(Avaliação) BYD Song Pro DM-i: como anda o futuro híbrido plug-in nacional?

O Song Pro não pode, nem deve, ser confundido com o Song Plus: o primeiro é mais ou menos como a geração anterior do segundo, que foi modernizada e continua em produção lá na China como alternativa mais em conta. Por aqui, o Song Pro custa até R$200 mil, ainda bem abaixo dos R$240 mil cobrados pelo Plus. Plataforma, conceito mecânico, motorização e até as baterias são iguais nos dois carros, o que torna o negócio mais atraente. 

O Pro também será Made in Brazil a partir de 2025, enquanto o Plus demorará um pouco mais. A BYD do Brasil já anunciou que a produção nacional do Song Pro começa no ano que vem, e que ele deverá ser o primeiro carro brasileiro da marca, antes dos outros híbridos e dos 100% elétricos. Com motor flex e tudo, mantendo a tecnologia híbrida plug-in. Pioneiro, afinal só temos híbridos convencionais feitos em solo nacional, e não esses plug-in, com baterias grandes e recarga em fontes externas.  

De 2019, mas não parece

Apesar de ser fruto de um projeto do final dos anos 2010, o Song Pro não aparenta idade. Também passou por boas reestilizações nesse período, e deverá ganhar mais plásticas no momento de se tornar brasileiro. Tanto no exterior quanto no interior, que já exibe o mesmo padrão de design e acabamento dos carros mais modernos da marca chinesa. Também teve o powertrain atualizado, com tudo que há de mais moderno na BYD, incluindo as baterias Blade grandes, com até 18,3 kWh de capacidade, caso dessa versão GS avaliada, a mais cara.

Milagres de consumo 

Graças a elas, o Song Pro consegue alguns milagres, como rodar mais de 500 km em uso misto com menos de 12 litros de gasolina, o que equivale a 42,5 km/l, consumo de moto. O segredo está na autonomia que atingimos com a carga cheia dessas baterias: 98 km no ciclo urbano ou cerca de 72 km na estrada, isso no modo EV de condução, sem gastar nem uma gota de gasolina.  

Seria até possível ir além, mas, ao redor dos 17% de carga das baterias (18 km de alcance pelo painel) ele prefere mudar automaticamente para o modo HEV. Aí o 1.5 a gasolina entra em cena, queimando um pouco de combustível líquido. Um pouco, já que a função principal do motor a gasolina é abastecer as baterias, como um gerador, por isso só ajuda a mover o carro quando se exige máxima performance do conjunto. E quem traciona o Song Pro? Um motor elétrico dianteiro com quase 200 cv de potência e 30,6 mkgf de torque, que se alimenta dos 18,4 kWh das baterias.  

Superlativos

Todo esse esquema é coordenado por várias centrais, módulos e cálculos eletrônicos. Mas o motorista tem a liberdade de escolher entre rodar como 100% elétrico (desde que haja pelo menos 17% de carga), ou então manter ligado o 1.5 a gasolina, carregando as baterias e ajudando a mover o carro com seus quase 100 cv. Na prática, são vários números superlativos, a começar pelos 235 cv de potência combinada e torque conjunto que chega aos 43 mkgf, com gasolina e eletricidade.  

Nem dá para imaginar, mas temos um SUV de aparência pacata que acelera junto de hatch esportivo (Foto: Lucca Mendonça)

Rodando na estrada no modo híbrido, já com baixa carga das baterias, ele indicou 19,3 km/l de gasolina, o que significa 1.000 km de autonomia sem reabastecer. Se adicionarmos os 72 km só no modo elétrico, falamos em pelo menos 1.070 km de alcance com um tanque cheio + carga completa. Vai longe, muito longe.  

EV na cidade, HEV na estrada

O bacana do Song Pro é ter autonomia para 100 km como elétrico na cidade, e levar sempre um tanque para 52 litros de gasolina e motor 1.5 a combustão (Foto: Lucca Mendonça)

Para o dia a dia é possível usar o Song Pro como um 100% elétrico na cidade, rodando assim quase 100 km por carga, e na hora de viajar ele ainda pode ter 52 litros de gasolina no tanque para queimar. E, o melhor: com carregador portátil de tomadas 220V residenciais, de série, em oito horas ou menos já é possível chegar aos 100% de carga novamente. É colocar para carregar a noite e ter as baterias cheias de manhã, para rodar outros 100 km. 

Em nossos testes, rodamos 98 km com uma carga na cidade, e basta deixá-lo plugado na tomada por menos de oito horas para tê-lo com mais 100 km de autonomia elétrica (Foto: Lucca Mendonça)

E assim utilizamos o Song Pro, deixando a gasolina do tanque apenas para trajetos mais longos nos 720 km de testes. É fato que, com isso, ele acaba “levando para passear” o motor 1.5 aspirado, bem como a transmissão automática e-CVT, com engrenagens planetárias, e o tanque de 52 litros cheio de gasolina, mas temos a garantia de bastante autonomia para viajar, se for preciso. Poderia, apenas, ter um sistema de regeneração de energia mais poderoso em desacelerações e frenagens. Quem sabe, até um one-pedal seria bem-vindo.

Pique de elétrico

 

E nesse esquema operacional, onde quem manda é o motor elétrico de quase 200 cv, entra o desempenho imediato do Song Pro, como nos carros 100% elétricos. Ele já “acorda” ao menor toque do acelerador, e tem força disponível em diferentes velocidades, sem demora para combustão ou transmissão. Lembrando que quem move esse SUV é sempre o motor elétrico, com alguma (pequena) ajuda do 1.5 a gasolina, e não o contrário. Por isso ele consegue acelerar junto de um Renault Sandero R.S. ou outro hatch esportivo semelhante, o que é ótimo nas situações de ultrapassagens com o carro cheio. É forte e rápido. 

Além do refinamento construtivo das suspensões independentes nas quatro rodas, todos os freios a disco e porte digno para a categoria (pode ser até maior que o Song Plus, dependendo), o Song Pro traz o estilo típico de SUVs mais tradicionais. Teto plano e longo, um balanço mais longo na parte traseira e pegada de “perua altinha”, por conta das linhas mais horizontais, deitadas.  

Teto plano, carroceria longa e bom entre-eixos, tudo significa um amplo espaço interno (Foto: Lucca Mendonça)

Espaço e ajustes

Esse estilo acaba se traduzindo em um interior espaçoso, especialmente no banco traseiro, onde três adultos não sofrem tanto para viajarem lado a lado. O teto alto e reto, bem como o assoalho plano, facilitando a movimentação interna, ajudam na melhor vida a bordo, e há saídas de ar e apoio de braço dedicados ao banco traseiro. Enquanto isso, a configuração única de interior, mesclando preto com creme e marrom claro, deixa a cabine com aparência mais clean e ampla. Suja bem mais, em contrapartida. 

O motorista tem inúmeras regulagens para banco, volante e cinto de segurança, e o banco traseiro permite acertar a inclinação do encosto, inclusive com rebatimento. Rebatido, vale falar, ele fica no mesmo nível do assoalho do generoso porta-malas de 520 litros declarados e tampa elétrica. Em resumo, a vida a bordo é fácil, ainda mais pelos comandos de voz, multimídia conectada com a internet e apps nativos, como Spotify ou uma espécie de “Waze chinês”. Em matéria de conectividade, os chineses dominam. 

Porta-malas de 520 litros é amplo, com tampa elétrica e piso elevado (Foto: Lucca Mendonça)

Assim como no irmão maior Song Plus, existem outras praticidades bacanas no Pro, como o controle do ar-condicionado também por botões do volante (informações de temperatura ajustada e nível do ventilador replicadas no painel de instrumentos), e até um interessante odômetro total separado para modo elétrico e modo híbrido (no carro avaliado, com cerca de 6 mil km, eram quase 50% EV e 50% HEV). O acabamento beira a perfeição, algo comum na marca: esmero na montagem, bons materiais e aspecto premium. 

Sim, ele tem pontos passíveis de melhora, como nos bancos dianteiros: são bonitos e com abas laterais generosas, mas pecam pelo assento muito plano e encosto curto. Motoristas mais altos, por exemplo, precisam se contentar com o encosto de cabeça embutido “terminando” logo acima da nuca. O encosto traseiro, curiosamente, é mais ergonômico nesse quesito.  

Particularidades do Pro

Dinamicamente, existem características diferentes de outros BYD. Talvez pela particularidade do projeto mais antigo do Song Pro. Uma delas é a direção elétrica bastante leve, que endurece pouco mesmo nas altas velocidades, apesar do comportamento direto. Ela tem um modo de assistência esportivo que a deixa mais “durinha” e pode amenizar o problema. As manobras são fáceis, já que as rodas esterçam bastante sem tantas voltas do volante, sem contar sensores de estacionamento e câmeras por todos os lados. 

Esse interior modernizado surgiu em uma grande atualização de 2023 (Foto: Lucca Mendonça)

As suspensões também são bem macias e com curso longo, deixando o carro apto a enfrentar nossa buraqueira com conforto elogiado pelos passageiros. Porém, alto e macio, o Song Pro não surpreende nem anima motoristas ousados na hora de contornar curvas. É seguro, nada além, nem aquém. Nisso, o Song Plus mostrou melhor comportamento geral, inclusive quando falamos dos pneus: embora ambos usem Giti, o jogo de F50 do Song Pro mostrou menos aderência em pista seca, “cantando” bastante nas arrancadas e curvas rápidas. Os 225 V1 do Plus se saíram melhor nos nossos testes, inclusive quanto ao maior silêncio de rodagem. 

Versão mais em conta

Falando dessa versão mais cara, a GS de R$200 mil, ela dispensa teto-solar, piloto automático adaptativo e assistentes de condução (ADAS), porém compensa com itens exclusivos, como o sistema de ajustes do banco traseiro, a multimídia rotativa e bem rápida, os comandos de voz, ou o prático assoalho totalmente plano. A lista de itens de série completa vai no final da matéria, e, quem tiver menos “bala na agulha”, a versão GL de entrada pode atender tão bem quanto, embora traga menos luxos por R$10 mil a menos no preço final. 

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Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.498 cm³, gasolina, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão, bloco e cabeçote em alumínio + motor elétrico dianteiro e conjunto motor de arranque/alternador. Baterias de íon-lítio com 18,3 kWh de capacidade.
Carregamento: entrada tipo 2, via eletropostos, wallbox ou tomadas residenciais, com duração mínima de 3 horas. Regeneração de energia durante condução.
Transmissão: automática tipo CVT (planetária + duas engrenagens)
Potência: 235 cv (combinada combustão + eletricidade)
Torque: 43 mkgf (combinado combustão + eletricidade)
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, multilink, com barra estabilizadora
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Giti Comfort F50 Advanztech, medidas 225/60 e rodas de liga-leve aro 18
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,74 m/1,86 m/1,71 m/2,71 m
Porta-malas: 520 litros
Tanque de combustível: 52 litros
Peso em ordem de marcha: 1.735 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,9 segundos
Velocidade máxima: 185 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$199.800

Itens de série:

Faróis de neblina traseiros, Ajuste manual da altura do farol, Faróis com acendimento automático, Luzes diurnas LED, Conjunto óptico em LED (faróis e lanternas), Função “Follow Me Home” (iluminação temporizada após desligar o carro), Painel de instrumentos de 8,8″ em LCD, Volante multifuncional, Carregamento sem fio para celular, Tomada 12V dianteira, Bancos com revestimento premium sustentável, Bancos traseiros bipartidos rebatíveis com ajuste de inclinação do encosto, Ajuste elétrico do banco do motorista em 6 direções, Sistema ISOFIX de fixação de cadeira infantil, Interior Ajuste elétrico do banco do passageiro em 4 direções, Iluminação ambiente interna multicolor, Sistema de direção assistida elétrica (C-EPS), Freios ABS, Controle de tração, Sistema de distribuição eletrônica da força de frenagem, Assistência de partida em rampas, Função de frenagem confortável, Controle de cruzeiro, Sistema direto de monitoramento de pressão dos pneus (TPMS), Controle Eletrônico de Estabilidade (VDC), Freio de estacionamento eletromecânico, Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, Chave presencial, Ajuste da coluna de direção em altura e profundidade, 6 airbags, Cintos de segurança dianteiros com pré-tensionamento e limitação de força, Aviso sonoro de cinto de segurança do motorista não afivelado, Aviso de cinto de segurança traseiro não afivelado, Desbloqueio elétrico da tampa do tanque de combustível, Abertura elétrica da tampa do porta-malas, Desembaçador elétrico do vidro traseiro, Retrovisores externos com rebatimento elétrico e desembaçador, Aviso sonoro de uso do cinto de segurança (Todos os ocupantes), Limpador de parabrisas intermitente, Sistema DiLink, Atualização remota por OTA (Over-the-Air), Pacote de internet 4G, GPS integrado, Conexão Bluetooth e espelhamento Apple CarPlay e Android, Comandos de voz (“Hi BYD”), Multimídia flutuante rotativa de 12,8”, Câmera 360º com projeção 3D do veículo, Compatibilidade com cartão NFC, Sistema de som com 6 alto-falantes, 4 Entradas USB (3 tipo A + 1 tipo C), Ar-condicionado automático digital dual zone, Saídas de ar para o banco traseiro, Filtro de ar PM2,5 

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Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.