3 ou 5 portas, sempre com injeção multiponto (daí o sobrenome “MPI”). O motor 1.6 16v estava disponível na versão batizada de HL em alguns mercados e era topo de linha, enquanto o 1.5 atuava como intermediário, na configuração chamada de EL. Alguns meses depois chegaria ainda a opção 1.0 ED, mais básica da gama.  

Em 1998, o Palio EL ganhou a opção do motor 1.6 8v MPI, o mesmo da ELX. Mesmo com poucos cavalos a mais, o aumento de performance era grande, mas a diferença de preços deixava uma lacuna na linha do hatch. Vendo esta oportunidade no mercado, a Fiat lançou, no final de março do ano 2000, em um evento na cidade praiana de Bertioga (SP), o Palio com o motor Fire 1.3 16v. Na ocasião, também estrearam Siena e Palio Weekend com o mesmo powertrain.  

Falando do hatch, ele agradava ao público com sua dirigibilidade suave e modernidade. Vale lembrar que, curiosamente, esse novo 1.3 16v estreou na linha Palio apenas seis meses antes da reestilização completa da família do hatch, ocorrida no final de setembro, que chegou como linha 2001. Portanto, os Palio 1.3 16v Fire com visual antigo tiveram tiragem pequena, e esse motor tornou-se mais comum na linha atualizada. 

A configuração do novo motor com a carroceria antiga durou bem pouco: cerca de seis meses em produção (Foto: Fiat/divulgação)

Esse primeiro motor Fire nacional queria ser uma opção intermediária para quem não queria sofrer com as limitações de um 1.0, mas que também não tinha a necessidade de um 1.6. Movido apenas a gasolina, tinha 80 cv de potência a 5500 rpm e 12 kgfm de torque a 4000 rpm, permitindo aceleração de 0 a 100 km/h em 12,1s e 168 km/h de velocidade máxima para o Palio, de acordo com dados da própria Fiat. Eficiente, o hatch 1.3 16v fazia 10,2 km/l na cidade e 16,9 km/l na estrada, segundo testes da Revista Quatro Rodas na época, enquanto a fabricante declarava 11,9 km/l e 17,8 km/l, respectivamente.  

Sua ideia era justamente a de atender quem não queria sofrer com um 1.0, mas que também não precisasse de um 1.6 mais caro e gastão (Foto: Fiat/divulgação)

Além de respirar melhor nas altas rotações graças as quatro válvulas por cilindro, tecnicamente este motor tinha seus refinamentos: trazia acelerador eletrônico, bloco em duas partes (superior em ferro fundido e inferior em alumínio) e injeção sequencial Bosch com sensor de detonação. Com essa proteção, a taxa de compressão de 10,2:1 era a mais alta da linha em motores à gasolina – o que por si só traz ganho em torque, potência e consumo. Nos demais motores da linha da época (de 1.0 e 1.6 litro, com 8 e 16 válvulas), a taxa oscilava entre 9,35 e 9,5:1. Hoje, feitos em alumínio e com tecnologia flex, os propulsores modernos têm taxas ainda maiores. 

Para o ano 2000, o motor Fire trazia uma boa dose de modernidades (Foto: Fiat/divulgação)

A lista de modernidades ainda seguia com o cabeçote em alumínio, duplo comando de válvulas no cabeçote, além de coletor de admissão plástico, bielas em aço e pistões bem mais leves que o comum. Foi um dos primeiros motores nacionais feitos em larga escala pensando na melhor eficiência: menor peso possível, durabilidade, economia de combustível, boa entrega de potência e torque. O câmbio de cinco marchas acoplado a ele mantinha as relações de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª iguais às do 1.6 16v, porém com 5ª alongada e relação final encurtada. 

Cabeçote em alumínio, duplo comando, bielas e pistões leves, coletor plástico…soluções para baixar peso, reduzir consumo e aumentar desempenho (Foto: Fiat/divulgação)

Na realidade, esse 1.3 16v era um 1.24 (tinha 1.242 cm³), mas, claro, “1.3” soaria muito melhor nas concessionárias e propagandas. Inicialmente disponível apenas na versão ELX, ele era identificado pelos emblemas “Fire 16v” nos paralamas e por um grande adesivo com a mesma inscrição no vidro traseiro dos Palio. Também havia soleiras entre os eixos e pintura de retrovisores e maçanetas na cor da carroceria. Internamente, o carro ganhava apliques prateados na parte central do painel e no entorno das saídas de ar, além de conta-giros e instrumentos de fundo cinza – que pareciam escuros à noite, como nas versões com motor 1.6 16V. 

Os Palio 1.3 16v Fire do lançamento eram sempre ELX, com um bom pacote de equipamentos (Foto: Fiat/divulgação)

Como itens de série, trazia direção hidráulica, vidros dianteiros elétricos, vidros verdes, travas elétricas, desembaçador e limpador do vidro traseiro, retrovisores externos com regulagem interna manual, abertura interna do porta-malas, banco traseiro rebatível, barras de proteção nas portas, cintos de segurança dianteiros com regulagem de altura, cintos de segurança traseiros de 3 pontos, conta-giros, espelho de cortesia, Fiat Code (alarme antifurto na chave, com código), luz interna com temporizador, relógio digital e partes da carroceria na cor do veículo. 

Interior tinha instrumentação completa com fundo cinza, apliques prateados no painel e oferta de diversos itens de conforto e comodidade (Foto: Fiat/divulgação)

A lista de opcionais era extensa: ar quente, ar-condicionado, airbags (só para o motorista ou duplo), cintos dianteiros com pré-tensionadores (!), freios ABS, volante com regulagem de altura, retrovisores externos com regulagem elétrica, alarme com comando a distância, apoios de cabeça para o banco traseiro, toca CD, pintura metálica e cadeirinha para criança. 

O Palio ELX 1.3 16v Fire era bem equipado, e ainda tinha alguns opcionais interessantes (Foto: Fiat/divulgação)

Um Palio ELX 1.3 16v custava, em maio de 2000, R$20.730,00, equivalente hoje a R$91.646,19 (índice IPCA-E). Esse preço, aliás, ficava no meio do caminho entre o que era cobrado por um Palio ELX 1.0 (R$17.663,00 da época, R$78.087,00 atuais) e por um ELX 1.6 8v (R$22.327,00 da época, R$98.706,00 atuais). Para efeito de comparação, um VW Gol 1.0 16v, no mesmo período, era tabelado em R$19.131,00 (R$84.577,00 hoje em dia).  

Seu preço era praticamente intermediário entre a ELX 1.0 e a ELX 1.6 8v, e a proposta do 1.3 16v era justamente essa (Foto: Fiat/divulgação)

O motor 1.3 16v, que ainda estreou a nova linha de produção de motores em Betim (MG) na época, ficou em produção até meados de 2003, quando foi lançado o Fire 1.3 com 8 válvulas. A história da linha Fire no Brasil durou 24 anos, quando o propulsor se despediu no final de 2024 por conta das novas exigências do Proconve L8, programa que regula as emissões de poluentes e entra em vigor em 2025. Sobre as demais versões eu falarei em breve. 

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.