Comandante Rolim e seu Fusca misterioso

Soube desse “Causo” na segunda metade dos anos 90, quando fui fazer uma entrevista com o Comandante Rolim Adolfo Amaro, na época o todo poderoso da TAM. Essa reportagem, que fiz para a Revista Motor Show, focava no gosto que o aeronauta tinha por carros e motos. Comandante Rolim, como era carinhosamente tratado por todos, já comandava a TAM desde os anos 70, quando a empresa tinha sua sigla significando Táxi Aéreo Marília. A empresa cresceu graças a competência e a perseverança de Rolim, que entendia de aviação e das necessidades de transporte do consumidor como ninguém.

Na entrevista marcada, o comandante Rolim me recebeu em seu escritório, na época em um dos hangares da TAM no aeroporto de Congonhas. Era um sábado a tarde, e a conversa rolava descontraída, de maneira bem simpática: eu, Douglas Mendonça, e o comandante Rolim tínhamos em comum a paixão pelos carros e a dele ia adiante, já que também amava motos e aeronaves. Toda vez que um Fokker 100 da TAM ia levantar voo, ele ouvia o zunido das turbinas, reconhecia o aparelho, interrompia nossa conversa e logo dizia: “Ouve, outro vai levantar voo. Vamos ouvir o som das turbinas que é música para os meus ouvidos!” Coisa de gente apaixonada, paixão esta que ele demonstrava a todo momento de nossa conversa.

O Fokker 100, uma das aeronaves que conquistava o coração do comandante Rolim (Foto: Aero Icarus/Flickr)

Em um dado momento, saímos do escritório e o comandante me levou a uma sala do hangar, onde existiam cerca de 20 motocicletas. Uma mais linda do que a outra, só raridades. Dentre elas, me mostrou uma BMW, que parecia ser a sua preferida. Segundo ele, quando precisava pesquisar uma nova linha de aeronaves para a sua empresa, subia na sua moto BMW e viajava anonimamente para descobrir qual era a infraestrutura da cidade, e pesquisava para saber se a economia da região comportava uma linha aérea regular. Achei isso uma loucura! Mas era assim que o Rolim agia.

Seu carro na época era um Mercedes S500 blindada. Ele curtia o carro, mas o fato de ser presidente proprietário da TAM o incomodava: “Sempre que olho pelo retrovisor, vejo o carro dos seguranças que não saem da minha cola e, na verdade, gostaria de circular pela cidade como uma pessoa comum!”, ele reclamava.

Comandante Rolim e seu Fusca Itamar

Foto: Volkswagen/divulgação

Foi nesse ponto da conversa que ele me confidenciou algo: para poder transitar livremente no anonimato e se livrar até mesmo dos seguranças, Rolim comprou um Fusca Itamar 1994, novinho em folha, na cor prata. Fusca, inclusive, por sua história e conceito, era outra paixão do comandante. Foi logo dizendo: “saio de casa de boné e óculos escuros no meu Fusquinha prata e ninguém percebe; nesse momento deixo de ser o fundador e mandachuva da TAM e passo a ser o Rolim Adolfo, um cidadão normal. Me sinto muito bem assim!”

Pronto! Estava descoberto o grande segredo do todo poderoso comandante Rolim da TAM: ele se disfarçava de cidadão comum e, segundo contou, ia com seu Fusquinha encontrar os amigos da mocidade na periferia de São Paulo. Sem dúvidas, com seu Mercedão blindado e aquele monte de seguranças correndo atrás, ele jamais conseguiria fazer seus passeios do cotidiano, tampouco se passaria por um cidadão comum, coisa que a cidade de São Paulo esconde aos milhões.

Infelizmente para nós, o grande comandante Rolim veio a falecer em um acidente aeronáutico com um helicóptero em meados de 2001. Um grande homem empreendedor que o Brasil perdeu, e mais do que isso: amante de automóveis e tudo mais que tivesse motor.

Foto: TAM/divulgação
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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.