(Avaliação) Fiat Titano Ranch é picapona à moda antiga para quem não quer gastar muito

A Fiat Titano é um daqueles carros com uma história longa: nasceu na China através da Changan em 2019 e, desde o início, contou com importantes pitacos da Peugeot em seu projeto. A marca do leão, por ser parceira da Changan por lá, logo aproveitou para trazer a picape para a América Latina, mas com outro nome: Landtrek. E a dita cuja só foi parar nas mãos da Fiat por conta da Stellantis, que uniu a marca francesa com a italiana em um só grupo. Cinco anos, três marcas e muitas melhorias depois, temos aqui a Titano, montada no Uruguai com peças vindas da China. 

Powertrain tradicional

Motor e câmbio não são chineses. Aliás, é com essa dupla que a Titano faz bonito quando o assunto é confiabilidade e facilidade na manutenção, dois requisitos básicos na compra de uma picape 4×4. O 2.2 turbodiesel é o HDI DW12, que já tem décadas de produção e “passe livre” pelas oficinas especializadas Brasil afora. Nada de tecnologias desconhecidas, peças difíceis de serem encontradas ou motivos para os mecânicos torcerem o nariz: é o mesmo motor das últimas Fiat Ducato, que rodam aos montes por aí. O mesmo vale para a transmissão, automática com seis marchas e conversor de torque, sem querer reinventar a roda.  

Preço “baixo”

Ainda assim, comprador de picape é daquele tipo sistemático que não aposta em nada fora do trivial (Ranger, Hilux, S10) a não ser que seja um ótimo negócio. Por isso a Fiat jogou os preços da Titano lá embaixo dentro da categoria, usando aquela estratégia que chamam de “comprar mercado”: essa versão das fotos, Ranch topo de linha, sai oficialmente por R$260 mil, só que a maioria das concessionárias trabalha com um desconto permanente de R$30 ou até R$40 mil abaixo da tabela. Falamos, na prática, de R$220 mil, R$230 mil, enquanto uma equivalente na concorrência não sai por menos de R$280 mil. Comparando topo de linha com topo de linha, as rivais passam fácil dos R$300 mil. De qualquer forma, os preços da Titano são bem agressivos para os padrões atuais. 

Oficialmente: R$260 mil por essa Ranch. Na prática: bem menos (Foto: Lucca Mendonça)

Sem pressa

A picape da Fiat não é rápida, e nem pretendia ser. O 2.2 HDI tem força progressiva e constante, principalmente quando a turbina “enche”. No seu primeiro casamento de um câmbio automático com esse motor, a Fiat optou por relações longas das seis marchas, especialmente da 3ª em diante, e as trocas são demoradas. Ao menos, o trabalho da transmissão é bem suave e confortável, mas cobrando o preço das acelerações mais lentas e tocada sem pressa.  

Lembra um pouco as caminhonetes de gerações anteriores, daquelas que trocam o desempenho pela força. Com pessoas a bordo ou peso na caçamba, a Titano praticamente não sente. E esse é seu objetivo, assim como atravessar obstáculos, subir morros, transpor águas baixas, encarar lama e por aí vai. Para quem gosta, um estilo de picape mais raiz. Dá para deixá-la mais esperta fazendo as trocas manualmente, ou então ativando o modo esportivo de condução, porém a pressa tem seu preço: o consumo sobe nitidamente. Aliás, seus três modos de condução são bem pronunciados: o Eco deixa ela lenta para economizar, o Sport sobe o giro e agiliza o câmbio, e o Normal fica no meio desse caminho.  

Economia

Em 90% da semana de testes de mais de 500 km entre cidade e estrada, a Titano rodou no Eco, permitindo média de consumo geral que superou os 11 km/l, bastante animadores. Viajando com pé leve e pista boa, foi fácil passar dos 13 km/l na rodovia, enquanto o consumo urbano rondou sempre os 9,5 km/l, sem trânsito. O marcador de combustível e a autonomia indicada pelo computador de bordo estavam lá para provar: marcas reais.  

Prós e contras

A bordo, surpresas boas e ruins. Dinamicamente falando, ela ainda está um passo atrás das principais rivais, novamente invocando aquele espírito de caminhonete raiz. Treme bastante, não aceita muitas ousadias nas curvas e frenagens, nem parece gostar muito de altas velocidades, mas passa longe de ser insegura ou coisa do tipo, até porque a eletrônica embarcada está lá para ajudar. Uma carroceria que inclina bastante em manobras rápidas, freios não mais do que suficientes e a direção com respostas um tanto lentas denotam sua pegada típica de uma picape mais tradicional. O som de “castanhola” é constante, inclusive com ela em movimento: tem quem goste do ronco de um turbodiesel.  

Robusta, mas…

Por outro lado, apesar de as suspensões não garantirem as melhores curvas ou uma estabilidade direcional de primeira (exige constantes correções de trajetória), a capacidade de absorção da buraqueira agrada, fazendo com que o rodar seja confortável. Mérito, principalmente, do conjunto dianteiro, que foi aperfeiçoado pela engenharia da Fiat. O feixe de molas lá atrás, quando não está assentado por alguma carga da caçamba, contrapõe com sacolejo e pula-pula, problema comum nessas caminhonetes. A sensação de robustez é igual, ou até maior, que a de outros modelos similares nesse quesito. 

Painel lembra muito os Peugeot no design e elementos (Foto: Lucca Mendonça)

Ergonômica

A Titano é boa de ergonomia e acertada na posição de guiar. Os bancos são próprios dela, e acomodam muito bem o corpo, evitando que o motorista saia do prumo. A escolha de espuma dianteira e traseira também é correta, tanto que ela não cansa nem nas viagens longas. Quem dirige conta com ajustes generosos de coluna de direção, assento, encosto e tudo mais, encontrando sem problemas um posto ideal de condução, com comandos próximos da mão, volante de dois raios com boa pega e a visibilidade que não abre espaço para críticas. Porém, a direção hidráulica já poderia ter dado lugar a assistência elétrica, que, dentre outras vantagens, ajuda a economizar diesel.  

Tudo por dentro parece bastante com Peugeot, desde volante até design do painel, com bom gosto e soluções úteis, como vários porta-copos, ganchos para pendurar coisas, apoios de braço para quatro ocupantes e até um velho acendedor de cigarros, que pode ajudar a colocar fogo em outras coisas. Apesar da multimídia de 10” ser rápida e entregar funções bacanas, como GPS online nativo (como um Waze), seu layout de telas e menus deixa clara a origem chinesa, um pouco espalhafatosa. A instrumentação, meio digital meio analógica, já lembra a dos Peugeot, como 208.  

Bom espaço

Cinco vão a bordo dela com conforto, aproveitando a largura maior que a de algumas picapes rivais, cercados por um bom nível de acabamento interno. O espaço para as pernas agrada, mesmo com os bancos dianteiros distantes do painel, e o teto é bem alto. Vantagens do projeto oriental incluem um túnel central baixo e comodidades das saídas de ar e portas USB traseiras, como tanto gostam os chineses. Pena que o ar-condicionado deixe a desejar: demora muito para gelar e parece confuso no modo automático. Talvez um compressor mais potente, ou então um radiador de aquecimento maior, já resolvam.  

Ao trabalho!

Picape que é, a Titano não esquece da parte do trabalho: caçamba e capacidade de carga. O compartimento é longo e largo, tanto quanto o das rivais, com iluminação própria e ganchos para amarrara a carga. Capota marítima e revestimento interno da caçamba também são de série nessa versão Ranch, que carrega pouco mais de 1 tonelada, como de praxe nessa categoria. Só é preciso se acostumar com a tampa pesada para abrir e fechar. O capô é igual: operações que precisam das duas mãos livres. Mais uma vez, tudo remete aquela história de caminhonete tradicional. 

A caçamba é grande, com capota marítima e revestimento interno, mas haja braço para manusear a tampa (Foto: Lucca Mendonça)

Bom negócio?

Se a “pechincha” vale a pena? Se viesse como Changan Kaicene F70, seu nome original, não. Como Fiat Titano, sim. Além das melhorias aplicadas, existe muita expertise da marca italiana por trás, junto das centenas de concessionárias e pós-venda que cumpre seu papel. Sem contar o confiável motor turbodiesel de Ducato. É a melhor de guiar? Não. Tem um desempenho brilhante? Não. Traz o melhor pacote de tecnologias? Também não. Mas, devemos lembrar que tudo isso é “perfumaria” quando se trata de uma picapona turbodiesel 4×4 que leva 1.000 kg, um monte de tralha numa enorme caçamba, mais cinco pessoas com conforto na cabine, tudo isso com consumo moderado e custando bem menos que a concorrência.  

Pra quem curte caminhonetes turbodiesel na sua essência e não quer gastar muita grana para ter uma completona, vale dar uma chance para essa novata.

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Ficha técnica:

Concepção de motor: 2.179 cm³, diesel, quatro cilindros em linha, 16 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta Common Rail, comando de válvulad duplo, bloco em ferro fundido e cabeçote em alumínio
Transmissão: automática com conversor de torque e 6 marchas, com opção de trocas manuais pela alavanca
Potência: 180 cv a 3.750 rpm
Torque: 40,8 mkgf a 2.000 rpm
Suspensão dianteira: independente, duplo A, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo rígido com feixe de molas
Direção: com assistência hidráulica
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Goodyear Wrangler Territory AT, medidas 265/60 e rodas de liga-leve aro 18
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 5,33 m/1,96 m/1,90 m/3,18 m
Caçamba: 1.220 litros

Capacidade de carga: 1.020 kg

Tanque de combustível: 80 litros
Peso em ordem de marcha: 2.097 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 12,4 segundos
Velocidade máxima: 175 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$259.990 (carro avaliado: R$262.480)

Itens de série:

Bancos em couro com ajustes elétricos (motorista e passageiro frontal), barra de proteção do vidro traseiro, barras de teto cinzas, câmera 360° Off-road, capota marítima, rodas de liga-leve diamantadas 18″, estribos laterais cinzas, grade em preto brilhante com moldura cromada, Keyless entry “go” (chave presencial + partida por botão), LED DRL, maçanetas e retrovisores cromados, retrovisores externos com desembacador, retrovisores externos eletricamente rebatíveis, Santo Antônio cromado com detalhes em preto e cinza, sensor de chuva, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, TPMS (monitor de pressão dos pneus), vidros elétricos dianteiros e traseiros (one touch motorista), 6 airbags, alarme antifurto perimétrico, alças de segurança (7 no total), alerta de uso do cinto de segurança do motorista e passageiro dianteiro, 6 alto-falantes + antena, apoios de braço dianteiro e traseiro, apoios de cabeça dianteiros com regulagem de altura (5 no total), ar-condicionado digital automático dual zone, bancos traseiros modulares, bloqueio do diferencial traseiro, brake light, central multimídia com tela de 10″ touchscreen, Apple CarPlay e Android Auto, comandos de voz, Bluetooth, MP3, rádio AM/FM, cintos de segurança retráteis de três pontos (5 no total), computador de bordo TFT colorido 4,2″, piloto automático + limitador de velocidade, desembaçador do vidro traseiro, direção hidráulica, ESP – Controle Eletrônico de Estabilidade, espelho no para-sol lado passageiro, faróis de neblina com detalhes cromados na moldura, função follow me home, freios ABS com EBD, ganchos para amarração de carga na caçamba, ganchos retráteis nas costas dos bancos dianteiros (capacidade de até 4 kg), Gear Shift Indicator (indicador de troca de marcha), Hill Hold Control, Hill Descent Control, iluminação do porta-luvas, ISOFIX e Top Tether, iluminação da caçamba, para-choque traseiro com detalhe cromado, porta-copos dianteiros e traseiros, porta-garrafas/objetos no console central, porta-objetos abaixo dos bancos traseiros, porta-objetos nas portas dianteiras e traseiras, porta-luvas refrigerado, porta-óculos, protetor de caçamba, retrovisores externos com comandos elétricos, saídas de ar traseiras, TC (Controle de Tração), tomada 12V (2 no total), travas elétricas, TSC – Trailer Sway Control, vidros verdes, coluna de direção com regulagem de altura e profundidade, volante multifuncional em couro e acabamento black piano, portas USB frontais e traseiras, faróis em LED (facho normal)

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Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.