(Avaliação) Honda Fit EXL oferece bom conjunto, mas será que vale esperar a nova geração?

Quem pensa no Honda Fit logo imagina um carro que é mais racional do que emocional, mas também com uma história de sucesso no Brasil, e isso não está de todo errado: sendo atualmente um dos últimos monovolumes disponíveis no mercado nacional, o Fit chegou por aqui no primeiro semestre de 2003 para brigar com Chevrolet Meriva, Renault Scénic, Fiat Idea (lançado em 2005), entre outros. Ele tinha como principais predicados o espaço interno, modularidade de seu interior e a segurança, além do baixo consumo de combustível, e, juntamente com a simpatia do seu visual, acabou acumulando boas vendas desde seu lançamento.

Desde então já se passaram quase 18 anos, e, em 2014 esse simpático Honda estreou sua terceira e atual geração. O melhor disso tudo é que ele mantém exatamente as mesmas características da primeira geração de 2003, incluindo uma dinâmica acertada, apesar da dirigibilidade que empolga pouco e do desempenho pouco destacável. Mas como seu foco maior sempre foi a praticidade, ele cumpre muitíssimo bem seu propósito: levar pessoas e objetos de um ponto ao outro.

Foto: Lucca Mendonça

Agora em 2021, a quinta geração do Fit deverá chegar ao Brasil, e, apesar de totalmente nova, ela ainda preserva o conceito básico do modelo atual, com o destaque para um espaço interno ainda melhor e uma nova motorização 1.0 turbo, isso sem contar as inovações tecnológicas. Além dele, está previsto também para 2021 o Novo City, que trará uma inédita versão hatch e deverá complicar a vida do monovolume no mercado nacional. As más línguas, inclusive, dizem que o substituto do Fit aqui nas terras tupiniquins será o City Hatch, e essa tal quinta geração do monovolume nem dará as caras oficialmente no mercado brasileiro. Nesse caso, é esperar para ver…

Depois disso tudo, fica a dúvida: ainda vale a pena comprar um Honda Fit de quarta geração? pra descobrir isso, avaliamos a versão topo de linha EXL, que tenta convencer o consumidor com um conjunto mecânico que gasta pouco combustível e uma lista de equipamentos de série interessante. Toda a gama de versões do Fit é equipada com um único motor: o 1.5 16V, que tem bloco fundido em alumínio e é equipado com a tecnologia i-VTEC. São 115/116 cv e 15,2/15,3 mkgf de torque com gasolina/etanol, disponível a altos 4.800 rpm. A transmissão é automática do tipo CVT nessa configuração mais cara, e esse câmbio continuamente variável costuma priorizar mais a suavidade de funcionamento do que o desempenho. Na prática, o que esse japonês não entrega em força, compensa no baixíssimo consumo: com etanol no tanque, ele chegou a fazer médias de 14,5 km/l a 110 km/h no circuito rodoviário. Isso com o carro parcialmente carregado.

Onde o Fit se sai bem é na modularidade do interior, com o sistema batizado pela Honda de Magic Seat, que também está presente no WR-V e HR-V. São quatro modos de posicionamento dos bancos: Utility (deita os bancos traseiros para transformá-los em uma superfície plana), Tall (para acomodar objetos grandes diretamente no assoalho), Long (rebate os bancos traseiros e deita o do passageiro dianteiro para transportar coisas compridas) e Refresh (os dois bancos dianteiros podem ter os encostos reclinados e ficam da mesma altura do assento traseiro, transformando o interior do Fit em um sofá com chaise, digamos assim). É perfeito para quem quer mesclar espaço e praticidade em um único carro.

Além dessas tais “mágicas” dos bancos, ele tem bom espaço interno no geral: são 2,53 m de entre-eixos e 1,69 m de largura, que garantem uma boa acomodação tanto para quem vai na frente quanto atrás. Um ponto positivo é o túnel central quase plano, perfeito para as pernas de quem vai no meio do banco de trás. Em contrapartida, fizeram falta uma saída de ar-condicionado traseira e porta USB para carregar celulares na segunda fileira, problemas típicos de projetos mais antigos, como no caso desse Fit de quarta geração, que já completa quase 7 anos desde seu lançamento. Nos demais, seu porta-malas agrada, acomodando ótimos 363 litros de capacidade.

O porta-malas comporta ótimos 363 litros (foto: Lucca Mendonça)

Rodando no dia a dia, o Fit agrada, em especial na cidade, com desempenho pacato, mas suficiente. Na estrada, isso muda: falta um pouco de fôlego em subidas e ultrapassagens, principalmente com o carro carregado, e, como o torque máximo só aparece em rotações mais altas, o motor acaba gritando bastante dependendo do quanto se exige dele. Os freios são eficientes, mas na traseira ainda estão presentes os velhos tambores. Por se tratar da versão mais cara, essa EXL poderia oferecer disco nas quatro rodas de série.

Apesar do conceito das carrocerias monovolume terem uma posição de dirigir tipicamente mais altinha, isso não é muito uma característica desse Honda, que passa mais uma sensação de hatch compacto pelos bancos mais baixos. A coluna de direção é ajustável em altura e profundidade, facilitando bastante na hora de encontrar uma posição de dirigir ideal. Ele também agrada bastante na dinâmica geral da carroceria, com respostas rápidas da direção, e boa estabilidade em curvas e desvios rápidos de trajetória. Essa dinâmica bem acertada é resultado, em boa parte, do sistema de suspensões mais rígido, que, em contrapartida, tem um rodar menos confortável, principalmente nos pisos irregulares.

Mesmo oferecendo bastante coisa interessante nessa configuração topo de linha (com destaque para o ar-condicionado automático digital touchscreen; bancos em couro; câmera de ré; faróis Full LED; 6 airbags; controles eletrônicos de estabilidade (ESP) e tração (ASR); assistente de partida em rampas (Hill Holder); retrovisores externos com rebatimento elétrico; rodas de liga-leve diamantadas aro 16; entre outros), o Fit EXL custa caro: são nada mais, nada menos que R$88.200, sem nenhum opcional disponível.

Foto: Lucca Mendonça

Custando essa cifra, ele fica devendo bastante em tecnologia (seriam bem-vindos um sensor de ponto cego ou até mesmo um alerta de colisão, por exemplo), além de alguns equipamentos de segurança, como o monitor de pressão dos pneus (TPMS). Novamente o culpado dessas ausências é a sua idade (em 2014 todos esses itens eram exclusividade de carros bem mais caros, e olhe lá), mas todos esses recursos e mais alguns são oferecidos na sua nova quinta geração. O melhor negócio é mesmo esperar pra ver qual será o futuro do Fit aqui no Brasil, mas isso não tira os méritos dessa quarta geração.

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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.