(Comparativo) Renault Stepway e Renault Kardian: rei morto, rei posto?

Agora que o Stepway saiu de linha definitivamente, o segundo carro mais barato da Renault no Brasil tornou-se o Kardian, que começa em R$107 mil numa versão de entrada com câmbio manual. Há quem diga que ele veio justamente suceder ao Stepway, porém numa faixa de preços um pouco superior, já que vem mais equipado, refinado e potente. Isso não faz tanto sentido assim, afinal, pelo INMETRO, o derivado do Sandero não era considerado SUV, coisa que o Kardian é. Portanto, é mais ou menos como dizer que o VW Nivus tomou lugar do CrossFox. 

Comparando…

Mas, ainda assim, vale um comparativo sem muito enfoque na comparação: Stepway e Kardian, onde eles se encontram e se diferem um do outro? Para começar, já vale explicar: oficialmente, o Kardian é uma adaptação razoavelmente profunda da terceira geração do Stepway, que na Europa ainda carrega o nome principal, “Sandero”. Ele foi criado para mercados emergentes como os da América Latina, porém baseado no Dacia Sandero Stepway comercializado no Velho Continente. Sem tantas delongas, não é errado chamar o Kardian de “Stepway de terceira geração”, só que com certa dose de personalidade própria. 

Voltando aos dois protagonistas, eles combinam, e realmente parecem diferentes gerações de um mesmo produto. O estilo aventureiro que lhes é peculiar, a pegada parruda de todo Sandero, boa altura livre do solo, generosos ângulos de ataque e saída, além do espaço interno que agrada até aos mais altos e porta-malas grande. Nas fotos, o Kardian Evolution 1.0 turboflex manual e o recém-aposentado Stepway Zen 1.0 aspirado manual, suas respectivas versões de entrada.  

Kardian (quer ser) maior

O Kardian é maior, e abusa mais dos vincos fortes e elementos grandes para parecer superior. Consegue superar o Stepway em 5 cm no comprimento, quase 2 cm na largura e 1 cm na distância entre-eixos, ainda que seja 2,5 cm mais baixo. Oferece quase 40 litros a mais de capacidade do porta-malas, o que é de grande valia para um dito SUV, segmento que o Stepway não se encaixa. 

1.0 turboflex e dupla embreagem

Na motorização, avanços sentidos. No Kardian está um motor 1.0 turboflex, de três cilindros, injeção direta, duplo comando variável, até 125 cv com etanol (120 com gasolina) e o maior torque do segmento (22,4 mkgf com etanol, ou 20,4 mkgf com gasolina). Fruto da mais recente família de motores a combustão da Renault no Brasil (TCe), ele é “irmão” do 1.3 turboflex que vai no Duster e também em alguns Mercedes (só a gasolina, nesse caso). Ou seja, é bastante refinado, garante bom desempenho e considerável economia de combustível. 

Na transmissão, uma caixa manual de seis marchas (também de última geração, fabricada na Europa), ou um automatizado de dupla embreagem e seis marchas, que só ele oferece na categoria. Não há freios a disco nas quatro rodas ou suspensões independentes, porém, nos periféricos, a Renault quis dar uma caprichada: nas versões mais caras, por exemplo, o freio de mão é eletromecânico (por botão), com direito a função Auto Hold, aquela que “segura” o carro sozinho em ladeiras e afins. Atrás do volante, paddle-shifts para “brincar” com as marchas automáticas. 

(no máximo) 1.6 16v e CVT

O Stepway é mais simples, enxuto. No máximo, pode ter motor 1.6 16v, também refinado (inteiro em alumínio, com duplo comando variável), entregando até 118 cv de potência com cerca de 16 mkgf de torque (valiosos 6,5 mkgf a menos que o Kardian). O câmbio manual se limitava a seis marchas, e, quando automático, nada de dupla embreagem: oferecia um CVT similar ao dos Nissan (inclusive com o mesmo nome, XTronic), simulando 6 velocidades. A versão de entrada era simples, 1.0 aspirada na faixa dos 80 cv. 

Apesar de, quando 1.6, conseguir bom desempenho e robustez, e quando 1.0, focar na economia de combustível, não era um carro com muitos recursos, dispensando tudo que foi citado ali em cima, que pode equipar o Kardian. Lembrando que, inclusive por isso, ele conseguia custar menos que o irmão mais novo.  

Ao volante

Dinâmica e dirigibilidade também são outros. Desde o posto de condução, bem mais baixo, ergonômico e envolto pelo painel, console central e laterais de portas, até os bancos maiores, com abas laterais mais pronunciadas e melhores tecido e espuma, o Kardian quer parecer mais refinado e superior. Também é nítido um esmero maior no acabamento interno (novamente, preço mais alto), e mais itens de série (painel digital, multimídia com conexões sem fio, assistentes de condução nas versões mais caras e afins). 

O Kardian, até por ser mais baixo e largo, mostra um comportamento mais “no chão” em curvas rápidas ou desvios bruscos de trajetória, e a vida do seu motorista é mais fácil graças à precisa e leve direção elétrica (eletro-hidráulica mais pesada no Stepway). Ajudam um acerto mais durinho das suspensões, privilegiando a estabilidade, e a plataforma infinitamente mais moderna (modular de última geração, enquanto o Stepway era feito sobre a base M0, derivada da antiga B0 de 2002). Ainda assim, em matéria de conforto a bordo, o modelo mais antigo supera o novo.  

Espaçosos

Ambos são similares no espaço interno, com um rápido “bate-bola”: o motorista se “encaixa” melhor no Kardian (posição de pedaleira, volante, banco, cinto de segurança, comandos do painel e por aí vai), porém quem vai atrás no Stepway tem mais folga para ombros e cabeça (graças a carroceria com mais altura). O assoalho elevado do Kardian não evitou que seu túnel central fosse mais pronunciado que no Stepway. Mas o SUV consegue, sem dúvidas, um porta-malas maior.  

No Stepway, 320 litros de porta-malas (Foto: Lucca Mendonça)

Incomparáveis? 

Definitivamente, não! Kardian e Stepway tem lá suas semelhanças, por menores que sejam. As diferenças são várias, e grandes, a começar pelo preço. De qualquer forma, Kardian, hoje, só por R$107 mil iniciais (ou cerca de R$100 mil em promoções), e Stepway, apenas no mercado de usados (já saiu do site da Renault, ou seja, os estoques são mínimos).  

Ficha técnica e fotos Kardian Evolution 1.0T MT6

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Concepção de motor: 999 cm³, flex, quatro cilindros, turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas variável, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: manual de 6 marchas + ré
Potência: 120/125 cv a 5.000 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 20,4/22,4 mkgf a 2.250 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: assistência elétrica progressiva e configurável
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Continental EcoContact 6Q, medidas 205/60 e rodas de aço com calotas aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,12 m/1,75 m/1,60 m/2,60 m
Porta-malas: 358 litros
Tanque de combustível: 50 litros
Peso em ordem de marcha: 1.163 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,4/11,0 segundos (gasolina/etanol)
Velocidade máxima: 180 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$106.990 (carro avaliado: R$108.890)

Fotos e ficha técnica Stepway Zen 1.0 MT5

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 12 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: manual de 5 marchas + ré
Potência: 79 cv/82 cv a 6.300 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 10,2 mkgf/10,5 mkgf a 3.500 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: Independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência eletro-hidráulica
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Cinturato P1, medidas 185/65 e rodas de aço com calotas aro 15
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,07 m/1,73 m/1,60 m/2,59 m
Porta-malas: 320 litros
Tanque de combustível: 50 litros
Peso em ordem de marcha: 1.061 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 15,0/15,9 s (etanol/gasolina)
Velocidade máxima: 150 km/h (etanol/gasolina)
Preço básico: R$86.990 (quando disponível 0 km)
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Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.