(Avaliação) Citroën C3 Live 1.0: honesta porta de entrada para o mundo dos 0 km

Quer um carro 0 km pra largar mão de vez do Uber ou do transporte público? Se você não for bom de pechincha, ou não encontrar alguma promoção por aí, prepare-se para desembolsar pelo menos R$74 mil. Esse é o preço básico dos dois subcompactos Renault Kwid e Fiat Mobi. Mas, colocando cerca de R$3 mil extras, já dá para andar por aí de Citroën C3! Terceiro carro 0 km menos caro do Brasil, ele é maior, (muito) mais espaçoso, de projeto mais moderno e, talvez, até mais equipado. Em resumo, por uma diferença adicional de menos de 5% no preço, dá para pegar algo bem melhor que um subcompacto.  

O C3 prata que você vê nas fotos é um Live Pack, de R$85,4 mil, mas o Live de entrada é idêntico por fora. Só que, por dentro, a multimídia dá lugar a um rádio AM/FM com Bluetooth e porta USB, e saem de cena alguns enfeites cromados no painel, ajuste de altura do banco do motorista, volante multifuncional e alto-falantes traseiros, basicamente. 

Pelado? Que nada! Tem até alguns “luxos”… (Foto: Lucca Mendonça)

Mesmo assim, passa longe de ser um carro pelado. Na Live de R$77 mil ainda é de série o poderoso sistema de ar-condicionado, uma macia direção elétrica, o conforto dos vidros dianteiros e das travas elétricas, a praticidade da tampa do porta-malas com destravamento elétrico, além de computador de bordo, limpador e desembaçador do vidro traseiro, monitor de pressão dos pneus e até o “luxo” de espelhos nos dois parassóis internos. Todos os equipamentos você confere no final da matéria.  

Não há muito erro na sua fórmula mecânica. Debaixo do capô vai o valente e econômico motor 1.0 Firefly, de três cilindros e seis válvulas. Simples no projeto, justamente para não dar trabalho, é o mesmo motor que move os Fiat Argo e os Peugeot 208 de entrada. Em breve estará também no Mobi. São 71/75 cv de potência com 10,0/10,3 mkgf de torque (gas/eta), muito bem administrado pela transmissão manual de cinco marchas com relações próximas e bem pensadas (primeiras marchas curtas para melhorar o desempenho, com 4ª e 5ª mais longas para silêncio e economia). 

Por ter apenas duas válvulas por cilindro, é justamente nas velocidades, e rotações, mais baixas que o C3 Live desenvolve melhor. Ou seja, na cidade, seu habitat natural, há uma boa desenvoltura em retomadas, saídas de semáforos, e até mesmo na hora de encarar subidas. O baixo peso é aliado, fazendo com que o motorista “sofra” pouco a bordo do hatch no uso urbano. Ainda assim, é bom lembrar: ele é ágil e desenvolto, mas 1.0. O foco não é performance, e sim economia. Aliás, maneirando na velocidade e adiantando as trocas de marchas, é possível passar dos 14 km/l de gasolina na cidade.  

E, sim, esse C3 encara viagens, até porque é espaçoso para quatro ocupantes e tem um porta-malas generoso para a categoria (315 litros, superando VW Polo, Fiat Argo, Chevrolet Onix e outros). Em maiores velocidades, especialmente com o carro cheio, vai pedir uma redução de marcha a fim de manter o ritmo em subidas, e as ultrapassagens serão mais demoradas, afinal ainda falamos de um “milzinho” com motor de duas válvulas por cilindro e sem variador de fase no comando da admissão. Rodando em média a 100 km/h, com apenas o motorista a bordo e ar-condicionado ligado, chegamos à média de 19,8 km/l pelo computador de bordo. Ótimo! 

E, se comparado aos C3 1.0 avaliados anteriormente, ainda da “fornada” de lançamento, fabricação 2022/modelo 2023, essa unidade produzida em 2024 mostrou-se mais “ajustada”, digamos assim: sua carroceria não apresentou ruídos de torção na região das portas (característica comum nas primeiras unidades), e é nítido o avanço do nível de silêncio a bordo, provavelmente pela adoção de mais mantas acústicas espalhadas pelo monobloco.  

O habitáculo dos passageiros está mais quieto, com uma invasão bem menor do ronco do motor e ruídos da transmissão manual, e até os sons do mundo exterior são menos ouvidos pelos ocupantes do hatch. Não é nenhum Rolls-Royce, e nem pretende ser, mas prova que evoluiu, como deve ser. 

Qualidades valiosas do C3 incluem a proposta de hatch altinho, com suspensões erguidas e robustez pra encarar o dia a dia (Foto: Lucca Mendonça)

Outras vantagens desse Citroën caem bem na sua proposta de hatch urbano. Suas molas e amortecedores tem curso elevado, e combinam com os ângulos bem abertos de ataque e saída, ou seja, não é um carro que vai sofrer com a buraqueira, nem tampouco raspar parachoques ou bater o assoalho, mesmo naquelas maiores lombadas, valetas ou rampas de garagem. Dá até para pegar um fora de estrada leve com ele.  

A máxima de “tapete voador” da marca francesa existe aqui também: os níveis de conforto e absorção dos impactos do piso chamam a atenção para um hatch de entrada, que se diferencia por usar pneus largos (195) e altos (65). Além de macio e estável, com eles o C3 fica até mais robusto no visual, que lembra um pouco os SUVs. 

Por dentro, bastante espaço, outra qualidade interessantíssima desse Citroën (Foto: Lucca Mendonça)

Aliás, a Citroën usa bastante dessa fórmula: “hatch com atitude de SUV”, como a própria diz. Apesar de essa versão Live trazer bancos dianteiros mais simples e menores, com encostos de cabeça embutidos, a posição das pessoas a bordo é altinha e ergonômica. Especialmente o motorista, que se sente em um carro mais alto, enxergando o capô a maioria do tempo. Os condutores que gostam de um posto mais esportivo vão sentir falta dos ajustes de altura do volante e banco, mas, para sua proposta, tudo parece estar no lugar. Com 1,87 m de altura, consegui me instalar com braços pouco esticados até o volante e pernas em posição correta em relação a pedaleira, sobrando vários dedos livres até o teto. 

Agradam o nível baixo do pedal da embreagem, fazendo com que o carro arranque no menor curso do pedal, e a maciez tradicional dos freios, suficientes para a proposta de hatch de entrada. As rodas esterçam bastante, o que facilita as manobras, porém a relação de direção é das mais desmultiplicadas, com voltas extras do volante de batente a batente. Seu câmbio é o Fiat C513, e traz consigo o trambulador de comportamento “molenga” e macio, para a alegria de alguns e tristeza de outros. As passagens são fáceis, também por conta da alavanca alta e “na mão”, só que a ré arranha com frequência ao engatar.  

Gostou? Basta visitar uma concessionária da fabricante francesa para vê-lo de perto. Melhor ainda é adquiri-lo online, conseguindo assim alguns descontos dados pela própria Citroën: ela está vendendo pela internet os C3 Live Pack iguaizinhos ao das fotos por pouco mais de R$78 mil em uma promoção até o início de novembro. De qualquer forma, para quem quer um 0 km honesto, fugindo dos subcompactos, vale a pena pelo menos um test-drive.  

Ficha técnica:

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 6 válvulas (duas por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, comando de válvulas único no cabeçote, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: manual de 5 marchas + ré
Potência: 71/75 cv a 6.000 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 10,0/10,7 mkgf a 3.500 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Cinturato P1, medidas 195/65 e rodas de aço com calotas aro 15
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 3,98 m/1,73 m/1,60 m/2,54 m
Porta-malas: 315 litros
Tanque de combustível: 47 litros
Peso em ordem de marcha: 1.037 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 14,1/15,0 segundos (etanol/gasolina)
Velocidade máxima: 160 km/h (etanol/gasolina)
Preço básico: R$85.390 (carro avaliado: R$86.990)

Itens de série:

Abertura elétrica da tampa de combustível, airbags frontais – condutor e passageiro, apple car play® e android auto® sem fio, alto falantes dianteiros, alto falantes traseiros e tweeters dianteiros, ar-condicionado manual, banco motorista com regulagem em altura, brake-light traseiro, chave tipo canivete com controle de abertura remoto, multimídia citroën connect touchscreen 10″, comandos de som no volante, computador de bordo, ESP – Controle Eletrônico de Estabilidade, TC – Controle Eletrônico de Tração, ESS – Alerta visual de Frenagem de Emergência, GSI – Indicador de Trocas de Marchas, Hill Holder – assistente de partida em rampa, indicadores de direção laterais nos retrovisores externos, TPMS – Monitor de Pressão dos Pneus, limpador e desembaçador do vidro traseiro, luzes diurnas halógenas, para-sol com espelhos internos, rodas em aço 15″ com calotas, 1 porta usb dianteira (carga + dados), travamento automático das portas com veículo em movimento, travas manuais de segurança para crianças das portas traseiras, vidros elétricos dianteiros 

Compartilhar:
Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.