(Avaliação) Citroën Basalt T200 é SUV “sedanizado” com bom custo X benefício e economia

A Citroën quer incomodar com o Basalt, seu mais novo lançamento e grande aposta para vender bastante. O carro, além disso, tem também uma missão importante: substituir o C4 Cactus, que já está para pendurar as chuteiras após quase sete anos de produção. E o Basalt faz tudo isso encerrando a trinca de projetos que também incluiu C3 Hatch e C3 Aircross, os chamados C-Cubed, todos feitos para países em desenvolvimento. Até por conta da ideia “popular”, seus preços são atrativos: essa versão Shine T200, a topo de linha, não passa dos R$116 mil. Isso em tempos de Fiat Fastback ou VW Nivus por mais de R$153 mil… 

Sedan, notchback, SUV, coupé

Mas o que chama a atenção no Basalt é sua proposta: meio notchback (aqueles sedans de traseira curta, como o Ford Escort), meio crossover, meio SUV coupé. Tanto é que, há cerca de dois anos, ele era reconhecido como um sedan compacto que seria baseado no C3 Hatch. Porém, nesse meio do caminho, partiram para um SUV coupé com jeito de sedan. E, surpreendentemente, trazendo linhas harmoniosas e equilibradas, diferente de alguns outros concorrentes. No design, agrada bastante gente. No restante, também parece ser fruto de um projeto bacana.  

Formas e linhas do Basalt geram dúvidas quanto ao segmento, mas agradam no geral (Foto: Lucca Mendonça)

Mecânica conhecida

Não há nada de novo na mecânica, que mescla motor Fiat (1.0 turboflex de até 130 cv de potência e 20,4 mkgf de torque), transmissão automática Aisin (CVT que simula sete marchas), suspensões Citroën “abrasileiradas” (mantém a maciez e conforto com maior robustez para encarar nosso piso), uma direção elétrica leve e desmultiplicada (mais voltas de batente a batente) e freios que seguem a suavidade das suspensões (com segurança para estancar o Basalt). Mesmíssimo trem-de-força dos C3 Aircross e do C3 Hatch topo de linha.  

T200: acertado

Como ele trabalha nesse coupé? Bem, obrigado. O motor T200 é conhecido por despertar cedo, com torque total ao redor dos 2 mil giros (e bastante força abaixo disso, também), o que deixa as acelerações e retomadas vivas. O pouco turbolag e a calibração esperta do acelerador eletrônico completam o time com agilidade, enquanto o câmbio CVT escorrega pouco e simula bem as sete velocidades programadas. É um dos que melhor executa essa missão, aliás, principalmente no modo de trocas manuais. 

No uso, o Basalt aproveita seu peso menor que o do Aircross, por exemplo, para ter mais desenvoltura, mesmo com três ou mais ocupantes a bordo. Curiosamente, a Stellantis divulga o mesmo tempo de aceleração para ele e para a minivan, mas é nítida uma maior disposição para acelerar e ganhar velocidade no coupé. Na cidade, o CVT mantém o 1.0 turboflex na sua faixa de força máxima, ao redor dos 2 mil rpm, ou seja, em baixas rotações. Nessa toada, inclusive, o silêncio a bordo é elogiável, e os mais de 20 quilos de torque do motor já estão disponíveis. Boa!

A condução também é tranquila na estrada, mantendo o conta-giros em números baixos (aproximadamente 2.200 rpm a 120 km/h). O CVT, bem acoplado ao 1.0 turboflex, fica esperto para subir o giro quando o motorista pisa fundo, e desperdiça pouca força do conjunto (mais uma vez, mérito da pouca “patinação” e sete “marchas” simuladas com precisão). Assim como em qualquer SUV 1.0 turboflex que se preze, se houver alguma situação de falta de força, ela ocorre com o carro pesado, cheio de ocupantes e malas. E, nesse caso, o modo Sport de condução está lá para ajudar, assim como a seleção manual das velocidades.

(Bem) econômico

Enquanto isso, a economia de combustível é mérito de vários fatores: motor pequeno e moderno com injeção direta, superalimentação, CVT que mantém as rotações baixas, baixo peso e pouco arrasto aerodinâmico (Cx ao redor de 0,28). Com gasolina, como no carro avaliado, conseguimos chegar aos 12,6 km/l na cidade, beirando os 18,0 km/l na estrada, mantendo pé leve e modo Sport desligado. Em 585 km rodados entre cidade e estrada, o cálculo geral foi de 13,3 km/l, sempre bebendo gasolina.

Mesmo não tendo o maior tanque, o baixo consumo faz o combustível render mais lá dentro (até 644 km de autonomia com gasolina, segundo o INMETRO). Em contrapartida, aquele problema da “falta de comunicação” entre marcador de combustível e autonomia declarada pelo computador de bordo, já visto nos Aircross, continua no Basalt: um parece marcar dados totalmente diferentes do outro, com o marcador sendo bem mais preciso e fiel à realidade.

Painel digital de 7″ é completo e bonito, mas a autonomia informada não costuma condizer com a realidade (Foto: Lucca Mendonça)

Robusto

E, guiando, encontra-se a receita já vista nos seus irmãos do projeto C-Cubed: carroceria altinha, com grande altura livre do solo e ângulos interessantes de ataque/saída, combinando com suspensões que transmitem robustez e bastante conforto para os ocupantes, que sentem pouco as imperfeições da pista. Não é um carro que “reclama” da nossa buraqueira, nem bate seco ao atravessar lombadas ou valetas em altas velocidades. Lembra o acerto encontrado nos Fiat, o que cai bem pelo histórico de robustez e durabilidade das suspensões da marca italiana.  

Parachoques do Basalt são próprios, mas conservam os bons ângulos de ataque e saída. A altura do solo também é generosa, como nos outros carros do projeto C-Cubed (Foto: Lucca Mendonça)

Esse coupé da Citroën até enfrenta algum off-road leve pelas qualidades ditas ali em cima (altinho, parachoques angulados), mas seu habitat natural é mesmo o asfalto. Se precisar, também contorna curvas rápidas em segurança, com pouca rolagem lateral da carroceria e controle do motorista mesmo quando próximo do seu limite. Não, esses Citroën não instigam uma tocada mais esportiva ou ousada como os Peugeot, mas garantem que tudo fica sob controle e “na mão” de quem dirige. Curiosa a escolha de pneus desenvolvidos para SUVs maiores, diferentes dos mais “urbanos” que estão nos C3 Hatch e Aircross.  

Mais Aicross do que C3

No geral, o Basalt parece se inspirar mais na minivan Aircross do que no C3 Hatch, o que é bom (Foto: Lucca Mendonça)

Em praticamente todos os parâmetros, o Basalt está mais para Aircross do que para C3 Hatch. Leia-se no silêncio a bordo (o coupé é até mais quieto que a minivan), no conforto térmico (nessa versão Shine, o ar digital automático é de série), na leitura dos instrumentos (aquela complicada telinha monocromática dos C3 Hatch aqui dá lugar a um painel de 7” com vários dados e informações), na melhor iluminação interna (existem luzes individuais para bancos dianteiro e traseiro) e até no acabamento (agrada com cores, formatos e texturas, apesar de muito plástico). 

Espaço de sobra

E aí chegamos em duas das principais qualidades desse Citroën: excelente espaço interno e um gigantesco porta-malas. O segundo, com 490 litros de capacidade, é acessado pela enorme tampa traseira, que ergue também o vidro e abre uma “boca” que permite a entrada de objetos grandes, como cadeiras, mesas compactas, vasos de plantas e por aí vai. Bastante prática, e o melhor: mesmo grandona e unindo vidro com lata, a tampa do porta-malas não era fonte de barulhos ou batuques no carro avaliado. Aliás, assim como nos C3 de produção mais recente, o Basalt não sofre com rangidos de torção pela carroceria. No geral, é muito silencioso.  

E se não fosse a largura da carroceria limitada pela família C3, o Basalt seria um carro para levar cinco adultos com folga. Afinal, o espaço para as pernas é colossal, principalmente no banco traseiro, lembrando o Nissan Versa de primeira geração. Mesmo com bancos do motorista e passageiro dianteiro colocados no limite máximo do trilho, ainda sobra um generoso vão para as pernas dos ocupantes da segunda fileira. Com 1,87 m, eu consegui “sentar atrás de mim” com pelo menos quatro dedos de folga até chegar na parte de trás do encosto dianteiro. Dá para viajar de perna cruzada! 

A posição altinha dos dois confortáveis bancos dianteiros, acima do nível do assento traseiro, também garante um espaço generoso para os pés de quem viaja atrás, que ainda conta com um teto alto (a caída da carroceria coupé só ocorre depois do encosto traseiro). A vida a bordo só não beira a perfeição pois não há saídas de ar-condicionado traseiras. Em compensação, ali vão duas portas USB para carregamento rápido de celular e um porta-copos.  

Personalidade

A escolha pelo forro de teto em tom claro, e por um vidro traseiro amplo, que não atrapalha o campo de visão do motorista, deixam a vida a bordo mais arejada e passam a sensação de amplitude. Suas janelas laterais são praticamente do mesmo tamanho das do C3 Hatch, o que faz as colunas C parecerem até maiores do que realmente são. Até para disfarçar, nelas vão fixadas acabamentos com apliques coloridos, na mesma cor de alguns detalhes do parachoque dianteiro. Nessa Shine T200 é bronze, mas cada versão tem sua própria cor. 

SUV “sedanizado”

Se ele vai suceder o Cactus com o mesmo sucesso, ainda é um mistério. Se vai vender tão bem quanto a Citroën espera, também. O certo é que, qualidades o Basalt tem: não é caro frente a concorrência, tem motorização moderna e eficiente, é bom de andar, gasta pouco, traz bons itens de série e, principalmente, tem espaço interno e porta-malas que surpreendem. Pois é, parece que essa tal receita de SUV “sedanizado” é inteligente… 

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Ficha técnica:

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 12 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, comando de válvulas único no cabeçote, variador de fase no escapamento, MultiAir, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: automática tipo CVT com simulação de sete marchas e opção de trocas manuais na alavanca
Potência: 125/130 cv a 5.750 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 20,4 mkgf a 1.750 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Goodyear Wrangler Territory HT, medidas 205/60 e rodas de liga-leve aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,34 m/1,82 m (retrovisores rebatidos)/1,58 m/2,64 m
Porta-malas: 490 litros
Tanque de combustível: 47 litros
Peso em ordem de marcha: 1.191 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 9,9/9,7 segundos (gasolina/etanol)
Velocidade máxima: 198 km/h (etanol)
Preço básico: R$115.890 (carro avaliado: R$117.490)

Itens de série:

1 porta USB dianteira + 1 tomada 12v no painel, 2 portas USB de carregamento rápido para 2ª fileira, 4 airbags (2 frontais + 2 laterais dianteiros), Alarme periférico, 6 Alto-falantes, Antena de teto, 2 apoios de cabeça com abas no banco traseiro, Ar-condicionado automático e digital, DRLs em LED, Assistente de partida em rampa – Hill Assist, Banco do motorista com ajuste de altura e apoio de braço, Bancos com revestimento premium (couro sintético), Bancos traseiros laterais com fixação Isofix® e Top Tether, Bancos traseiros com rebatimento de assento e encosto, Câmera traseira, Capas dos retrovisores em preto brilhante, Chave tipo canivete com controle de trava das portas, Freios ABS, ESP (controle eletrônico de estabilidade), TC (controle de tração), EBD (corretor de frenagem eletrônico), Apliques na cor bronze na grade frontal e na coluna C, Direção elétrica progressiva, Coluna de direção com ajuste de altura, Faróis de neblina halógenos, Indicador de temperatura externa, TPMS – sensor de pressão de pneus, Piloto automático com limitador de velocidade, Maçanetas externas na cor da carroceria, Maçanetas internas na cor prata, Modo Sport de condução, Multimídia de 10″ com espelhamento Android Auto e Apple CarPlay sem fio, Painel de instrumentos digital com tela TFT personalizável de 7″, Protetor de para-choques (skid plates) dianteiro e traseiro, Retrovisores externos com ajustes elétricos, Rodas de ligaleve aro 16 diamantadas, Sensores de estacionamento traseiros, Travamento automático das portas e do porta-malas com veículo em movimento, Vidros elétricos dianteiros e traseiros com função “one touch” e antiesmagamento, Volante multifuncional com revestimento premium, Cabine com luzes de leitura dianteiras e traseiras 

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Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.