(Avaliação) Novo Kangoo 1.6 16v é uma das melhores sacadas da Renault atual

Já estava na hora dos gêmeos da Stellantis Fiat Fiorino e Peugeot Partner Rapid serem incomodados, e a Renault, sabendo bem disso, veio com esse Novo Kangoo argentino apostando no custo X benefício. Na verdade, de Kangoo ele não tem quase nada: esse “hermano” é fruto de um projeto romeno da Dacia, a mesma “mãe” de Sandero e Duster, como uma espécie de “Kangoo para países emergentes”. Seu nome de batismo, aliás, é Dacia Dokker. Mas, como no Brasil a Renault já vende modelos Dacia rebatizados há um bom tempo, não há nada de inédito nessa estratégia.  

Custo X benefício

O que justifica a chegada bem-vinda do Novo Kangoo é seu preço, praticamente igual ao dos rivais diretos: R$120.800, que só não inclui a pintura metálica do carro das fotos (caros R$2 mil), nem seu jogo de calotas (acessório). De resto, tudo de série, incluindo a multimídia de 7” com Android Auto/Apple CarPlay, comandos de som na coluna de direção, sensores de estacionamento traseiros, ajustes elétricos dos retrovisores externos, porta lateral corrediça e por aí vai, itens que a concorrência nem sonha em oferecer na lista de equipamentos padrão. Proposta das boas… 

E, mais: basta uma rápida consultada na internet para achá-lo por menos de R$110 mil, confirmando a promessa da Renault de que seria possível conceder descontos interessantes aos clientes em cima do valor de tabela. Dá resultado: ele já deixa comendo poeira o Partner Rapid e fica como vice-líder do segmento, segundo dados da FENABRAVE. 

Resultados práticos: o Kangoo já é vice-líder, deixa o Partner Rapid comendo poeira nas vendas e quer desbancar a Fiorino (Foto: Lucca Mendonça)

Simples, e diferenciado

O carro é de conceito simples, bem diferente do seu irmão francês e elétrico Kangoo E-Tech, por isso deixa de lado grandes tecnologias ou o esmero construtivo por um perfil quase que totalmente profissional. É a mesma pegada da Fiorino, vale falar. Troca enfeites, firulas e luxos pela praticidade de uma cabine com poucos comandos, instrumentos fáceis e diretos (similares aos de Stepway/Logan), janelas grandes e a clássica “prateleira” rente ao teto, onde cabe muita tralha. Por outro lado, bem que poderiam existir mais porta-trecos pequenos, para alojar celular, carteira, chaves e por aí vai, sem usar para isso o porta-copos ou o espaço sobre o painel (que toma sol o dia inteiro).  

Um de seus maiores trunfos está no acesso lateral ao baú, por uma porta corrediça que só esse Renault oferece na categoria, além das outras duas traseiras que se abrem facilmente em até 180º cada. No caso de uma garagem apertada, ou algum obstáculo traseiro, dá para descarregar ou carregar o compartimento pela tal porta lateral, que conta com trava para não fechar sozinha, abertura interna e cilindro com fechadura individual. Interessante!  

O que também é bem útil no “trampo diário” é a janelinha acrílica na parede que separa cabine de baú. Ela fica entre os encostos de cabeça dianteiros, e permite visualizar todo o espaço traseiro sem sair do banco do motorista. Anoiteceu? Basta abrir uma das portas dianteiras que a iluminação lá do compartimento se acende, ficando fácil enxergar a mercadoria. E as soluções bacanas para um furgão de trabalho vão além: outra é o espaço na parte interna dos quebra-sóis para guardar bloquinhos, papéis, cartões de visita, canetas etc, onde normalmente vai o espelho em um carro de passeio. Não existe nenhum espelho interno nesse Kangoo, aliás.  

1.6 conhecido

Esses são diferenciais que os rivais não oferecem, e pode entrar para essa lista o competente motor 1.6 16v SCe, mesmo de Sandero, Logan, Duster, Captur, Oroch e cia. É moderno: inteiro em alumínio, tem duplo comando variável, quatro válvulas por cilindro e usa corrente de comando vitalícia ao invés de correia dentada. A calibração aqui é um pouco mais modesta, entregando 111/115 cv de potência com 15,7 mkgf de torque (há modelos com 120 cv e 16,2 mkgf), mas, mesmo assim, surpreende o quanto esse furgãozinho de proposta urbana anda bem. O curto câmbio manual de cinco marchas ajuda na equação.  

Esse Renault tem a receita básica para um furgão de carga: motor forte em baixas rotações, câmbio curto e relações de marchas inteligentes (Foto: Lucca Mendonça)

(Bom) desempenho

Esses motores SCe tem como característica a bela “estilingada” de força ao redor dos 2.000 rpm, que segue plena até o pico de torque (4 mil giros), comportamento que fica nítido nesse Kangoo, extremamente ágil para o uso urbano também pelas relações próximas e encurtadas da transmissão. Com o carro vazio, é possível, por exemplo, ir subindo marchas em sequência sem que o conta-giros ultrapasse as 3.000 rotações, e ele permite inclusive uma 5ª a menos de 45 km/h. A 1ª é extremamente curta, praticamente servindo só para saída em ladeiras ou rampas, por isso a 2ª atende muito bem como “marcha inicial” na maioria dos usos sem peso. O torque é abundante e vem sem esforço no 1.6.  

A engenharia da Renault também preparou um acelerador eletrônico extremamente sensível, daqueles de curso longo e que faz o carro responder ao menor toque, melhorando a sensação de agilidade. Para o uso na cidade, o Kangoo tem uma disposição pra lá de elogiável, com todas as demandas que um carro de carga precisa: motor forte “em baixa”, câmbio curto e bem escalonado. Quem quer economizar combustível pode usar o modo Eco, item incomum em modelos com transmissão manual, que “murcha” um pouco o powertrain, torna o acelerador mais progressivo e faz o furgão gastar de 5 a 10% menos. Números? Com etanol em nossos testes, chegamos a 7,8 km/l no modo Normal, ou até 8,5 km/l no Eco, sempre com baú vazio e ar ligado. 

O tal do botãozinho “Eco” fica escondido, sozinho, abaixo dos comandos do ar-condicionado: faz diferença no consumo e performance (Foto: Lucca Mendonça)

Na estrada, mais surpresas, algumas boas e outras, nem tanto. Em 5ª a 100 km/h, o 1.6 vai ao redor dos 3.450 rpm, rotação mais alta que a de um Stepway 1.0 na mesma velocidade: por ser pouco isolado acusticamente, o barulho do seu motor é sinfonia permanente nas viagens, invadindo bastante o habitáculo dos passageiros, enquanto o câmbio manual, em contrapartida, é mais silencioso que o esperado para um Renault manual. Pouco se ouve do zumbido da transmissão, o que é ótimo. Lembrando da sua proposta profissional, e do que oferece a concorrência no mesmo assunto, aqui o Kangoo é “perdoado”.  

Mesmo não sendo seu habitat natural, na estrada a 100 km/h, mesmo com o giro alto, é possível atingir médias de até 10,5 km/l de etanol no modo Eco, número que só não é maior por conta do grande arrasto aerodinâmico. Sem contar que o SCe já trabalha quase em sua faixa de força máxima, com a grande maioria do torque disponível ao comando do acelerador e levando vantagem pelas quatro válvulas por cilindro, configuração que desempenha melhor nas altas rotações. Nessa toada, as ultrapassagens e retomadas podem ser feitas em 5ª marcha e no modo Eco, inclusive com outra pessoa a bordo e ar ligado. Só não espere ir tão longe sem parar num posto, afinal o tanque pequeno limita a autonomia.

De qualquer forma, em matéria de desempenho, quando mais se pede do Kangoo para ganhar velocidade, mais ele entrega, tudo sem pedir redução e com o botão “Eco” ativado. Vazio, deixa para trás muitos SUVs, hatches e sedans com motores maiores, conforme até indicam os dados de desempenho divulgados pela Renault, que parecem bem próximos da realidade. Carregado, tende a dar conta do recado sem sofrer, mesmo com os 750 kg de carga máxima “no lombo”. Inclusive, vale mencionar que seu baú é largo, com vários pontos de amarrar carga e parece ser até maior do que realmente é. São 3.300 litros, igual a Fiorino.  

O baú desse Kangoo parece ser até maior do que realmente é, e o acesso ao compartimento é facílimo (Foto: Lucca Mendonça)

Conforto e ergonomia

Pelo uso de suspensões traseiras com concepção parecida com as de Sandero, Logan e Duster, o Kangoo pode não ser o mais “bruto” dentre os furgões, porém é tão macio e comportado quanto um carro de passeio. Os ocupantes não sofrem com pula-pula, sentem pouco os desníveis do piso, enquanto o motorista consegue melhor comportamento do carro em curvas rápidas, frenagens ou desvios de emergência, por exemplo. Assim como os bancos macios e confortáveis melhoram a vida a bordo, a boa altura do solo ajuda a atravessar obstáculos do uso cotidiano, e o curso longo de molas e amortecedores absorvem com competência a buraqueira.  

A ergonomia é um ponto passível de melhora, já que o trilho dos dois bancos é curto, deixando, principalmente o motorista, mais perto do painel do que deveria. Não há ajustes da coluna de direção, mas o volante tem posição correta mesmo para os condutores mais altos, e os bancos também dispensam a regulagem de altura (faz um pouco de falta para quem dirige). O posto de condução é ereto e altinho, lembrando uma van maior, só que a alavanca de marchas baixa exige um braço bem esticado para as trocas. Curiosamente, os dois cintos de segurança oferecem ajuste de altura, com um curso gigantesco cada, mas todo o restante parece ser do princípio de “senta aí e dirige”.  

No apanhado…

No apanhado, uma excelente opção dentro de uma categoria monopolizada, e que andava carente de novas opções. Só que um detalhe merece atenção: esse Novo Kangoo argentino só tem 1 ano de garantia de fábrica, ou então 100 mil km, naquele método de “o que ocorrer primeiro”. Tempo e quilometragem bem curtos para os dias atuais, de fato, mas muito dele vem de outros carros da marca, o que pode amenizar essa desvantagem. Sacada boa! 

« de 2 »

Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.598 cm³, flex, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, duplo comando de válvulas variável, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio

Transmissão: manual de 5 marchas + ré

Potência: 111/115 a 5.750 rpm (gasolina/etanol)

Torque: 15,7 mkgf a 4.000 rpm (gasolina/etanol)

Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora

Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais

Direção: com assistência eletro-hidráulica

Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira

Pneus e rodas: Continental PowerContact, medidas 185/65 e rodas de aço com calotas aro 15

Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,41 m/1,76 m/1,81 m/2,81 m

Baú: 3.300 litros (3,3 m³)

Capacidade de carga: 750 kg

Tanque de combustível: 47 litros

Peso em ordem de marcha: 1.196 kg

Aceleração 0 a 100 km/h: 10,8 segundos (etanol)

Velocidade máxima: 176 km/h (etanol)

Preço básico: R$120.800 (carro avaliado: R$122.800 + calotas)

Itens de série:

Vidros elétricos, Ar-condicionado, Comando satélite para sistema de som, Cintos de segurança com regulagem de altura, Retrovisores externos com ajustes elétricos, Porta-luvas com tampa, Travas elétricas das portas (carga e cabine), Tomada 12V, Sensores de estacionamento traseiros, Banco do motorista com regulagem de distância e lombar, Multimídia MediaNav de 7″, Android Auto™ e Apple CarPlay via cabo, Airbag frontal duplo, Freios ABS com EBD, Assistente de frenagem de urgência (AFU), Repetidores de seta laterais, Desativação do airbag do passageiro, Indicador de troca de marcha (GSI), Controle eletrônico de estabilidade (ESP), Controle eletrônico de tração (TC), Assistente de partida em rampa (HSA), Alerta de cintos desafivelados (motorista e passageiro), Direção com assistência eletro-hidráulica, ECO Mode, Protetor lateral das portas em borracha, Luzes de rodagem diurnas halógenas (DRLs), Bancos revestidos em tecido, Pontos de fixação de carga (8), Iluminação independente para carga e cabine, Computador de bordo 

Compartilhar:
Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.