(Avaliação) Fiat Strada Endurance cabine simples: feita pra pegar no batente

Depois de 23 anos, a Strada de primeira geração, aquela boa e velha picapinha do Palio, se aposentou oficialmente. Já convivendo com a sua sucessora Nova Strada 2021, a veterana era a porta de entrada para quem queria uma picape Fiat: custava pouco mais de R$65 mil e estava disponível somente na versão “pra firma” Hard Working, com pouquíssimos itens de série. Agora, quem assume esse lugar de configuração “basicona” é a Nova Strada Endurance 1.4 com cabine simples, que custa um pouco mais, mas compensa o preço extra com muitas virtudes.

Essa versão de entrada Endurance é a única que ainda mantém o motor 1.4 8 válvulas flex da família Fire, o mesmo que equipava a geração anterior. Com concepção bastante simples (duas válvulas por cilindro e comando único no cabeçote), ele preza pela manutenção simples e barata, pontos importantes em um carro de trabalho como essa Strada. São 85/88 cv e 12,4/12,5 mkgf de torque disponíveis a 3.500 rpm (gasolina/etanol). O câmbio manual tem 5 marchas, com relações bem curtas pra aproveitar melhor a potência e o torque do propulsor, mas peca pela imprecisão nas trocas, além de fazer bastante barulho.

Nessa versão Endurance, o motor é o conhecido 1.4 8V Fire (Foto: Lucca Mendonça)

Esse conjunto agrada bastante no uso diário, principalmente no circuito rodoviário. O 1.4 Fire desenvolve consideravelmente melhor quando está acima dos 2.500 giros. Nas rotações mais baixas, ele sofre um bocado pra puxar os 1.078 kg dessa Strada Endurance. Em subidas ou ultrapassagens, as reduções de marcha são inevitáveis, estando o carro vazio ou carregado. Na estrada, em velocidades mais altas, a situação é outra: com o motor “mais cheio”, ela anda muito melhor, tem respostas mais rápidas ao comando do acelerador, e, ao redor dos 3 mil rpm, o motor já entrega boa parte da sua força.

A notícia boa é que ela não gasta muito mais combustível que as versões equipadas com o motor 1.3 Firefly: rodando a pouco mais de 100 km/h na rodovia, as médias ficaram entre 13,5 e 14,0 km/l de etanol. No trânsito da cidade, o computador de bordo registrou marcas de até 10 km/l, também com o combustível de cana no tanque. Falando de um motor ultrapassado e pouco tecnológico quando comparado aos modernos 1.0 e 1.3 Firefly, esse 1.4 Fire ainda se mostra bastante eficiente, pelo menos para os modelos de entrada da Fiat (ele também ainda equipa o Grand Siena).

A posição de guiar é bem alta, e pode ser difícil de se acostumar, principalmente para quem tem mais de 1,80 m. Mesmo com o banco regulado o mais baixo possível, a sensação é de se estar dirigindo uma picape grande. O único problema disso é que nada no seu interior é tão alto quanto os bancos: o volante acaba ficando “entre as pernas”, e a alavanca do câmbio baixa demais. Tudo fica meio distante das mãos do motorista. Essa experiência talvez seja melhor para pessoas com menos de 1,87 m de altura, que não é o caso de quem vos escreve.

Ela é áspera no rodar, com um “pula-pula” constante, principalmente pela robusta suspensão traseira de feixe de molas, e a direção tem assistência hidráulica (apesar de não parecer, pelo tanto que é pesada). Mas devemos lembrar que essa versão tem foco no trabalho, então o conforto não é prioridade.

A caçamba é enorme, com ótima litragem e capacidade de carga de até 720 kg (Foto: Lucca Mendonça)

E por falar em trabalho, é aqui que a Strada Endurance mostra para que veio ao mundo. Sua caçamba é um show a parte: são 1,71 m de comprimento por 1,05 m de largura, podendo carregar até excelentes 720 kg de carga. Em litragem, ela não fica muito distante de picaponas como S10 e Hilux cabine simples (1.354 l, contra 1.570 l da Chevrolet e 1.580 l da Toyota). E ela ainda tem o prático “puxadinho” atrás dos bancos (o que a Fiat chama de Cabine Plus), que quebra vários galhos na ida à um supermercado ou no transporte de objetos pequenos, por exemplo. É espaço pra dar e vender.

Quanto ela custa? O que traz de equipamentos?

Sem nenhum opcional, essa Strada Endurance com cabine simples sai por exatos R$72.126, ou seja, aproximadamente R$7 mil mais cara que sua antecessora Hard Working. Já o carro avaliado estava equipado com praticamente todos os extras disponíveis (Pack Multimedia, Pack Safety e Pack Worker, além das calotas aro 15), fazendo o preço saltar para cerca de R$81 mil, isso sem contar a pintura em cinza metálico.

Os itens de série são poucos, mas ela pode ser equipada com vários opcionais (Foto: Lucca Mendonça)

De série, ela conta com ar-condicionado, direção hidráulica, computador de bordo, luzes com função follow me home, iluminação de caçamba, volante com regulagem de altura, preparação para som, protetor de caçamba, controles eletrônicos de estabilidade (ESP) e tração (ASR), assistente de partida em rampas (Hill Holder), e basicamente só. Os opcionais terminam de “montar” o carro, acrescentando alarme, vidros e travas elétricas (inclusos no kit Worker), rádio ou central multimídia, volante multifuncional, sensor de estacionamento traseiro, painel de instrumentos com tela de 3,5”, protetor de cárter, calotas aro 15, capota marítima, e até mesmo os importantes airbags laterais dianteiros (kit Safety). O ideal é sempre dosar a mão nos equipamentos extras, escolhendo somente o necessário para não fugir muito do preço inicial (lembre-se sempre que, na hora da revenda, o preço de um carro usado com ou sem opcionais é o mesmo).

Vale a compra?

Sim, sem dúvidas! A Strada, inclusive, fechou o mês de março de 2021 como o carro mais vendido do país, superando o fenômeno Chevrolet Onix, e as filas de espera do modelo só aumentam. Isso não só prova que ela é uma boa escolha, mas também que essa nova picapinha caiu completamente no gosto do consumidor brasileiro.

Em uma comparação rápida com a concorrência, nesse caso Saveiro Trendline de R$82 mil (com opcionais) e Montana LS de R$79 mil (versão básica), a Nova Strada Endurance CS parece levar vantagem sobre as duas veteranas: a Chevrolet peca pela lista de itens de série bem enxuta, enquanto a Volkswagen oferece até um conteúdo interessante, além do motor 1.6, mas seu projeto muito antigo acaba pesando contra. Nenhuma das duas consegue bater o tamanho de caçamba e capacidade de carga da Strada, e também não contam com a suspensão traseira do tipo feixe de molas, mais adequada para carregar peso.

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.