(Avaliação) Nova Ford Ranger Limited V6: rumo à liderança?

As vezes as fabricantes acertam a mão em alguns carros. Para a Ford com essa quinta geração da Ranger, era difícil errar: a geração anterior, quarta, já tinha várias qualidades bacanas, como uma das melhores dirigibilidades da categoria, ótimo equilíbrio entre conforto a bordo e comportamento dinâmico, e trazia motorizações a altura. Nessa nova linha, oferecida no Brasil há quase dois anos, os resultados surpreendem positivamente.  

Vice-líder

E nem sou eu quem falo, mas sim o mercado: ela vende bem desde a estreia, e por vezes chega a “colar” na líder Toyota Hilux. Dependendo do mês, e da região do país, chega a ultrapassar a rival japonesa nos emplacamentos. Para a Ford, que hoje vende apenas modelos importados, é motivo de (muita) comemoração. Mas, como se comporta a picapona no dia a dia? Para saber isso, foram seis dias e 660 km a bordo da versão mais cara, Limited V6. Preço? R$367 mil, ou R$20 mil a menos se você dispensar as bonitas rodas aro 20, o painel digital grandão, câmeras 360º, piloto automático adaptativo e outros itens do único pacote opcional.  

V6: cereja do bolo

Boa nova o motor V6, de 3 litros, turbodiesel e com tudo que um propulsor desse ciclo pode oferecer hoje em dia. São 250 cv de potência e mais de 61 mkgf de torque, que surgem de forma progressiva e crescente, coisa comum nos diesel. Frente a antiga geração e seu Duratorq 3.2 de cinco cilindros em linha, são nada menos que 13,4 mkgf a mais, que melhoram bastante as respostas da picapona ao comando do acelerador. Dentre as rivais, é uma das que oferece melhor desempenho nas acelerações e, principalmente, retomadas de velocidade. Bingo! 

Sobra torque, sobram marchas no câmbio automático, sobra desempenho e pique para acelerar ou retomar velocidade: bingo! (Foto: Lucca Mendonça)

Um dos segredos é o câmbio automático de 10 marchas emprestado do Mustang: são inúmeras possibilidades de manter o V6 trabalhando com essa caixa, e, quase sempre, ela privilegia as baixas rotações, trocas rápidas e extremamente suaves. Isso só é possível com a sobra de força do motor turbodiesel nos menores giros: toda sua força, para se ter uma ideia, vem já aos 1.750 rpm. Nessa Ranger, é fácil encarar subidas longas com o conta-giros abaixo de 2.000 rpm, e, em 10ª marcha a 120 km/h são 1.800 rpm. 

Ou seja, temos uma usina de força bem forte, que não se esforça nem um pouco para mover a picapona, mesmo nessa versão topo de linha mais pesada. Quem agradece é o consumo de combustível, surpreendentemente baixo, especialmente na estrada: aferidos 13,1 km/l no ciclo rodoviário, rondando os 110 km/h, enquanto na cidade não foi difícil chegar nos 9,0 km/l. Sempre vazia, claro. Levando em conta seu porte, peso, cilindrada do motor e a fama de “beberrão” dos V6 em geral, ótima surpresa. Ah, e vale a nobre menção ao sistema Start & Stop, sempre “afiado” para ligar e desligar o 3.0 TD quando necessário em paradas rápidas.  

Além do bom desempenho, economia de óleo diesel também faz parte do pacote: batemos a marca de 13 km/l na estrada (Foto: Lucca Mendonça)

Essas médias, claro, foram conseguidas no modo Eco de condução, aquele que amansa o conjunto em prol de gastar menos diesel. E, mesmo com ele ativado, sobra torque em praticamente todas as condições de uso. Pena só ter que ativá-lo a cada saída com a Ranger: o seletor de modos de condução parece ter memória curta, e ao desligar a ignição, ele volta ao “Normal”.  

Vai além…

Trem de força a parte, a picapona da Ford mostra outras virtudes, como o conforto e bem-estar a bordo. Vale lembrar que essas já eram qualidades da antiga geração, e só foram aperfeiçoadas nessa atual (a plataforma T6 é a mesma nas duas, aliás). Não falo em “conforto” apenas levando em conta a alta capacidade das suspensões de absorver a buraqueira, os sacolejos suavizados mesmo com o feixe de molas traseiro, ou a condução bem lisa, com o mínimo de “pula-pula” típico das caminhonetes. Até porque, no silêncio a bordo, ela também impressiona. 

Mesmo em marcha-lenta, se escutado de fora, o V6 é suave e quieto, fazendo esquecer as “castanholas” dos antigos motores turbodiesel. Acelerando, ele é pouquíssimo escutado no interior da cabine, o que significa viagens quietas e tranquilas. Da transmissão também não vem ruído algum, pelo contrário: suas trocas só são percebidas com a redução das rotações do motor, e olhe lá. Pela proximidade das relações das 10 velocidades, as vezes nem assim. De tão suave, lembra um câmbio CVT.  

Um V6 extremamente quieto e suave, a caixa AT10 linear como uma CVT, e a mecânica geral bem calibrada: parece um carro de passeio pequeno (Foto: Lucca Mendonça)

Vida a bordo

Para o motorista, a vida a bordo é tão tranquila quanto a dos passageiros, que tem bancos ergonômicos e, na segunda fileira, saídas de ar-condicionado, portas USB e apoio de braço central. Só não deu para escapar do clássico assento traseiro baixo e pouco inclinado, o que obriga os ocupantes que vão lá a viajarem com os joelhos altos, posição não muito agradável. Mas, até aí, hoje não existem picapes desse segmento sem tal problema.  

Porta-trecos, compartimentos, espaços para tralhas: não faltam tamanhos e formatos (Foto: Lucca Mendonça)

Voltemos ao condutor: frente a antiga geração, essa traz um volante menor, combinado com a direção de relação um pouco mais multiplicada e direta. Lembra um SUV grande nesse quesito. A atuação dos freios é suave como a de um carro pequeno, e, mesmo em viagens longas ou após um dia inteiro dirigindo, é praticamente impossível sentir-se desconfortável no posto de condução. Ar-condicionado digital automático de duas zonas muito poderoso e um eficiente conjunto óptico em LED agradam, mas, nessa versão mais cara, faltou um sistema de som mais caprichado e o ajuste de altura dos cintos de segurança dianteiros. 

Tudo fica à mão, mesmo na multimídia vertical, que inclui menus e configurações um tanto confusas. Destaque para o enorme painel de instrumentos digital, competente em informar o motorista, e o acabamento interno elogiável, com materiais considerados “finos” para o segmento. Aliás, sobram porta-trecos, espaços para guardar tralhas e compartimentos de diferentes tamanhos na cabine. Com a maior altura da carroceria, e bancos também mais elevados, ela acaba lembrando a irmã maior F-150. O capô sempre no campo de visão dianteiro reafirma essa teoria. 

Dirigindo

Em curvas rápidas e desvios bruscos de trajetória, ainda falamos de uma picapona com alto centro de gravidade, concepção antiquada (chassi separado da carroceria), e suspensões mais voltadas à robustez do que dinâmica. Mesmo assim, pode-se dizer que essa Ford é comportada e segura, desde que não se abuse muito. Os freios, esses sim, mostraram competência de sobra. Porém, claro, essas caminhonetes se saem muito melhor num atoleiro, ou com 1 tonelada de carga na caçamba, do que fazendo manobras rápidas no asfalto. A pegada é outra.  

E, nessa função de transportar carga ou encarar off-road, ela se mostrou bem competente. Versus a geração anterior, a caçamba cresceu (70 litros, para ser exato), a praticidade aumentou (tampa mais leve, degrau para acessar o compartimento e por aí vai), e colocar e tirar carga do “lombo” da Nova Ranger continua tarefa fácil. Para as aventuras fora-de-estrada, os assistentes eletrônicos modernos são uma mão na roda, e deles a picape da Ford está cheia (seletor de tipos de terreno, controle eletrônico de descidas, câmeras off-road e por aí vai). O maior ângulo de ataque melhora a travessia de obstáculos, e o entre-eixos mais longo, o conforto.  

Caçamba maior, e com quatro pontos de amarração de carga (Foto: Lucca Mendonça)

Rumo à liderança?

É difícil bater o martelo sobre uma futura liderança de mercado dessa Nova Ranger, até porque sua arquirrival Toyota Hilux segue sendo a “queridinha” pela fama de inquebrável, valorização no mercado de usados e revenda fácil. Mas, sem dúvidas, a Ford está muito bem munida, provavelmente mais que algumas das concorrentes. No ranking de picapes médias mais vendidas, depois dela, a terceira colocada está bem longe… 

Ficha técnica:

Concepção de motor: 2.993 cm³, diesel, seis cilindros em “V”, 24 válvulas (quatro por cilindro), turbo VGT intercooler, injeção direta Common Rail, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco em ferro fundido e cabeçote em alumínio
Transmissão: automática com conversor de torque e 10 velocidades, com possibilidade de trocas manuais pela alavanca
Potência: 250 cv a 3.250 rpm
Torque: 61,2 mkgf a 1.750 rpm
Suspensão dianteira: independente, do tipo braços sobrepostos, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo rígido com feixe de molas
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Pneus e rodas: Goodyear Wrangler Territory HT, medidas 255/55 e rodas de liga-leve aro 20
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 5,35 m/1,92 m/1,88 m/3,27 m
Caçamba: 1.250 litros
Capacidade de carga: 1.023 kg
Tanque de combustível: 80 litros
Peso em ordem de marcha: 2.357 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 9,2 segundos
Velocidade máxima: 187 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$346.600 (carro avaliado: RS366.600)

Itens de série:

Ajuste elétrico da altura dos faróis, Bagageiro de teto, Degrau de acesso à caçamba, Estribo Plataforma, Faróis de neblina em LED, Faróis Full LED, Iluminação na caçamba, Lanternas traseiras em LED, Luzes de condução diurna em LED (DRL), Moldura de para-lamas na cor do veículo, Para-barros dianteiros, Para-barros traseiro, Para-choque na cor do veículo, Pneus 255/65 All Terrain, Protetor de caçamba, Retrovisores externos com ajuste elétrico, indicador de direção e rebatimento elétrico, Rodas de liga leve 18″, Santo Antônio esportivo pintado na cor do veículo, Tampa traseira com assistente de abertura e fechamento, Tomada 12V na caçamba, Alerta de acionamento do alarme no celular, Alertas de funcionamento do veículo, Monitoramento da vida útil do óleo, Partida Remota Agendada, Partida remota com acionamento do ar condicionado, Sistema de localização do veículo no celular, Status remoto do veículo (nível do combustível, hodômetro), Travamento e destravamento remoto do veículo, 6 Alto-falantes, AppLink, Assistência de Emergência, Bluetooth, Comando de voz em português nativo, Comandos de áudio no volante, Conectividade Android Auto e Apple Car Play sem fio, 4 Entradas USB, Acendimento automático dos faróis, Ajuste do banco do motorista elétrico em 8 posições, Ar-condicionado automático e digital com controle individual de temperatura para motorista e passageiro, Saídas de ar-condicionado para a segunda fileira de bancos, Bancos com revestimento em couro sintético, Carregador de celular por Indução, Chave com sensor de presença e partida por botão, Descanso de braço traseiro, Painel de instrumentos colorido, configuráveis através de comandos no volante 8″, Retrovisor interno fotocrômico, Sensor de chuva, Tapetes de borracha, Vidros elétricos com abertura/fechamento remotos pela chave e antiesmagamento, Coluna de direção com ajuste de altura e profundidade, Volante com revestimento premium, 6 modos de condução selecionáveis – Normal, Eco, Rebocar/Transp, Escorregadio, Lama/Terra, Areia, Controle automático em descidas (HDC), Diferencial traseiro blocante, Direção elétrica, Freio a disco nas 4 rodas, Freio de mão eletrônico, Navegador Off road, Provisão elétrica de reboque, Sensor de monitoramento de pressão dos pneus (TPMS), Start & Stop, 7 Airbags, Alarme Volumétrico, Alerta de colisão com aviso luminoso e sonoro no painel de instrumentos, Assistente Autônomo de frenagem (com detecção de pedestres), Assistente de permanência em faixa, Câmera de ré, Cintos de segurança traseiros laterais e central de 3 pontos, Controle eletrônico de estabilidade, Farol alto com comutação automática, Frenagem pós-colisão, Limitador de velocidade, Piloto automático, Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, Sistema de reconhecimento de sinais de trânsito, Trava da tampa da caçamba elétrica.

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Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.