(Avaliação) Fiat Argo Drive CVT é confortável e econômico, mas vale R$98 mil?
O Argo Drive CVT perdeu um de seus grandes chamarizes de vendas: ele não é mais o carro automático menos caro do Brasil, e passou esse posto para o Citroën C3 You!, equipado com motor 1.0 turboflex. Na realidade, isso é temporário, já que o Citroën está em promoção, e quando ela terminar, seu preço subirá além do Fiat. Outro que está nessa mesma faixa é o Novo Peugeot 208 Allure, com o mesmo powertrain do C3, mas em outra promoção de lançamento que não deve durar muito. Com o C3 promocional por R$96 mil e o Peugeot por R$99 mil, o Argo Drive CVT se “esconde” no meio desse caminho por R$98 mil.
Mas será que o Fiat ainda é uma boa compra? Para responder essa pergunta, precisamos entender um pouco sobre a proposta e fórmula desse carro: ele é basicamente um Argo Drive de entrada que recebeu um “upgrade” com o motor 1.3 Firefly acoplado a transmissão automática CVT, conjunto emprestado do sedan Cronos, e a ideia é justamente oferecer um hatch mais simples com transmissão automática, para quem prefere conforto ao invés de luxo. Atende muito bem o público PCD, por exemplo, já que pretende ser uma compra mais racional do que emocional.
Basta uma olhada para esse Fiat e ele deixa clara sua proposta de “automático barato”, com calotas plásticas ao invés de rodas de liga-leve, ausência de faróis de neblina ou adereços estéticos, simplicidade que continua no interior com bancos de tecido, acabamento modesto e itens de série mais limitados. O carro avaliado conta com um pacote opcional que não existe mais, com vidros elétricos traseiros, sensores de ré, retrovisores externos com ajustes elétricos e outros pormenores, porém hoje é possível incluir o kit S-Design, que oferece esses itens e mais alguns (ar digital automático e chave presencial, por exemplo) por R$4 mil adicionais. Só que aí o carro passa dos R$100 mil.
Não há muito segredo no Fiat Argo, um hatch veterano que já é vendido no Brasil há mais de sete anos sem mudanças relevantes. Ultrapassado? Ainda não. Conta com um visual que pode atrair olhares de alguns quando a cor é diferente (caso do vermelho “bombeiro” do carro avaliado), entrega o esperado no quesito conectividade (a multimídia é rápida e com conexões Android Auto e Apple CarPlay, existem portas USB para quem vai na frente e atrás, além de entrada auxiliar para fones de ouvido) e ainda concilia bem ergonomia, conforto, dinâmica e espaço. Uma receita bem elaborada, tanto que já dá certo há bastante tempo.
Um de seus diferenciais, esse motor 1.3 Firefly é compacto e robusto. Usa corrente de comando, tem só duas válvulas por cilindro, dispensa o duplo comando de válvulas ou variadores de fase para conseguir menores custos de produção e de peças de reposição. Sem contar que o uso extensivo de alumínio no bloco e cabeçote fazem o peso do propulsor ser bem contido, de não muito mais que 100 kg.
Falando de desempenho, faz valer a menor quantidade de válvulas por cilindro e, por isso, também garante muita agilidade do carro no uso urbano: ele arranca rápido (também por conta da calibração imediatista do acelerador eletrônico, com respostas ao menor toque do pedal), consegue ganhar velocidade rapidamente em baixas rotações (o 1.3 tem como característica o bom torque prematuro) e roda macio e progressivo, méritos da transmissão CVT. E, enquanto isso, o condutor se beneficia do câmbio automático: não se cansa trocando marchas no anda e para do trânsito, não precisa lidar com um terceiro pedal, nem fica movimentando a perna esquerda para acionar a embreagem.
Oficialmente, são 98/107 cv de potência com torque que ronda os 13,5 mkgf, números pouco chamativos, mas que deixam o Argo com pique que parece de 1.5 ou 1.6 na cidade, habitat natural dessa versão. Com pouca pressão no acelerador, é possível mantê-lo ao redor dos 2.500 rpm ou até menos, inclusive nas subidas, desde que não haja pressa ou muito peso a bordo. Isso, claro, ajuda no menor consumo de combustível, uma das principais virtudes dessa versão do hatch da Fiat: com trânsito leve no ciclo urbano foi possível beirar os 14 km/l de gasolina, aproveitando os momentos de inércia e descidas, onde o câmbio CVT quase sempre entra em stand-by, atuando pouquíssimo no freio-motor. Com etanol, dá para ficar perto dos 10 km/l na mesma situação.
Já na estrada, aquela ideia de uso urbano e as limitações de potência e torque são mais sentidas, especialmente com mais de três ocupantes a bordo. Nesse caso, por mais que o CVT prefira manter o motor em baixas rotações para poupar combustível, é preciso subir o giro do 1.3 Firefly para perto da sua faixa de força máxima (4 mil giros) em algumas situações, como ultrapassagens ou retomadas rápidas de velocidade. Lembrando que os motores de duas válvulas por cilindro, caso do que equipa esse Argo, não são os que entregam melhor performance na estrada.
E justamente para driblar essas limitações, o conjunto conta com dois aliados importantes: trocas manuais das 7 pseudo-marchas e modo Sport de condução, que agiliza a operação do câmbio e sobe o giro do motor. Nesse estilo de uso mais “esportivo”, o Argo Drive CVT não consegue suas melhores marcas de consumo rodoviário (chegamos até a 17,7 km/l com um ocupante a bordo e A/C ligado nas melhores condições), porém torna-se um pouco mais responsivo e ágil numa situação de vários ocupantes e porta-malas cheio, por exemplo. Embora simule bem as tais sete velocidades no uso comum, é no modo esportivo e com as trocas manuais ativadas que a caixa CVT mais se aproxima de um câmbio automático convencional, passando as “marchas” com precisão e nitidez.
Enquanto isso, os ocupantes precisam se acostumar com um ruído que invade a cabine nas altas rotações, mas o silêncio em baixos giros agrada, o que resulta em conforto e suavidade na cidade. Devemos lembrar que, por ser de uma configuração de entrada, esse Argo não tem a maior quantidade de materiais fonoabsorventes, incluindo aqueles que estancam os ruídos do mundo exterior. O CVT, em contrapartida, surpreende positivamente pela operação praticamente sem barulhos ou trancos. Para quem não sabe, essa caixa automática é fabricada pela japonesa Aisin, e equipa também os Toyota Yaris.
A bordo, como grande desvantagem, o motorista não conta com ajuste de profundidade do volante nessa versão, então os mais altos terão que dirigir com os braços esticados. Bancos dianteiros com espuma e tecido bem escolhidos fazem parte do pacote, mas é típico do hatch da Fiat um assento plano demais, o que reduz o chamado “efeito mergulho”. Porém, com direção levíssima e de comportamento preciso, pedaleira bem posicionada e com peso/atuação corretos e outras vantagens do seu projeto, a exemplo do teto alto e plano ou dos comandos fáceis, guiar o Argo é tarefa fácil. Não é o melhor em ergonomia, mas agrada.
E, além do espaço traseiro interessante para dois adultos e uma criança (apesar das medidas contidas de bitola e entre-eixos, seu interior é bem pensado) e dos 300 litros de porta-malas, se destaca a calibração muito macia e confortável das molas e amortecedores do hatch da Fiat. Eles absorvem com competência os maiores buracos, desníveis e obstáculos, o curso longo do conjunto evita surpresas como pancadas secas e a carroceria fica longe do solo, assim como os parachoques, que praticamente nunca “enroscam” em saídas de garagens ou valetas. Em nosso país de asfalto lunar, muito útil!
Sem contar que a concepção dessas suspensões é comprovadamente robusta, aguentando firme o “batente” diário, tudo isso sem estragar o comportamento dinâmico ou a estabilidade do hatch, ambos neutros e seguros. Um dos melhores testes práticos para tal tipo de carro no Brasil é o uso severo nos transportes por aplicativo e nos táxis, trabalhos que os Fiat Argo exercem aos montes por aí.
Mas, no final, vale a pena? Ok, esse não é o melhor momento para falarmos do custo X benefício da versão Drive CVT. Tendo C3 e 208 por preços promocionais parecidos, ambos levando vantagem no desempenho, tecnologia, equipamentos e, no caso do Peugeot, refinamento, a vida desse Argo anda muito mais complicada. Porém, os dois modelos de marcas francesas vão encarecer, e aí o hatch da Fiat voltará a brilhar um pouco mais nesse mundo de automáticos “baratos”. Por enquanto, existem concorrentes mais interessantes, inclusive no preço, só que o Argo não é promoção…
Ficha técnica:
Concepção de motor: 1.332 cm³, flex, quatro cilindros, 8 válvulas (duas por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, comando de válvulas único no cabeçote, bloco/cabeçote em alumínio |
Transmissão: automática tipo CVT com simulação de sete velocidades e opção de trocas manuais pela alavanca |
Potência: 98/107 cv a 6.250 rpm (gasolina/etanol) |
Torque: 13,2/13,7 mkgf a 4.000 rpm (gasolina/etanol) |
Suspensão dianteira: independente, tipo McPherson, com barra estabilizadora |
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais |
Direção: tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica progressiva |
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira |
Pneus e rodas: Continental EcoContact 6, medidas 185/60 e rodas de aço com calotas aro 15 |
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,00 m/1,72 m/1,57 m/2,52 m |
Porta-malas: 300 litros |
Tanque de combustível: 47 litros |
Peso em ordem de marcha: 1.150 kg |
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,2/12,1 seg. (etanol/gasolina) |
Velocidade máxima: 174/170 km/h (etanol/gasolina) |
Preço básico: R$97.990 (carro avaliado: R$99.880) |
Itens de série:
Hill Holder, Banco do motorista com regulagem de altura, Banco do passageiro com bolsa porta objetos no encosto, modo Sport de condução, Central Multimídia UCONNECT de 7″ Touchscreen com Android Auto e Apple Car Play, Bluetooth, entradas USB (2) e Sistema de reconhecimento de voz; Segunda porta USB traseira, Controle eletrônico de tração e estabilidade (TC + ESP), Iluminação do porta-luvas e porta-malas, Maçanetas e capas dos retrovisores externos na cor do veículo, Piloto automático, Rodas de aço 15″ com calotas integrais, Volante multifuncional, Aerofólio traseiro integrado a carroceria, Alarme antifurto, Alertas de limite de velocidade e manutenção programada, Ar–condicionado analógico com filtro antipólen, Banco traseiro rebatível, Brake Light e ESS (Sinalização de frenagem de emergência), Chave canivete com telecomando para abertura das portas, vidros e porta-malas, Cintos de segurança dianteiros e traseiros retráteis de 3 pontos, Computador de Bordo, Desembaçador do vidro traseiro temporizado, Direção elétrica progressiva, Encostos de cabeça traseiros (laterais e central), Função Follow me home dos faróis, Gancho universal para fixação cadeira criança (Isofix), Airbag duplo (motorista e passageiro), Freios ABS com EBD, TPMS (Monitoramento de pressão dos pneus), Limpador e lavador dos vidros dianteiro e traseiro com intermitência, Luz diurna de seguranca – Daytime running lights (DRL), Quadro de instrumentos 3,5″ multifuncional em TFT personalizável, Repetidor lateral de direção nos retrovisores, Retrovisores externos com comando interno mecânico, Tomada 12V, Travas elétricas nas portas e porta–malas com travamento automático a 20 km/h, Vidros elétricos dianteiros com one touch e antiesmagamento, Volante com regulagem de altura