(Comparativo) Renault Kangoo E-Tech vs. Citroën Ë-Jumpy: transporte eletrificado
Ter um veículo de trabalho elétrico parece fazer muito sentido: menor custo operacional (combustível e manutenção), menos poluição nos centros urbanos, mais silêncio no dia-a-dia, maior conforto para quem dirige o dia todo (não tem marchas para trocar, por exemplo), e por aí vai. Claro, um furgão elétrico custa mais caro que outro similar a combustão, mas é tudo uma questão do tempo de uso e do retorno financeiro com ele. No final, quase sempre acaba valendo a pena, tanto é que, cada vez mais, empresas estão trocando vans a diesel por similares elétricas.
Duas boas do segmento? Citroën Ë-Jumpy e Renault Kangoo E-Tech, importadas da França e cheias de vontade de trabalhar. O primeiro, Renault, é um pouco menor e no estilo MPV (mais ou menos como um Fiat Doblò), por isso sai mais barato (cerca de R$293 mil), enquanto o Citroën já está mais para van convencional, com cabine alta e baú mais espaçoso, justificando seu preço R$42 mil mais alto (R$335 mil). Mas, hoje, esses dois são os principais representantes no mundo de baús elétricos para uso urbano, então sim, concorrentes!
Força e desempenho
Assim como numa picapona turbodiesel, quem manda aqui é o torque, e não a potência ou a performance em arrancadas. Analisando os números de desempenho oficiais, os dois utilitários elétricos aceleram juntos no 0 a 100 km/h e tem torque bastante parecido (25 mkgf no Renault e 26,5 mkgf no Citroën). Porém o Kangoo tem peso menor e ainda transporta menos carga, o que garante uma desenvoltura um tanto superior, especialmente no uso urbano, saídas em ladeiras, retomadas e por aí vai. A Ë-Jumpy é um pouco maior e mais pesada, mas nem por isso torna-se lenta, especialmente no modo Power de condução, que despeja todo o torque, sensibiliza acelerador e melhora as respostas.
Carga e baú
Sem dúvidas, o maior espaço para carga é da van da Citroën, com seus 6,1 m³ e compartimento bastante longo e largo (2,83 m por 1,64), onde cabe o pequeno, o médio e o grande. Porém, proporcionalmente falando, o Kangoo não fica muito aquém: apesar da pegada de “carro de passeio com baú”, cabe muita coisa nos seus 4,3 m³. Interessante que, apesar do porte menor, seu compartimento não é muito mais baixo que o do Citroën (1,3 m, contra 1,4 m), e o comprimento e largura satisfazem (2,2 m por 1,5 m). Porém, vale lembrar que sua capacidade de carga é 20% menor que o do rival: a Renault fala em até 800 kg, incluindo os dois ocupantes que vão na cabine. No Citroën são 1.000 kg.
A acomodação da carga é fácil nos dois veículos: contam com porta lateral corrediça e outras duas portas traseiras que se abrem em 90º ou 180º. O Ë-Jumpy conta com vãos de acesso ao compartimento maiores, tanto em altura quanto em largura, e o assoalho em lata, sem proteção, faz a carga “deslizar” até o fundo com mais facilidade. Claro, o Kangoo tem proteção do assoalho com uma espécie de borracha por um bom motivo: assim a lataria não é danificada nem arranhada. Mas a carga “enrosca” mais. Ambos contam com vários pontos para amarração, iluminação independente para o baú, mas os espaços não são ventilados.
Consumo e recarga
Até pela vocação mais citadina e dimensões contidas, o Kangoo E-Tech traz baterias de tamanho menor, 45 kWh. Com ele na cidade, aproveitando a regeneração máxima em frenagens e desacelerações e utilizando o modo Eco de condução, que “murcha” o conjunto para gastar menos energia, foi possível rondar os 350 km de alcance com uma carga completa (pouco menos de 8 km rodados com cada kWh), isso com baú vazio, uma pessoa a bordo e sem ar-condicionado, ou seja, nas melhores condições. No uso real, com direito a A/C e peso, podemos falar em algo ao redor dos 300 ou 310 km, dependendo da pressa.
Na estrada, a coisa muda de figura: com ar ligado, porém mantendo o modo Eco que limita a velocidade máxima em 110 km/h, a média caiu para 5,5 km percorridos a cada kWh, o que significa aproximadamente 250 km de autonomia por carga. Nesse caso, com baú vazio e uma pessoa a bordo, também. Oficialmente, o INMETRO fala em 210 km de alcance por carga, mas dá para ir além, sem dúvidas.
O Citroën tem baterias superiores, com 75 kWh, compostas pelo mesmo material do Renault (íon-lítio). Claro, seu arrasto aerodinâmico é pior, o peso da carroceria é maior e o motor elétrico mais potente requer maior energia, porém o modo Eco de condução do Ë-Jumpy parece surtir mais efeito, assim como a regeneração de energia. Embora o INMETRO não fale em mais de 289 km de autonomia com o furgão, no uso real deu para ir muito além: 5,3 km por kWh na cidade, ou seja, quase 400 km com uma só carga, ou cerca de 4,5 km por kWh na estrada, o que significa mais de 330 km rodados sem parar.
Isso com ela vazia, mas no conforto do ar-condicionado: quando carregada de tralhas no baú, espere um consumo de eletricidade 25 a 35% pior, diferença um pouco maior do que no Kangoo. Isso porque o Renault trabalha com mais folga de potência e força, desempenhando melhor mesmo quando carregado. Com 1 tonelada no “lombo”, o Citroën exige mais do seu motor elétrico para acelerar e ganhar velocidade. O motorista pisa mais no acelerador.
O Renault demora menos nas recargas. Primeiro, lógico, por ter bateria bem mais limitada na capacidade (quanto menos kWh, menos tempo “na tomada”), mas também por suportar fontes de energia poderosas, de até 80 kW. Isso significa, segundo a fabricante, que o E-Tech consegue recuperar 65% da carga em cerca de meia-hora, o que pode ser traduzido em mais de 170 km de alcance.
O Ë-Jumpy vai além na potência com 100 kW, porém suas baterias são 40% maiores, ou seja, o extra não supre a diferença de tamanho das baterias. Na prática, plugado em fontes poderosas, foram 80% da carga recuperados em aproximadamente 60 minutos. Vale lembrar que esses 80% do Citroën devem render bem mais km rodados do que os 65% do Renault, mas aqui falamos em tempo de recarga.
De qualquer forma, os dois usam o plugue padrão Tipo 2, e não dependem de adaptadores ou cabos auxiliares na hora de serem plugados em fontes de energia. Boa! E, no quesito praticidade, a Citroën ainda sai na frente oferecendo um carregador portátil para tomadas de 220V residenciais como equipamento de série no Ë-Jumpy, item que é acessório cobrado a parte no Kangoo E-Tech (R$5 mil). No Renault só é de série um portátil de tomadas industriais, aquelas redondas de plugue azul.
Vida a bordo
Esqueça os antigos furgões de trabalho, quentes, abafados, com direção pesada e pouca coisa de série, porque aqui a pegada é outra. Tanto o Kangoo E-Tech quanto a Ë-Jumpy são tão confortáveis e equipados quanto SUVs familiares.
Multimídia com Apple CarPlay e Android Auto, ar-condicionado (digital automático no Renault e regulável em graus no Citroën), direção assistida (elétrica e mais leve no Kangoo, versus eletro-hidráulica do rival), vidros e travas elétricas, retrovisores com ajustes elétricos, computador de bordo com tela multifuncional colorida, volante multifuncional, piloto automático, sensores de estacionamento traseiros, câmera de ré, limpador de parabrisas automático e faróis que se acendem sozinhos são itens padrão nos dois furgões.
Além do mais, por serem elétricos, o silêncio e a suavidade imperam na cabine. O pouquíssimo ruído que se ouve vem de motor (zumbido) ou suspensões, nada além. Não há transmissão em nenhum dos dois veículos, ainda que o Kangoo aposte numa enorme alavanca de mudanças (no Citroën são botões no console), por isso cai muito bem em ambos o apoio de braço para o motorista. No caso do Renault, ele serve também ao passageiro.
Falando em passageiro, no caso da Ë-Jumpy são dois, ambos com direito a cinto de segurança com três pontos e apoio de cabeça regulável. Mas, dependendo do tamanho dos ocupantes, pode ser mais confortável viajar só com motorista e um outro ocupante. No Citroën também há uma cabine mais alta, com parabrisas menos inclinado e maior área envidraçada. Mais o estilo de uma van convencional, inclusive para entrar e sair: há degraus na cabine e caçamba.
Já o Renault aposta numa ergonomia similar a de um SUV: altinho, mas igual a de um carro de passeio, com enormes portas que se abrem em praticamente 90º e acesso facilitado. Nele, os dois ocupantes ficam distantes, e existe uma espécie de console rente ao assoalho que complica a passagem de um lado para o outro da “boléia”. O Citroën é livre, com piso plano e teto bem alto, permitindo que o motorista saia pela porta do passageiro e vice-versa. Os porta-trecos e soluções interessantes, a exemplo do suporte de celular modular do Kangoo ou o baú sob o banco do Ë-Jumpy, agradam.
Guiando, só surpresas positivas. Com o peso das baterias no assoalho, os dois furgãos tem ótimo centro de gravidade e comportamento preciso nas curvas ou desvios rápidos de direção. A eletrônica, ESP, TC, ABS, EBD, está presente para ajudar nas emergências, lembrando que suas propostas não são nem um pouco esportivas ou dinâmicas. Tanto o Kangoo quanto o Ë-Jumpy contam com a sofisticação de freios a disco nas quatro rodas, enquanto o Citroën inclui no pacote um eficiente sistema de suspensões independentes de duplo A nas quatro rodas, construção que sobe os níveis de conforto, estabilidade e robustez para carregar cargas. O Renault não fica muito atrás em matéria de maciez e suavidade: os dois são bem confortáveis.
Pelo tamanho menor, o E-Tech é mais fácil de ser guiado e conduzido nos grandes centros urbanos. Encontrar vagas, fazer manobras mais apertadas, passar por vãos estreitos, tarefas mais práticas com ele. Ainda assim, o Citroën, além da frente curtinha e maior visibilidade dianteira, tem um ótimo ângulo de esterçamento das rodas dianteiras, com raio de giro pequeno. Ou seja, é mais fácil de dirigi-lo do que parece, especialmente depois de algum tempo ao volante. O silêncio, conforto térmico, qualidade do sistema de som, conforto e ergonomia surpreendem, ótimo!
Para o batente…
A quantidade de carga transportada e o quanto você roda por dia já podem definir: um Kangoo E-Tech pode ser o bastante, tanto em espaço quanto em autonomia, mas, se precisar de mais, desembolse um tanto extra de grana para o Ë-Jumpy. De qualquer forma, com ambos, você estará bem servido, e ainda poderá esquecer os postos de combustível.
Fotos e ficha técnica Kangoo
Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de íon-lítio instaladas no assoalho, capacidade de energia de 45 kWh |
Carregamento 0 a 100%: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 1h10min a 8h00min, dependendo da força), wallbox (cerca de 8h00 min) e tomadas 220V (cerca de 32 horas). Regeneração de energia configurável durante condução |
Potência: 120 cv |
Torque: 25,0 mkgf |
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora |
Suspensão traseira: independente, braços semi-arrastados |
Direção: com assistência elétrica progressiva |
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira |
Pneus e rodas: Goodyear EfficientGrip Cargo, medidas 195/65 e rodas de aço com calotas centrais aro 16 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,91 m/1,86 m/1,88 m/3,10 m |
Baú: 4.300 litrosCapacidade de carga: 800 kg |
Alcance: 300 km (ciclo WLTP) ou 210 km (ciclo PBEV) |
Peso em ordem de marcha: 1.726 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 12,0 segundos |
Velocidade máxima: 130 km/h (limitada eletronicamente) |
Preço básico: R$292.690 |
Fotos e ficha técnica Ë-Jumpy
Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de íon-lítio instalado no assoalho, capacidade de energia de 76 kWh |
Carregamento: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 1h30min. a 11 horas, dependendo da força), Wallbox (de 7 a 11 horas) ou tomadas 220V residenciais (cerca de 48h). Regeneração de energia durante a condução |
Potência: 136 cv |
Torque: 26,5 mkgf |
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora |
Suspensão traseira: independente, braço triangular arrastado |
Direção: com assistência eletro-hidráulica progressiva |
Freios: discos ventilados nas quatro rodas |
Pneus e rodas: Michelin Agilis 3, medidas 215/65 e rodas de aço com calotas centrais aro 16 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 5,31 m/1,92 m/1,93 m/3,27 m |
Baú: 6.100 litros
Capacidade de carga: 1.005 kg |
Alcance: 330 km (ciclo WLTP) ou 289 km (ciclo PBEV) |
Peso em ordem de marcha: 2.053 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,9 segundos |
Velocidade máxima: 130 km/h (limitada eletronicamente) |
Preço básico: R$334.990 |