(Avaliação) BYD Seal EV é bem mais que um 0 a 100 km/h brutal

Quem conhece minimamente o segundo sedan da BYD vendido no Brasil, o Seal, sabe do seu poder de aceleração: 3,8 segundos no 0 a 100 km/h. De fato, ele deixa comendo poeira alguns Porsche e até pode arrancar junto de Lamborghini e Ferrari. Muito, muito rápido mesmo, e quem olha o classudo três volumes chinês nem imagina o quão esportivo ele pode ser. Com tração integral permanente, freios a disco ventilado nas quatro rodas e suspensões independentes com amortecedores adaptativos, então…temos uma fórmula de respeito.  

Mas, muita gente já contou, mostrou, provou e experimentou dos seus mais de 530 cv de potência e 60 mkgf de força imediata extraída dos dois motores elétricos, um em cada eixo. Por isso, vale contar que o Seal vai muito além do 0 a 100 km/h brutal e da performance de superesportivo sem ser um: é um carrão luxuoso, quase executivo, de porte dos últimos VW Passat e Ford Fusion importados, que custa três centenas de milhar (R$300 mil). Parece caro, só que não existem similares na relação custo X benefício.  

Espaçoso

Em sete dias e 680 km, ficou clara a meta da BYD para com esse sedan: ser uma alternativa elétrica aos tradicionais das grandes fabricantes (VW Jetta GLI, Honda Civic eHEV, Mercedes Classe C, Audi A3 Sedan e BMW Série 3), porém caprichando na performance, tecnologias, nível de acabamento e, principalmente, espaço interno. O Seal tem uma das maiores distâncias entre-eixos dentre os três volumes vendidos no Brasil, com mais de 2,9 m, o que leva a uma disposição bem mais “folgada” dos seus componentes internos (bancos, painel e afins) e, consequentemente, melhor acomodação aos cinco ocupantes.  

Tanto quem vai na frente quanto quem vai atrás tem um enorme vão livre para as pernas, e a largura da carroceria permite três passageiros traseiros com pouco aperto de braços e ombros. O carro é baixo e tem teto abaulado (características ótimas para o arrasto aerodinâmico, tanto que seu Cx é de apenas 0,22), porém, o uso do teto panorâmico em vidro libera alguns milímetros a mais na altura da cabine. Até pessoas altas podem se acomodar ali atrás sem “cabecear” o teto de vidro. Ele não tem persiana retrátil, mas a BYD oferece como acessório uma persiana de instalação manual para os dias de solzão quente. De qualquer forma, o vidro tem uma proteção térmica, que dá muito bem conta do recado.

No capricho

O capricho interno é democrático: materiais macios pra todos os lados, couro sintético e camurça, acabamentos aluminizados, black piano, tudo de bom gosto, na frente ou atrás. Todos os assentos, inclusive, ficam em posição baixa e rentes ao assoalho, que é totalmente plano, como esperado em um carro elétrico. Os chineses não brincam mais quando o assunto é esmero interno dos seus carros: no Seal, até a parte interna da tampa do porta-malas traseiro é totalmente revestida com uma peça acarpetada.  

O bom acabamento e mordomias continuam no banco traseiro (Foto: Lucca Mendonça)

Apesar do pênalti de ter hastes articuladas na tal tampa, os chamados “pescoços de ganso”, que roubam espaço das bagagens, até elas são revestidas em plástico. Não há lata aparente no compartimento traseiro de 400 litros, que se beneficia mais pela profundidade do que pela altura ou “boca” para colocar e tirar objetos. No total, são 453 litros de espaço para bagagens, compras, tralhas e outros itens no Seal: os outros 53 provém de um espaço dianteiro, sob o capô, onde o carregador portátil de 220V, item de série, também pode ser guardado. Outro que cabe na frente é o kit de reparo dos pneus, já que não há estepe.  

Baú dianteiro tem 53 litros: cabe o carregador portátil, kit de reparo de pneus e mais algumas compras de supermercado, por exemplo (Foto: Lucca Mendonça)

Executivo e bom de viajar

Por essas e outras, o sedan elétrico da BYD atende com méritos o público executivo, aquele que vai sentado no banco traseiro com um motorista particular ao volante. As grandes baterias ainda permitem viagens mais longas ali e acolá, até com a família e suas malas: em nossos testes, os 82,5 kWh de capacidade deram conta de mais de 400 km de alcance na estrada (aproximadamente 5,0 km/kWh), sempre mantendo o competente ar digital automático dual zone ligado, e com até três a bordo. Nem é preciso falar que qualquer sedan híbrido ou a combustão consegue ir bem mais longe, só que aqui falamos do mundo dos 100% elétricos.

Vale falar que o modo de condução mais utilizado durante os testes com o carro foi o Eco, que “corta” mais ou menos pela metade a força do sedan. E, mesmo assim, ele continua muito rápido, com 0 a 100 km/h aferido de menos de 7,5 segundos nesse caso. Também foi no Eco que conseguimos superar com sobra a autonomia oficial pelo ciclo europeu WLTP durante o uso urbano, na cidade: a BYD fala em 520 km, porém, acompanhando as médias de consumo de eletricidade e o nível de carga das baterias, seria possível cerca de 560 km em condições mais favoráveis.  

Por motivos óbvios, e técnicos, não fizemos os testes reais rodando até a carga se esgotar completamente, porém seguimos o indicado pelo painel do Seal, como faz qualquer consumidor comum. Ainda assim, falta para ele um sistema de condução One Pedal, aquele que permite guiar só dosando a pressão no acelerador, usando muito pouco o pedal do freio: por mais que a regeneração de energia dos dois motores elétricos seja forte (maior que o de qualquer Dolphin, Song ou Yuan), o One Pedal garantiria ainda mais conforto ao motorista e faria o carro gastar menos.  

(Aero) dinâmica

Mas, sem dúvidas, essa autonomia interessante, que pode até aumentar nas melhores condições, só é possível graças as soluções aerodinâmicas aplicadas no sedan, como a longa e fluída frente em cunha, as rodas mais “fechadas”, sua parte inferior parcialmente “lisa”, além de parachoques com melhor direcionamento do ar, spoiler traseiro e afins. Até as maçanetas das portas, que se recolhem automaticamente com o carro em movimento, fazem a diferença. Os retrovisores externos atrapalham nesse caso, só que compensam com a grande ajuda na condução ou em manobras mais apertadas. 

Parachoque traseiro também trabalha bem com o ar (Foto: Lucca Mendonça)

E, falando em condução, da mesma forma que o sedan da BYD acelera como um canhão para a frente, consegue contornar curvas e frear com muita segurança. Até porque, de nada adianta um carro rápido que não consegue desviar nem parar com a mesma agilidade. Sua tração integral é permanente e controla, de forma automática, a distribuição da força dos dois motores elétricos para cada uma das quatro rodas. Como em todo carro AWD, só esse sistema já torna qualquer condução mais esportiva e segura. A baixa altura do solo, bem como os largos pneus Continental, contribuem para uma inclinação mínima da carroceria e melhor aderência ao piso.  

E entra nesse time o sistema de suspensões independentes nas quatro rodas, onde uma não interfere diretamente no comportamento da outra, os amortecedores com carga variável (se endurecem quando é preciso, melhorando o comportamento dinâmico) e os quatro freios a disco ventilados, que evitam acúmulo de calor e tem menos tendência ao chamado “fading”. Dá para “brincar” bastante a bordo desse sedan elétrico, sempre com segurança, embora ele prefira mais um perfil de condução suave, macio e progressivo, típico de carros de luxo.  

Dois usos

Na verdade, até pela possibilidade de regulagem de vários parâmetros de condução (nível de regeneração, peso da direção, respostas do pedal do acelerador e por aí vai), e pelo posto de direção bem ajustável (bancos e volante, em diferentes direções), dá para extrair do Seal dois perfis de carro: um sedan luxuoso e confortável, ou um esportivo preciso e extremamente ágil. É um daqueles exemplos de veículo que serve para ir tomar sorvete com a família num domingo ensolarado, ou acelerar pra valer nas pistas de competição. Sem o ronco de um motor a combustão, infelizmente, mas com extremo silêncio a bordo.  

Perfeito? Não

Lados ruins? Sem dúvidas existem, afinal nenhum carro é perfeito. Uma das maiores do Seal é o curso curto das molas e amortecedores, prejudicando seu comportamento nos piores pisos ou em áreas esburacadas, o que é esperado em um sedan desses. Porém, pela carroceria próxima do solo, a condução com esse BYD precisa ser cuidadosa, já que ele “enrosca” os parachoques com frequência nas maiores lombadas, valetas e rampas. O assoalho também fica na mira desses mesmos obstáculos: santos sejam os protetores das baterias Blade, que evitam danos a elas nessas pancadas. Com peso a bordo, seja mais pessoas ou carga no porta-malas, atenção dobrada.  

Outro ponto que não agrada a todos é a concentração de comandos e funções na multimídia rotativa: desde regulagem de temperatura do ar-condicionado, resfriamento ou aquecimento dos bancos dianteiros, ajuste de altura dos faróis ou memórias do posto de condução do motorista, muita coisa só é acessada por lá. O aparelho não abre espaço para críticas por ser rápido como um smartphone moderno e intuitivo nos menus, só que parte do público trocaria os toques na tela por controles em botões físicos. 

Alguns controles importantes centralizados na multimídia também não agrada a todos (Foto: Lucca Mendonça)

Além do 0 a 100 km/h

A gigantesca lista de itens de conforto, comodidade, segurança e tecnologias de série é só mais uma dentre tantas qualidades do sedan elétrico da BYD, que fecha as contas com muito mais vantagens do que “mancadas”. Um carro muito rápido, sem dúvidas, mas que também garante notas altas em outras matérias além do 0 a 100 km/h… 

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Ficha técnica:

Concepção de motor: elétrico, duplo (dianteiro e traseiro), com refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de lítio-ferro-fosfato instaladas no assoalho, capacidade de energia de 82,5 kWh
Carregamento: entrada Tipo 2, carga via eletropostos (de 60 min. a 12h30min, dependendo da força), Wallbox (12h30min) ou tomadas 220V residenciais ( aprox. 48h). Regeneração de energia configurável durante condução.
Potência: 531 cv (combinada)
Torque: 60,2 mkgf (combinado)
Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, multibraço, com barra estabilizadora
Direção: assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e traseira
Pneus e rodas: Continental EcoContact 6Q, medidas 235/45 e rodas de liga-leve aro 19
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,80 m/1,87 m/1,46 m/2,92 m
Porta-malas: 453 litros (frontal + traseiro)
Alcance: 520 km (ciclo WLTP) ou 372 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 2.185 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 3,8 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$299.800

Itens de série:

Trava elétrica da portinhola de recarga, Maçanetas eletricamente embutidas, Abertura e fechamento elétricos da tampa do porta-malas, Conjunto óptico full LED, Proteção inferior para powertrain e bateria, Grade dianteira com iluminação, Luzes diurnas (DRL) em LED, Luzes de direção dinâmicas na traseira, Iluminação do porta-malas em LED, Espelhos retrovisores externos com desembaçador elétrico, Rodas de liga-leve de 19 polegadas Carregamento de smartphone sem fio, Aquecimento e ventilação para bancos dianteiros, Apoios de braço centrais dianteiro e traseiro (este com porta-copos duplo), Encostos de cabeça dianteiros integrados ao banco, Banco do passageiro dianteiro com ajuste elétrico de 6 posições e suporte de lombar com ajuste elétrico de 4 posições, Banco do motorista com ajuste elétrico de 8 posições e apoio de lombar com ajuste elétrico em 4 posições, Banco do motorista com memória de posição, Sistema ISOFIX de fixação de cadeira infantil, Comandos de som e computador de bordo no volante, Espelho retrovisor interno fotocrômico, Tomada 12V dianteira, 2 entradas USB dianteiras (1 Tipo A e 1 Tipo C), 2 entradas USB traseiras (1 Tipo A e 1 Tipo C), Para-sóis de motorista e passageiro dianteiro com espelho e iluminação, multimídia com tela flutuante rotativa de 15,6″, Sistema de navegação GPS online, Conexões Android Auto e Apple CarPlay sem fio, Conexão de rede 4G, Sistema de som Dynaudio com 12 Alto-falantes, Sistema de purificação de ar do gerador de íons negativos + purificação de ar de esterilização, Ar-condicionado automático digital dual zone, Saídas de ar traseiras, Chave presencial com partida por botão, Ligação remota do ar-condicionado, Freio de mão eletromecânico, Sistema auto hold, Seletor de modos de condução: Sport, Normal, Eco, Feedback do sistema regenerativo, 8 Airbags, Lembrete de afivelamento do cinto de segurança para os cinco ocupantes, Câmera 360º com imagens panorâmicas HD, Detecção de ponto cego, Assistente de Frenagem Emergencial, Sistema de Controle de Tração, Sistema de Controle de Estabilidade (ESP), Distribuidor Eletrônico de Frenagem, Assistente de Partida em Rampa, Piloto automático adaptativo com limitador de velocidade (ACC), Aviso de colisão frontal e traseira, Alerta de colisão lateral frontal, Sistema Direto de Monitoramento da Pressão dos Pneus (TPMS), Frenagem de impacto lateral dianteiro (FCTB), Sistema de regeneração de energia em frenagens, Amortecedores adaptativos, Direção com assistência elétrica progressiva, Coluna de direção ajustável em altura e profundidade

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.