(Avaliação) Renault Duster 2024 traz novos ingredientes na velha receita
Para quem, um dia, pensou ver o Captur substituindo o Duster…erro crasso. O mais novo veio, ficou sete anos em linha, deixou de ser produzido, e o mais velho segue firme e forte, inclusive se modernizando quando necessário, como aconteceu agora na linha 2024. Na realidade, essas últimas mudanças foram justamente para que o SUV veterano suprisse a falta do Captur, que era um pouco mais refinado e completo. Por isso hoje temos Duster com seis airbags, faróis em LED, carregador de celular sem fio, sensor de chuva, acabamento caprichado para a categoria etc. A plataforma, mecânica e estrutura básica ainda são as mesmas lá de 2011, quando ele foi lançado pela primeira vez.
Mas o carro foi além, com evoluções bem-vindas para uma categoria tão concorrida como essa de SUVs compactos. Tudo, claro, fica mais nítido e pronunciado nas versões mais caras, a exemplo da Iconic Plus TCe avaliada, topo de linha de R$158 mil. Ela é a única com motor 1.3 turboflex feito em parceria com a Mercedes-Benz, mas, quem preferir algo mais pacato e econômico, pode partir para a Iconic Plus 1.6 16v por R$14 mil a menos, sem perder nenhum recheio de série. Mas, vale lembrar: tem Duster 1.6 16v desde os R$126 mil, claro que bem menos equipado.
Falando nele, o 1.3 16v turboflex de 162/170 cv de potência e saudáveis 27,5 mkgf de torque (gasolina/etanol) está mais silenciado nesses carros 2024. Isso porque a Renault deu uma caprichada no nível de mantas acústicas espalhadas pelo monobloco, o que reduziu os ruídos não só da mecânica, mas também do mundo externo.
Com isso, o Duster tornou-se bem silencioso, especialmente no uso rodoviário, realçando sua vocação de SUV familiar bom pra viagens. O motor só passa a ser ouvido com mais nitidez nas altas rotações, faixa que ele não precisa trabalhar, já que dispõe de força prematura. A transmissão CVT, focada na suavidade, é uma aliada para esse resultado.
O carro continua ágil e esperto nos mais variados tipos de uso, inclusive num off-road leve, com respostas rápidas ao comando do acelerador e boa desenvoltura mesmo quando cheio, graças a força de sobra e boa curva de torque do 1.3 turbo. O câmbio, que simula melhor as oito marchas no modo normal de condução e, especialmente, com as trocas manuais ativadas, não é a melhor caixa para performance, mas deixa isso de lado em prol do conforto. Escolha certa: o Duster não nasceu para ser esportivo, e sim para ser um SUV espaçoso, macio e suave.
Pena que “econômico” também não faça parte da sua lista de adjetivos positivos: com etanol, foi difícil passar dos 8,2 km/l na cidade, contando com a presença valiosa do sistema Start&Stop, enquanto na estrada, com pé leve, foi possível chegar aos 11,0 km/l. Pela alta cavalaria do 1.3 turboflex e coeficiente de arrasto elevado, essas são médias de consumo comuns para os Renault com motor Mercedes. Há, pelo menos, alguma vantagem quanto ao tamanho do tanque: fazendo 11 km por litro na estrada assim, é possível rodar 550 km sem reabastecer.
Por dentro, já que a missão era ocupar o lugar do Captur, a Renault tratou de substituir os antigos bancos dianteiros, que eram grandes, mas não muito ergonômicos, por outros melhores: além de terem abas laterais mais pronunciadas, são superiores na espuma e acomodam de forma mais competente o corpo de motorista e passageiro dianteiro. Ninguém se cansa nas viagens longas ou sofre após muitas horas sentados no carro. Boa! E o espaço segue vasto: atrás cabem até três adultos, aproveitando a cabine alta e as vantagens da carroceria “bojuda”, que se reflete também no melhor porta-malas dentre os utilitários compactos.
Os materiais de acabamento da cabine, especialmente onde alcançam as mãos, ficaram um pouco mais refinados, com direito a mescla de tecido, couro sintético, plásticos cromados e black piano. Não é nenhum Rolls-Royce, mas evoluiu também no bem-estar ao volante: é fácil achar uma posição de guiar nesse Duster (há ajustes desde os cintos de segurança até a coluna de direção), apesar de a assistência da direção não ser das mais leves. Mesmo com o pênalti do volante deslocado para a direita, é fácil controlar tudo a bordo do carro, e o novo console central com apoio de braço embutido ajuda na boa acomodação. Graças a ele, agora também existem duas saídas USB traseiras.
A robustez segue aparente. As suspensões passaram por uma recalibração, ainda com conforto ao rodar e a capacidade off-road em dia, porém agora garantem um melhor comportamento do carro nas curvas, frenagens e estabilidade direcional. O Duster 2024 é, sem dúvidas, o mais estável, comportado e confortável em seus quase treze anos de mercado, mas passa longe de ter pique esportivo ou ser suprassumo nesse quesito (ainda é meio desengonçado e desajeitado). Em contrapartida, conquistam os generosos ângulos de ataque e saída, com altura do solo que permite atravessar obstáculos sem reclamar.
No frigir dos ovos, o Duster, além de ser bastante conhecido pelos vários anos de mercado, tem qualidades quase únicas, como a alta aptidão para o fora-de-estrada ou o gigantesco porta-malas. Mesmo melhorado, ainda não é o mais tecnológico ou arrojado, porém não são nessas qualidades que ele aposta suas fichas. Apesar da concorrência pesada, ele se armou melhor e até aposentou aquele que seria seu sucessor. A velha receita funciona muito bem, e fica ainda melhor com novos ingredientes…
Ficha técnica:
Concepção de motor: 1.332 cm³, flex, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas variável, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio |
Transmissão: automática do tipo CVT com simulação de 8 marchas e opção de trocas manuais na alavanca |
Potência: 162/170 cv a 5.750 rpm (gasolina/etanol) |
Torque: 27,5 mkgf entre 1.600 e 3.750 rpm (gasolina/etanol) |
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora |
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais |
Direção: com assistência elétrica |
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira |
Pneus e rodas: Michelin Primacy 4, medidas 215/60 e rodas de liga-leve aro 17 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,37 m/1,83 m/1,69 m/2,67 m |
Porta-malas: 475 litros |
Tanque de combustível: 50 litros |
Peso em ordem de marcha: 1.353 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 9,8/9,2 segundos (gasolina/etanol) |
Velocidade máxima: 180 km/h (limitada eletronicamente) |
Preço básico: R$157.990 (carro avaliado: R$161.690) |
Itens de série:
Carregador de smartphone por indução, Console central com apoio de braços integrado, Quatro vidros elétricos com função one touch e antiesmagamento, Chave-cartão com sensor de presença, Sensor de chuva e crepuscular, Retrovisores externos com regulagem elétrica, Banco do motorista com regulagem de altura, Tomada 12V de acessórios no porta-malas, Ar-condicionado digital e automático, Multimídia DisplayLink de 8″ com espelhamento sem fio, Regulagem elétrica manual de altura dos faróis, Câmera Multiview, 6 Airbags, Alerta de cinto de segurança não afivelado, Repetidores laterais de indicação de direção, Sensor de estacionamento traseiro, Assistente de frenagem de emergência, Assentos traseiros com ISOFIX, Controle eletrônico de estabilidade (ESP) com auxílio de partida em rampa (HSA), Controle eletrônico de tração (TC), Faróis de neblina, Sensores de ponto cego, Piloto automático e limitador de velocidade, Modo ECO de condução, Indicador de troca de marcha (GSI), Sistema Stop & Start, Direção elétrica, Bancos com revestimento Premium e novo grafismo, Revestimento Premium no volante, Volante com regulagem de altura e profundidade, Skis frontal e traseiro na cor cinza, Capa dos retrovisores em preto brilhante, Rodas Tergan 17″ diamantadas e escurecidas, Barras longitudinais em cinza