(Avaliação) Ford Territory Titanium tem o conforto e requinte como seus principais aliados. Vale a compra?

Depois das enormes mudanças sofridas pela Ford do Brasil, que encerrou toda a sua produção nacional (composta por Ka, Ka Sedan e EcoSport), e passou a trabalhar somente com os modelos importados, restou só a picape Ranger, o icônico Mustang, o SUV esportivo Edge ST, e o mais recente lançamento Territory, que passa a ser o carro de passeio mais barato da marca no país. Pelo menos por enquanto.

Bastante polêmico, o Territory é um SUV médio produzido na China pela JMC (Jiangling Motors Corporation), uma parceira oriental da Ford, e chegou ao Brasil com a pretensão de roubar uma fatia do mercado de Jeep Compass, VW Tiguan, Chevrolet Equinox e cia. Seus principais argumentos de venda pra isso? Conforto, espaço interno, requinte e tecnologia. A versão avaliada aqui é a topo de linha Titanium, que traz de série tudo que o modelo tem direito. Ela é realmente uma boa opção dentre os concorridos SUVs médios? Vamos descobrir…

Foto: Lucca Mendonça

De início, é fácil comprovar que o Territory cumpre bem o que promete: o acabamento é de primeira, sem economia nas partes emborrachadas, pouco uso de plástico duro, além de uma boa escolha de materiais do interior, o que deixa ele com um nível de acabamento incrivelmente bom, até mesmo para carros de categorias superiores. Espaço interno desse SUV sino-americano também é generoso, acomodando até 5 adultos com conforto suficiente, merecendo destaque no espaço para as pernas dos passageiros traseiros, além da praticidade do assoalho quase plano. Nas medidas, são 4,58 m de comprimento, avantajados 1,93 m de largura, e bons 2,71 m de entre-eixos.

Ainda na segunda fileira de bancos, as essenciais saídas de ar-condicionado traseiras, porta USB para carregar celular e apoio de braço central estão presentes. E o conforto não fica só por conta do espaço interno: esse SUV da marca do oval azul conquista também pelo rodar macio e silencioso, com uma suavidade digna de sedan grande de marca premium. As suspensões absorvem muito bem os desníveis da pista, evitando ao máximo os sacolejos dentro da cabine, o isolamento acústico é caprichado, e os bancos confortáveis completam o pacote. O contraste fica por conta do pequeno porta-malas, com capacidade de apenas 348 litros, deixando o Territory como lanterninha do segmento dos utilitários médios nesse quesito.

Tecnologia e sistemas de segurança também são pontos fortes. De série, temos piloto automático adaptativo (ACC), alertas de colisão e saída de faixa, sistema de frenagem autônoma, Park Assist, monitor de ponto-cego, câmera 360º, carregador de celular sem fio, bancos dianteiros com aquecimento e ventilação, luzes ambientes em LED, painel digital de 10” e por aí vai. Lembrando que todos esses equipamentos são exclusivos dessa versão topo de linha Titanium, e a configuração de entrada SEL conta com uma lista de itens de série bem mais enxuta.

O interior é refinado, e a oferta de equipamentos é generosa (Foto: Lucca Mendonça)

Além disso, ainda são destaque os bancos em couro (com ajuste elétrico para o motorista), teto-solar panorâmico, retrovisor interno fotocrômico, conjunto óptico Full-LED (faróis baixo, alto, de neblina e lanternas traseiras), chave presencial (para destravamento das portas e partida do motor), sensores de chuva e crepuscular, multimídia de 10” com conexões Android Auto/Apple CarPlay, 6 airbags (dois frontais, dois laterais e dois de cortina) e rodas de liga-leve diamantadas aro 18.

A mecânica não impressiona, mas também não deixa a desejar, estando de acordo com a proposta do carro. Estamos falando de um motor 1.5 Turbo que desenvolve até 150 cv e cerca de 23 mkgf de torque máximo com gasolina, que cresce entre 1.500 e 4.000 giros. Contando com injeção direta de combustível, ele falha apenas por não ser flex. A transmissão é do tipo CVT simulando 8 marchas, com direito a atuação de um conversor de torque nas rotações abaixo de 2.500 rpm, melhorando a dirigibilidade e desempenho nas arrancadas. Segundo a Ford, o 0 a 100 km/h é feito em aproximadamente 12 segundos, com velocidade máxima limitada em 180 km/h.

Até aqui, temos um carro (quase) perfeito, que dispõe de tudo que se precisa quando falamos de SUV familiar. Mas não é bem assim, afinal o Territory tem dois “calcanhares de Aquiles”. O primeiro é o consumo de combustível. Ele bebe, e não é pouco: rodando na estrada a cerca de 110 km/h, o computador de bordo registrou médias de 11 km/l de gasolina, conseguindo subir para 12 km/l caso a velocidade fosse mantida entre 90 e 100 km/h. Na cidade era ainda pior, afinal o trem-de-força tem que trabalhar bastante para mover os 1.630 kg do carro no trânsito urbano: os números oscilavam entre 7,5 e 8,0 km/l de gasolina, sempre com o ar-condicionado ligado. O tanque de combustível tem o mesmo problema do porta-malas, e comporta só 52 litros, o que limita bastante o alcance, ainda mais com essas médias de consumo.

Motor 1.5 Turbo a gasolina: bebe igual gente grande (Foto: Lucca Mendonça)

O outro problema não envolve diretamente o carro em si, mas sim a estratégia mercadológica da Ford para com o modelo. Sendo mais específico, estamos falando de preço: essa versão avaliada, a topo de linha Titanium, custa exorbitantes R$198 mil. Abaixo dela temos a SEL, de entrada, que sai por salgados R$180 mil, mas deixando muito conteúdo de lado.

Vamos analisar: falando da Titanium, são quase 200 mil Reais por um SUV médio recheado de tecnologia e equipamentos, muitíssimo confortável, extremamente espaçoso e com requinte de sobra, correto? Sim, certíssimo. Mas o Territory também é um veículo de apenas 5 lugares, com motor pequeno movido a gasolina, câmbio CVT (que tem construção mais simples e normalmente é usado em carros baratos), sem tração integral, e, para muitos, a sua origem chinesa pesa negativamente na hora da compra (o que não é o caso de quem vos escreve, afinal os chineses já sabem fazer carro melhor até mesmo que alguns ocidentais).

A concorrência é uma coisa que o Territory Titanium tem em peso, e todos normalmente dispõe de mecânicas mais interessantes (por exemplo o motor 2.0 Turbo de 255 cv e câmbio automático de 9 marchas do Chevrolet Equinox Premier), ou carregam mais passageiros (como é o caso do VW Tiguan Allspace e seus 7 lugares), isso sem contar nos modelos movidos a diesel que também encontramos nessa faixa de preço (o Jeep Compass Longitude Diesel, por exemplo, custa pouco mais de R$192 mil e ainda traz um sistema de tração 4×4 cheio de tecnologias). No final, vemos que o Ford Territory Titanium é o tal do carro (quase) perfeito, só que em uma faixa de preço errada. Ah se ele custasse uns R$18 mil a menos…

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.